FUNASA CAMPEÃ EM INTOXICAR SEUS TRABALHADORES
Nos últimos sete anos em que a contaminação se manifestou, seu corpo foi definhando, até prostrá-lo na cama, de onde não mais se ergueu. Há dez dias, a circulação sangüinea estancou de vez na perna direita. Alegando apenas que se tratava de uma doença "cardio-vascular", sem investigar as origens, o médico amputou a perna na altura do joelho.
Mário Wilson mora numa rua estreita do bairro São Francisco. Por ironia, os muros de algumas casas vizinhas ainda exibem pinturas de jogadores e slogans da última Copa do Mundo. Na última quarta-feira, ele recebeu a visita do cunhado Aldo Moura e dos repórteres de A GAZETA. Tentou levantar da cama para receber as visitas. Não conseguiu, começou a chorar um choro contido, sentido. De modo geral, os pacientes desabafam, choram muito. Ou de dores, revolta e mesmo como mais uma seqüela da intoxicação, que provoca distúrbios mentais e emocionais.
Por gestos, porque a contaminação do inseticida afetou também a laringe e lhe roubou a fala, disse que estava bem. Não estava. Sua mulher, dona Albanita Moura da Silva, contou que, além da circulação, ele se queixa de dores nos quadris, provavelmente, provocadas pelo mau funcionamento dos rins. A mulher fez questão também de levantar o lençol que o cobria. A pele seca, encerada, pregava nos ossos.
Definitivamente, Mário Wilson não estava bem. Tanto é que na sexta-feira, teve que ser internado outra vez no Hospital Santa Juliana. Com as ataduras da primeira cirurgia ainda supurando, o diagnóstico do médico foi mais cruel ainda: a circulação não voltara, seria necessário amputar o resto da perna na altura da virilha.
Ao dar a notícia, o cunhado Aldo Moura, que vem acompanhado a agonia de Mário Wilson nesses sete anos e a de outros companheiros, não disse quem "será o próximo". Também, não precisava.
Com o feijoense José Lacerda, que morreu na madrugada de sábado, o desfecho foi mais rápido. Segundo a mulher Rosilda, que o assistiu até a última hora, ele foi internado no dia 10 de julho. Ainda conseguia andar, falar. O médico que o assistiu, porém, disse que ele tinha câncer na coluna, tumor na cabeça, que "não adiantava operar; estava sem jeito".
Mesmo que o médico, mais uma vez, não lhe tenha dito ou pelo menos procurado investigar, através de exames laboratoriais, a verdadeira causa de tantas complicações, dona Rosilda sabia que o marido "estava (mesmo) sem jeito". Preocupada com os dois filhos ainda pequenos, uma menina de apenas um ano, e o menino de oito, queria apenas que a ajudassem a transportar o corpo do marido até Feijó. Magoada, desabafou:
- Este foi o pagamento que ele teve por mais de vinte anos de serviço na Sucam e passar até de três, quatro meses na mata borrifando as casas, para salvar os outros da malária".
Depois de anunciar a nova internação do cunhado Mário Wilson e a morte de José Lacerda, a lista do incansável Aldo Moura ainda não estava completa. Na sexta-feira, soubera que outro ex-guarda também havia dado entrada no Santa Juliana.
Lá se foi ele. No leito 117, encontrou o velho amigo João Martins de Souza, 62 anos. Apesar de todas as evidências sobre os males causados pela intoxicação, a desinformação é também um mal entre os próprios pacientes e seus familiares. Como outros ex-guardas, João Martins já não consegue falar nem andar, o rosto parece esculpido em cera.
Porém, o filho Jorgenei, que o assistia naquela tarde, admitiu que, no começo, achava tratar-se apenas de uma pneumonia, que o pai estava inclusive melhor. Só nas últimas semanas é que soube, através de algumas notícias publicadas nos jornais, que a pneumonia do pai não é uma simples pneumonia contraída por um resfriado, mas que pode ser um edema pulmonar.
Aliás, o amigo Aldo Moura parece saber mais sobre o ex-guarda do que o filho, ao informar que o conhece de longa data e que durante 16 anos o viu trabalhar diretamente em contato com o inseticida na tarefa da borrifação. Só, então, o filho Jorgenei lembra que, quando ainda falava, o pai se queixava de dores de cabeça, tonturas e insônia.
Afirmar que a contaminação pelo Dicloro-Difenil-Tricloroetano, o DDT, pode causar distúrbios mentais seria, talvez, uma temeridade ou exagero. Não é. Na tarde daquela mesma sexta-feira, Aldo Moura fez questão de levar os repórteres de A GAZETA até ao bairro da Estação Experimental. Preveniu, entretanto, que talvez não conseguissem "uma boa entrevista". Em uma das tantas ruelas que cortam o bairro, Aldo Moura e os repórteres encontraram José Pereira dos Santos, outro ex-guarda e mais um de sua lista.
Surpreendentemente, naquele dia, o ex-guarda se mostrava lúcido. Só com muita dificuldade de articular as palavras. Quase inaudível, contou que durante mais de 20 anos "mexeu com o veneno", que seus problemas começaram com tonturas e fortes dores de cabeça, chegando a perder a consciência por alguns tempos.
Como sentisse também "formigamento" nas pernas, achou que se devia aos períodos de longa exposição com a água, nas travessias dos igarapés e igapós, para chegar até à casa dos seringueiros e colonos.
Atualmente, tem consciência que foi o DDT que o intoxicou, embora, ao ir buscar tratamento em Goiânia, o médico achou graça de sua voz rouca e o apelidou de "goguento", em alusão ao "gogo", doen-ça que ataca as galinhas. Mais um médico, um doutor, que na sua imperdoável ignorância, não sabe que a contaminação pelo DDT provoca também tosse, rouquidão e irritação laringotraqueal.
Responsáveis poderão ser presos em flagrante caso persista a morosidade no cumprimento das decisões judiciais
O juiz federal David Wilson de Abreu Pardo exarou decisão acolhendo manifestação do Ministério Público Federal no Acre (MPF/AC) na ação civil pública que trata da prestação de atendimento a servidores da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) vitimadas pelo contato com o DDT. A decisão foi motivada por pedido do MPF/AC para que houvesse efetivo cumprimento de ordens judiciais anteriores para a formulação do plano de atendimento e indicação de entidade idônea para o diagnóstico dos possíveis enfermos. São réus na ação o estado do Acre, a União e a Funasa.
Na manifestação do MPF, acolhida pelo juízo, ficou demonstrado que o estado do Acre não cumpria o determinado pela Justiça ao indicar atendimento aos pacientes apenas uma vez por semana, em turno único. Assim, o primeiro atendimento dos 720 servidores com suspeitas de contaminação poderia levar mais de oito meses, período em que os contaminados poderiam perecer sem qualquer atenção. Neste ponto a Justiça ordenou, agora, que o estado apresente plano razoável de atendimento em prazo de cinco dias, ou a condenação a atender a todos no prazo máximo de dois meses, conforme o pedido do MPF.
Em outro ponto demonstrado, o juiz federal reconheceu que o toxicologista anteriormente indicado para compor a comissão é pessoa vinculada à Funasa de longa data, justamente por emitir pareceres que favorecem ao órgão, assim sendo, não poderia ser o único a fazer o diagnóstico, ficando o estado obrigado a contratar o Instituto de Saúde Coletiva da Universidade do Rio de Janeiro (IESC/UFRJ) para figurar como auxiliar do juízo no diagnóstico dos pacientes e na avaliação das medidas implementadas pelos demandados.
A Justiça deu, ainda, prazo de 30 dias para que os demandados apresentem os resultados dos exames toxicológicos, e 90 dias para apresentação dos demais exames (clínicos, neurológicos, oncológicos).
A União, bem como o estado do Acre, ainda deverão se justificar em cinco dias sobre outras deficiências apresentadas pelo MPF, como: falta de assistência logística de hospedagem a pacientes que precisem se deslocar para realizar os exames, fornecimento de medicamentos, falta de atendimento itinerante a pacientes que não possam se deslocar, criação de equipe multidisciplinar especificamente para o atendimento, entre outras.
Caso a decisão não seja cumprida, o juiz alerta que serão aplicadas sanções legais cabíveis, inclusive a prisão em flagrante dos agentes públicos responsáveis pelos órgãos, além da multa prevista.
* Informe da Procuradoria da República no Acre, publicado pelo EcoDebate, 05/11/2009
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
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Servidor contaminado por DDT pode ser indenizado com R$ 100 mil
A Câmara analisa o Projeto de Lei 4973/09, da deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), que concede indenização de R$ 100 mil aos servidores da extinta Superintendência de Campanha de Saúde Pública (Sucam) – atual Fundação Nacional de Saúde (Funasa) – que tenham sido contaminados pelos inseticidas Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT) e Malathion.
O benefício é estendido aos descendentes diretos ou cônjuges das eventuais vítimas de contaminação que tenham morrido.
A proposta obriga o Poder Público a realizar exame toxicológico em todos os servidores ativos e inativos que trabalharam direta ou indiretamente com as substâncias e, caso a contaminação seja detectada, garantir tratamento médico às pessoas afetadas.
A autora da proposta argumenta que várias pessoas que trabalharam com os inseticidas morreram ou estão em precário estado de saúde, precisando de tratamento médico e de indenização “em razão dos altos custos de tratamento, da queda na qualidade de vida e da incapacidade operacional para o trabalho”.
Entre as consequências do contato com os inseticidas estão inquietação, desorientação, alterações do equilíbrio, ataxia (descoordenação dos movimentos musculares voluntários), aversão à luz, dor de cabeça intensa e persistente, fraqueza, vertigem, depressão do centro respiratório, coma e até morte.
A inalação dessas substâncias pode causar sintomas como tosse, rouquidão, irritação da laringe e traqueia, edema pulmonar e bradipneia (lentidão anormal da respiração).
Quando ingeridos, costumam produzir náuseas, vômitos, diarreia e cólicas abdominais e, a longo prazo, perda de peso, anorexia, anemia leve, tremores, hiperexcitabilidade, ansiedade, dor de cabeça, insônia, fraqueza muscular e dermatoses.
O uso do DDT foi proibido em 1985 em lavouras, mas continuou a ser usado até 1998 em campanhas de saúde pública.
Estou colocando este exemplo, para aqueles que não acreditam, que o Diflubenzurom devera fazer com quem for manipula-lo, o mesmo que fez com os nossos companheiros do Acre e do Pará. Paguem para ver!
TRABALHADORES DA EXTINTA SUPERINTENDÊNCIA DE
CAMPANHAS DE SAÚDE PÚBLICA (SUCAM) E DA ATUAL FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE
(FUNASA) QUE FORAM CONTAMINADOS PELOS INSETICIDAS
DDT (DICLORO-DIFENIL-TRICLOROETANO) E
MALATHION.
Contaminados
pelo DDT, mais de 40 ex-guardas da Sucam já morreram; o último no sábado passado
José
Lacerda, 59 anos, morreu na madrugada do último sábado dia 05/08/2008, no
Hospital Santa Juliana. Sua morte seria mais uma entre tantas, se não suscitasse
uma pergunta insólita: "quem será o próximo?".
Ao prometer que iria denunciar o problema
na Câmara Federal e levá-lo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a deputada
perguntou o que o ex-guarda pediria ao presidente.
Com
um esforço sobre-humano, porque já está com as mãos e pernas praticamente
paralisadas, mal consegue também articular algumas palavras, o ex-guarda apertou
forte a mão da deputada, balbuciou:
-
Piedade!
De
todas as doenças que o Dicloro-Difenil-Tricloroetano, o DDT, pode causar em
humanos e animais com sua contaminação - edema pulmonar, câncer, cirrose,
doenças car-diovasculares, distúrbios mentais, tosse, rouquidão e outras - o
ex-guarda Mário Wilson da Silva parece ter sido acometido de todas, tal o estado
lastimável em que se encontra.
Nos últimos sete anos em que a contaminação se manifestou, seu corpo foi definhando, até prostrá-lo na cama, de onde não mais se ergueu. Há dez dias, a circulação sangüinea estancou de vez na perna direita. Alegando apenas que se tratava de uma doença "cardio-vascular", sem investigar as origens, o médico amputou a perna na altura do joelho.
Mário Wilson mora numa rua estreita do bairro São Francisco. Por ironia, os muros de algumas casas vizinhas ainda exibem pinturas de jogadores e slogans da última Copa do Mundo. Na última quarta-feira, ele recebeu a visita do cunhado Aldo Moura e dos repórteres de A GAZETA. Tentou levantar da cama para receber as visitas. Não conseguiu, começou a chorar um choro contido, sentido. De modo geral, os pacientes desabafam, choram muito. Ou de dores, revolta e mesmo como mais uma seqüela da intoxicação, que provoca distúrbios mentais e emocionais.
Por gestos, porque a contaminação do inseticida afetou também a laringe e lhe roubou a fala, disse que estava bem. Não estava. Sua mulher, dona Albanita Moura da Silva, contou que, além da circulação, ele se queixa de dores nos quadris, provavelmente, provocadas pelo mau funcionamento dos rins. A mulher fez questão também de levantar o lençol que o cobria. A pele seca, encerada, pregava nos ossos.
Definitivamente, Mário Wilson não estava bem. Tanto é que na sexta-feira, teve que ser internado outra vez no Hospital Santa Juliana. Com as ataduras da primeira cirurgia ainda supurando, o diagnóstico do médico foi mais cruel ainda: a circulação não voltara, seria necessário amputar o resto da perna na altura da virilha.
Ao dar a notícia, o cunhado Aldo Moura, que vem acompanhado a agonia de Mário Wilson nesses sete anos e a de outros companheiros, não disse quem "será o próximo". Também, não precisava.
Com o feijoense José Lacerda, que morreu na madrugada de sábado, o desfecho foi mais rápido. Segundo a mulher Rosilda, que o assistiu até a última hora, ele foi internado no dia 10 de julho. Ainda conseguia andar, falar. O médico que o assistiu, porém, disse que ele tinha câncer na coluna, tumor na cabeça, que "não adiantava operar; estava sem jeito".
Mesmo que o médico, mais uma vez, não lhe tenha dito ou pelo menos procurado investigar, através de exames laboratoriais, a verdadeira causa de tantas complicações, dona Rosilda sabia que o marido "estava (mesmo) sem jeito". Preocupada com os dois filhos ainda pequenos, uma menina de apenas um ano, e o menino de oito, queria apenas que a ajudassem a transportar o corpo do marido até Feijó. Magoada, desabafou:
- Este foi o pagamento que ele teve por mais de vinte anos de serviço na Sucam e passar até de três, quatro meses na mata borrifando as casas, para salvar os outros da malária".
Depois de anunciar a nova internação do cunhado Mário Wilson e a morte de José Lacerda, a lista do incansável Aldo Moura ainda não estava completa. Na sexta-feira, soubera que outro ex-guarda também havia dado entrada no Santa Juliana.
Lá se foi ele. No leito 117, encontrou o velho amigo João Martins de Souza, 62 anos. Apesar de todas as evidências sobre os males causados pela intoxicação, a desinformação é também um mal entre os próprios pacientes e seus familiares. Como outros ex-guardas, João Martins já não consegue falar nem andar, o rosto parece esculpido em cera.
Porém, o filho Jorgenei, que o assistia naquela tarde, admitiu que, no começo, achava tratar-se apenas de uma pneumonia, que o pai estava inclusive melhor. Só nas últimas semanas é que soube, através de algumas notícias publicadas nos jornais, que a pneumonia do pai não é uma simples pneumonia contraída por um resfriado, mas que pode ser um edema pulmonar.
Aliás, o amigo Aldo Moura parece saber mais sobre o ex-guarda do que o filho, ao informar que o conhece de longa data e que durante 16 anos o viu trabalhar diretamente em contato com o inseticida na tarefa da borrifação. Só, então, o filho Jorgenei lembra que, quando ainda falava, o pai se queixava de dores de cabeça, tonturas e insônia.
Afirmar que a contaminação pelo Dicloro-Difenil-Tricloroetano, o DDT, pode causar distúrbios mentais seria, talvez, uma temeridade ou exagero. Não é. Na tarde daquela mesma sexta-feira, Aldo Moura fez questão de levar os repórteres de A GAZETA até ao bairro da Estação Experimental. Preveniu, entretanto, que talvez não conseguissem "uma boa entrevista". Em uma das tantas ruelas que cortam o bairro, Aldo Moura e os repórteres encontraram José Pereira dos Santos, outro ex-guarda e mais um de sua lista.
Surpreendentemente, naquele dia, o ex-guarda se mostrava lúcido. Só com muita dificuldade de articular as palavras. Quase inaudível, contou que durante mais de 20 anos "mexeu com o veneno", que seus problemas começaram com tonturas e fortes dores de cabeça, chegando a perder a consciência por alguns tempos.
Como sentisse também "formigamento" nas pernas, achou que se devia aos períodos de longa exposição com a água, nas travessias dos igarapés e igapós, para chegar até à casa dos seringueiros e colonos.
Atualmente, tem consciência que foi o DDT que o intoxicou, embora, ao ir buscar tratamento em Goiânia, o médico achou graça de sua voz rouca e o apelidou de "goguento", em alusão ao "gogo", doen-ça que ataca as galinhas. Mais um médico, um doutor, que na sua imperdoável ignorância, não sabe que a contaminação pelo DDT provoca também tosse, rouquidão e irritação laringotraqueal.
Responsáveis poderão ser presos em flagrante caso persista a morosidade no cumprimento das decisões judiciais
O juiz federal David Wilson de Abreu Pardo exarou decisão acolhendo manifestação do Ministério Público Federal no Acre (MPF/AC) na ação civil pública que trata da prestação de atendimento a servidores da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) vitimadas pelo contato com o DDT. A decisão foi motivada por pedido do MPF/AC para que houvesse efetivo cumprimento de ordens judiciais anteriores para a formulação do plano de atendimento e indicação de entidade idônea para o diagnóstico dos possíveis enfermos. São réus na ação o estado do Acre, a União e a Funasa.
Na manifestação do MPF, acolhida pelo juízo, ficou demonstrado que o estado do Acre não cumpria o determinado pela Justiça ao indicar atendimento aos pacientes apenas uma vez por semana, em turno único. Assim, o primeiro atendimento dos 720 servidores com suspeitas de contaminação poderia levar mais de oito meses, período em que os contaminados poderiam perecer sem qualquer atenção. Neste ponto a Justiça ordenou, agora, que o estado apresente plano razoável de atendimento em prazo de cinco dias, ou a condenação a atender a todos no prazo máximo de dois meses, conforme o pedido do MPF.
Em outro ponto demonstrado, o juiz federal reconheceu que o toxicologista anteriormente indicado para compor a comissão é pessoa vinculada à Funasa de longa data, justamente por emitir pareceres que favorecem ao órgão, assim sendo, não poderia ser o único a fazer o diagnóstico, ficando o estado obrigado a contratar o Instituto de Saúde Coletiva da Universidade do Rio de Janeiro (IESC/UFRJ) para figurar como auxiliar do juízo no diagnóstico dos pacientes e na avaliação das medidas implementadas pelos demandados.
A Justiça deu, ainda, prazo de 30 dias para que os demandados apresentem os resultados dos exames toxicológicos, e 90 dias para apresentação dos demais exames (clínicos, neurológicos, oncológicos).
A União, bem como o estado do Acre, ainda deverão se justificar em cinco dias sobre outras deficiências apresentadas pelo MPF, como: falta de assistência logística de hospedagem a pacientes que precisem se deslocar para realizar os exames, fornecimento de medicamentos, falta de atendimento itinerante a pacientes que não possam se deslocar, criação de equipe multidisciplinar especificamente para o atendimento, entre outras.
Caso a decisão não seja cumprida, o juiz alerta que serão aplicadas sanções legais cabíveis, inclusive a prisão em flagrante dos agentes públicos responsáveis pelos órgãos, além da multa prevista.
* Informe da Procuradoria da República no Acre, publicado pelo EcoDebate, 05/11/2009
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta utilizar o formulário abaixo. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.
Servidor contaminado por DDT pode ser indenizado com R$ 100 mil
A Câmara analisa o Projeto de Lei 4973/09, da deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), que concede indenização de R$ 100 mil aos servidores da extinta Superintendência de Campanha de Saúde Pública (Sucam) – atual Fundação Nacional de Saúde (Funasa) – que tenham sido contaminados pelos inseticidas Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT) e Malathion.
O benefício é estendido aos descendentes diretos ou cônjuges das eventuais vítimas de contaminação que tenham morrido.
A proposta obriga o Poder Público a realizar exame toxicológico em todos os servidores ativos e inativos que trabalharam direta ou indiretamente com as substâncias e, caso a contaminação seja detectada, garantir tratamento médico às pessoas afetadas.
A autora da proposta argumenta que várias pessoas que trabalharam com os inseticidas morreram ou estão em precário estado de saúde, precisando de tratamento médico e de indenização “em razão dos altos custos de tratamento, da queda na qualidade de vida e da incapacidade operacional para o trabalho”.
Entre as consequências do contato com os inseticidas estão inquietação, desorientação, alterações do equilíbrio, ataxia (descoordenação dos movimentos musculares voluntários), aversão à luz, dor de cabeça intensa e persistente, fraqueza, vertigem, depressão do centro respiratório, coma e até morte.
A inalação dessas substâncias pode causar sintomas como tosse, rouquidão, irritação da laringe e traqueia, edema pulmonar e bradipneia (lentidão anormal da respiração).
Quando ingeridos, costumam produzir náuseas, vômitos, diarreia e cólicas abdominais e, a longo prazo, perda de peso, anorexia, anemia leve, tremores, hiperexcitabilidade, ansiedade, dor de cabeça, insônia, fraqueza muscular e dermatoses.
O uso do DDT foi proibido em 1985 em lavouras, mas continuou a ser usado até 1998 em campanhas de saúde pública.
Estou colocando este exemplo, para aqueles que não acreditam, que o Diflubenzurom devera fazer com quem for manipula-lo, o mesmo que fez com os nossos companheiros do Acre e do Pará. Paguem para ver!