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sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Sobre a vida

*****PORTAL DO SERVIDOR PÚBLICO DO BRASIL*****

Sobre a vida




À medida que o tempo vai passando, eu sinto o meu maior medo se tornando realidade. Sinto caminhar para o inevitável e encontrar o meu destino, que é terminar sozinho. Ao mesmo tempo eu acho que essa é a minha missão. Eu tenho que aprender a viver sozinho. É como se eu carregasse uma maldição ou uma sina mesmo, sei lá.

Primeiro foi o abandono do meu pai. Não sei nem se ele chegou a ver minha cara ou se um dia me tocou. O fato é que ele não me quis. Depois, eu cresci uma criança basicamente sozinha. Não podia ir brincar na casa dos outros e quase ninguém podia ir à minha casa. Eu era praticamente autista. Me lembro que eu sentava no meio do milharal e conversava com as espigas de milho como se elas fossem pessoas. chegava a ficar horas nesse mundo, cercado de pessoas loiras vestidas de verde que me entendiam e me faziam companhia. Como adolescente, tirando o último ano que eu passei praticamente vivendo em Correia de Almeida, eu habitava praticamente o fundo de qualquer cômodo existente. Era o fundo do quarto, o fundo da sala de aula, até pra andar de ônibus eu me colocava no fundo. Vim para São Paulo e ficava dias sozinho em minha casa, sem ninguém perceber se eu estava lá ou não. Chegava inventar coisas mirabolantes para me distrair e fazer passar o tempo. Quando eu não tinha mais ideias malucas, eu pegava um ônibus e ia rodando a cidade toda escutando música no meu discman, de terminal em terminal só pra ver gente diferente. Lembro de um dia que fui de Santo Amaro à Cidade Tiradentes.

Aí vocês podem dizer que hoje eu tenho amigos, que eles nunca me deixarão sozinhos e tal. Bom, de fato eu tenho amigos maravilhosos, que me acolhem, que me fazem sentir parte de algo maior que a minha pequenez. Mas ainda assim cada um tem a sua vida, sua família, seus momentos. E vai haver o dia, como já aconteceu muitas vezes, que eu vou ter que me trancar no meu quarto e lidar sozinho com os meus demônios.

Ah, mas e o amor? Bom, nesse eu acabo de perder totalmente as esperanças, chego a duvidar da sua existência. Pelo menos pra mim, nunca funcionou. As coisas sempre acabam por motivos justos ou por motivos inexplicáveis, quiçá inventados.

Bom, já que descobrir que minha vida é isso mesmo, queria poder fechar os olhos e adiantar o meu relógio. Queria chegar logo no fim, porque as aulas estão sendo muito sofridas na minha escola da vida! Queria poder passar adiantado...











sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013






Estava no alto de um morro, de onde se via a praia lotada. Era uma festa, como se fosse a virada do ano. Lá de cima dava pra ver as luzes todas da festa e o som alto fazia com que a gente dançasse. Embora só estivéssemos nós ali, eu e meus primos Júnior e Marcelo, nós controlávamos toda a festa. Eu animava com um microfone e meu primo colocava a música. Gritei ao microfone "O que vocês querem ouvir?" e a multidão enlouquecida respondeu "Kelly Key"! A cantora entrou e descemos para ir até o pé do morro onde a festa estava acontecendo. Era um caminho sinuoso com árvores em toda a volta. 


Chegando lá embaixo, em vez de ficar já com a multidão que dançava ao som de "Baba Baby", decidimos caminhar pela orla. Nessa hora, as pessoas ricas que passeavam de lancha, davam cavalinhos de pau pra jogar água na gente, como fazem esses filhos da puta de carro no ponto do ônibus em dia de chuva. Havia ali um casal gay que passeava com seu cachorro e observava a gente praguejando enquanto as lanchas nos molhavam. Eu era o mais indignado e dizia palavrões impublicáveis. Decidimos sair dali.


Indo para onde estava acontecendo a festa, achamos um vira-latas pardo, preso a uma corrente e decidimos soltar o bichinho. Júnior, por ser o mais alto e mais forte dos primos o fez. O cachorro sumiu e de repente, nosso tio Paulinho, pai do Marcelo, se aproximou pedindo dinheiro. Ele era um anão e tinha quatro dentes visíveis na boca. Fiquei com dó e o peguei no colo, como se fosse um bebê. Marcelo relutava em dar os 7 reais que tinha para o pai, dizendo que ele usaria o dinheiro para comprar cachaça, mas Júnior, que até no sonho tem o coração de ouro, o convenceu a dar o dinheiro. Nessa hora olhamos para o lado e vimos a entrada da área de alimentação da festa. Havia uma barraquinha vendendo três cachorros-quentes e uma latinha de refrigerante por R$1,99. Meu tio desceu do meu colo e correu para a tal da barraca. Como estava muito barato e eu amo cachorro quente, eu decidi ir até lá com os meninos, mas uma mulher, que estava perto da barraca me puxou pelo braço. Era minha mãe. Ela não dizia nada, só me olhava. Dei um beijo em seu roso e ela continuou lá, imóvel, seu olhar era de orgulho e de admiração, mas ela não dizia nada, apenas me olhava. Acordei.











segunda-feira, 14 de janeiro de 2013






Sempre ouvi dizer que quando você está prestes a morrer, se passa um filme da sua vida diante de seus olhos. Até aí tá tudo sussa, porque como você já vai morrer mesmo, o que vier vai ser fácil de aguentar. O problema é quando esse filme se passa e você não está no seu leito de morte. Acabei de ver um filme que, apesar de ser aparentemente uma história de ficção, me fez lembrar de uma parte da minha vida que eu achei que tinha esquecido. Achei que não ia mais ter que lidar com todas essas lembranças depois de tanto tempo, estando tão longe de tudo o que aconteceu. Achei que eu tinha deixado tudo lá onde pra trás, onde as coisas aconteceram. Os abusos, os dramas, a vontade de que um dia eu acordasse em um lugar diferente e nada daquilo estivesse lá. 


Me lembro que a minha vontade era acordar um dia, roubar todo o dinheiro que tinha em casa e entrar no primeiro ônibus que passasse e fosse para a Bahia, porque tinha na minha cabeça que era a terra da felicidade, onde ninguém sofria e não havia problemas. Ninguém apanhava e ninguém era abusado lá. Era só festa, era música e alegria. Mas estou longe de ir para esse lugar, se é que ele existe. Meu filme me lembrou que a minha história é essa mesma, que tenho que lidar com ela e encontrar esse lugar aqui dentro mesmo, seja onde eu estiver. 


Há muita coisa errada ainda, muita coisa que tenho que tenho que dar um jeito de resolver, de tirar aqui de dentro para que eu possa ter a vida que eu mereço, ou que eu acho que eu mereço. Vou poder sair sem medo e colocar meu bloco e meu sorriso na rua, na Bahia.











domingo, 16 de setembro de 2012










Hoje era pra ser um domingo normal, mas não está sendo. Quem está em São Paulo sabe que está um calor infernal. Eu e Johan levantamos cedo, tomamos café e fomos ao museu de insetos do Instituto Biológico lá na Vila Mariana. A temperatura já devia estar passando da casa dos 30 graus e eram ainda 11 da manhã. Comecei a me sentir mal. Paramos pra almoçar e decidimos ir ao IMAX Bourbon mais tarde. Depois do almoço, fomos direto comprar os ingressos pra garantir bons lugares. Nesse meio tempo parei umas 3 ou 4 vezes em lugares diferentes pra ir ao banheiro e levar o rosto, já me sentindo sem forças e com sintomas de uma leve desidratação. Compramos os ingressos e fomos para o ponto do ônibus ali na frente do Bourbon mesmo pra pegarmos um ônibus que fosse até a Barra Funda de onde viríamos para casa. 


Ao chegar no ponto, a ponto de desmaiar de calor, me sentei e comecei a ler a programação de cinema para o mês quando ouço uma senhora falar para outra que estava de pé e eu não tinha visto:


_Pode sentar aqui, minha senhora. Esses daí não vão te dar o lugar mesmo. Depois eles exigem respeito.


A outra mulher sentou-se e, por um momento me senti envergonhado por não ter visto que havia outra senhora em pé, mas eu estava passando mal e entretido com a leitura e o Johan nem sequer notou o que estava acontecendo, por não ser daqui não sabe dos costumes. Logo a senhora que tinha acabado de sentar se levantou e entrou no primeiro ônibus, no que a outra disse:


_Vai no primeiro mesmo, né? Tem que ser assim, porque se depender dessa gente...


Eu me levantei porque meu ônibus se aproximava, dei o sinal para o motorista parar e disse para ela:


_A senhora é muito mal educada. Eu não tinha visto que havia mais alguém no ponto, estava lendo. Era só me avisar que eu me levantava e dava o lugar.


No que ela, com toda a classe de uma elefanta rolando ladeira abaixo disse:


_Você é um folgado, fingiu que não estava vendo. Por isso que tem gente que mata essa raça de vocês, bando de viados. Tem mais é que morrer mesmo! Eu adoraria viver em um lugar onde não tivesse que olhar para a cara de gente como vocês, de tanto nojo que sinto!


Fiquei cego de raiva. Fiz sinal para que o motorista continuasse e voltei para o ponto.


_O que foi que a senhora disse?- perguntei. Antes que ela respondesse, me veio uma cena à cabeça. No dia 11 de fevereiro de 2009, quando fiz 30 anos, enquanto meu amigo Israel me carregava bêbado no ombro, me levando para casa. Um cara abaixou o vidro do carro e disse:


_Vai dar a bunda, hein bichinha?


Prontamente eu respondi.


_Que Deus te ouça!


Esse homem deu a volta com o carro, parou e me deu um tapa no meio da fuça. Meu amigo foi me defender e levou um soco. Peguei o celular pra ligar para a polícia e levei outro no pé do ouvido e meu celular se espatifou. Ele voltou pro carro, pegou uma arma e nos ameaçou, disse que era da polícia federal e que da próxima vez poderia ser muito pior.


Essa cena toda voltou na minha cabeça hoje. Vi naquela senhora, aparentemente uma mãe de família e uma mulher digna e de respeito, o policial que me agrediu sem motivos. Respondi a ela em alto e bom som:


_Sinto pena de uma pessoa como a senhora, preconceituosa, suja e desinformada. Por causa de pessoas como você, que milhares de pessoas como eu são agredidas, torturadas e assassinadas todos os dias. Pessoas ignorantes, que não sabem o que um ser humano de valor. Pessoas que arrotam dignidade, mas fedem por dentro. Pessoas que frequentam igrejas e associações e se dizem pessoas de respeito, e saem por aí matando e ferindo com armas e palavras. Eu é que sinto nojo da senhora, uma mulher imunda.


Ao que ela me responde:


_Sou de igreja mesmo, mas não sou de associação nenhuma queridinho. Sou do TRIBUNAL DE JUSTIÇA e lá pessoas como você dão trabalho pra nós. Fazem a gente perder o nosso tempo com viadices. Tem que morrer mesmo e livrar o mundo dessa raça maldita.


Não vou escrever mais o resto da discussão, porque o negócio ficou feio. A ponto da tal mulher me encostar a mão na cara, ameaçando dar um tapa. Coisa que, caso ela fizesse eu revidasse e esquentasse a lata dela com minha mão, eu seria preso como agressor. As pessoas que passavam pela rua me viam assim, seus olhares davam razão a ela. Era uma bicha contra uma senhora de bem que trabalha no tribunal de justiça.


Aí me vem à cabeça que por duas vezes, pessoas que deveriam proteger a população e trabalhar para que eu possa ter meus direitos, me oefenderam e me ameaçaram. E depois, elas contam a sua versão dos fatos com orgulho, se sentindo vitoriosas. Por isso escrevi aqui. Quero que vocês que leram divulguem, para mostrar para as pessoas que ainda existe sim o preconceito, o ódio. E se porventura essa criatura for mãe, parente ou conhecida de um de vocês, meus sentimentos, pois ninguém merece ter na família ou por perto uma pessoa tão horrível e tão sem caráter.















quarta-feira, 15 de agosto de 2012










Foi no começo de janeiro deste ano. Era meio tarde, estava conversando com ele no chat do facebook e eis que rolou um papo mais ou menos assim:


_Menino, como você é querido! Vou adotar você!


_Vou falar com minha mãe se posso te chamar de pai!


Foi um susto. Uma coisa que, nos dias de hoje, com tanta gente com maldade na cabeça, não era pra ser levada a sério. Mas ele veio depois e disse pra mim:


_Minha mãe deixou eu te chamar de pai. 


Fiquei com medo de mexer com a cabeça do menino. Sim, porque, apesar dos seus então 13 anos, Geovanni é um menino, uma criança. Mas fui vendo que esse menino ainda possuía algo que não é comum encontrar nos dias de hoje. Ele tinha inocência no olhar, bondade, educação, carinho. Quem o vê junto com a mãe só sabe pensar uma coisa: de onde vem tanto amor? Conversei com ele, com a mãe, Suely, com alguns amigos e decidi levar isso adiante. Não sei porque alguém iria querer um pai como eu, que estou muito longe de ser exemplo pra alguém. Mas vi nos olhos dele a vontade de dividir o amor que ele tinha dentro de si com mais alguém. A mãe, por conhecer o filho me acolheu como se eu fosse, de fato, da família. Assim eu virei pai. Não pago contas, não dou bronca, não ajudo nos deveres da escola. Mas dou todo o meu amor, levo pra passear, faço coisas que eu gostaria que meu pai, que sequer quis me conhecer, fizesse por mim. 


Hoje, não sei mais viver sem esse meu filho, sem essa família que de certa forma me acolheu e me trata como sendo parte dela. Um dia ele vai crescer e tudo isso pode acabar. Quando a gente cresce, o coração da gente meio que vai perdendo o espaço reservado a essas coisas lúdicas. Mas ele sempre vai ser, aqui dentro do meu peito, o meu filho, que me escolheu e gosta de mim como eu sou, que me chama de pai no meio da rua, sem ter vergonha.


Amo muito você, Gê.




















segunda-feira, 30 de julho de 2012










_ Você não sabe pelo que tenho passado. Você não sabe o que tem acontecido na minha vida.Não tenho tempo pra nada.






Não, realmente eu não sei. Não sei porque você não me disse. E olha que eu quis saber. Liguei, chamei pra sair, combinei encontros. Tudo em vão. Sempre havia algo inesperado, um motivo pelo qual você não poderia estar presente. Vou trabalhar amanhã. Vou estar com meus pais. Marquei com outro amigo. Estou cansado demais. Esqueci meu celular no trabalho. 


E o tempo vai passando, as coisas vão acontecendo e cada um vai guardando o que aconteceu para si. Afinal de contas, você é uma pessoa muito ocupada e não tem tempo. 


Eu devo ser um mágico, por ter tempo mesmo quando trabalho o dia todo. Por ter tempo quando estou cansado. Eu consigo até ter tempo quando eu não quero. Tenho tempo de estar com meus amigos, de contar meus problemas e ouvir os deles. Tenho tempo de brigar e fazer as pazes no mesmo dia. E, se não tenho tempo, eu seu reconhecer e assumir publicamente a minha displicência.


Infelizmente, eu não tenho tempo de agradar a todos, porque eu descobri uma coisa nova pra quem eu quero ter tempo agora. Quero ter tempo pra mim. Não, isso não é egoísmo. Porque quando eu passo um tempo com os que eu amo, não importa a merda pela qual eu esteja passando, estou usando esse tempo pra mim. Quando eu passo horas tentando escrever um post meio torto, meio rancoroso, estou usando esse tempo pra tirar de mim as coisas que me fariam mal.Eu faço o meu tempo. 


Eu quero estar com você, eu quero fazer parte de sua vida, eu tenho o tempo que for necessário. Mas é muito dividir o seu tempo com alguém. É mais fácil usá-lo sozinho, não se doar. Seja muito ocupado, Entupa-se de coisas pra fazer no seu tempo. Use-o da melhor forma possível. Só não use mais o meu, porque pra você, o que eu fiz questão de dividir com você não foi o bastante. E quanto mais passa, mais eu descubro o quão é precioso. Então, deixe eu usar o meu tempo da melhor forma, jogando ele fora junto com aqueles que não se importam em passar um tempo comigo.











quarta-feira, 18 de julho de 2012






Acho que foi em 2009. Ele foi lá em casa com o João e ficou quase todo o tempo sentado no sofá. Minhas tentativas de puxar papo não foram bem sucedidas e assim como veio, foi embora. Passa-se um tempo e eu volto de Minas, depois de uma reviravolta gigante na minha vida. Encontro novamente o moleque de pouco papo em uma festa. Bebi demais e não me lembro o que conversamos. Nos encontramos de novo em outras ocasiões e um dia, no meio da bebedeira, acabou o gelo e alguém tinha que descer pra buscar. Fomos eu e ele juntos. Me lembro de um comentário que foi mais ou menos assim:

_ Engraçado, mas eu sinto uma coisa boa quando estou perto de você. Meio que uma tranquilidade, uma paz...

_ Eu meio que sinto isso também!

Desde então nos aproximamos e passamos cada vez mais tempo juntos. Era engraçado, porque ele era totalmente o oposto de mim. Tímido demais, fechado, não sabia abraçar e não gostava de demonstrações de afeto em público.

De repente veio o dia mais difícil da minha vida, quando perdi aquela que era minha mãe, meu ídolo, a pessoa que eu mais amei na minha vida. Eu estava desnorteado, meio anestesiado e não conseguia desabafar, nem chorar e nem nada. Fui com ele pra sua casa, depois de bebermos muito na casa de outro amigo que também estava sendo fundamental nesses dias. Mas foi ao lado dele que eu, não mais que de repente, comecei a chorar. Era um choro compulsivo, como eu nunca havia chorando antes em toda a minha vida, nem quando levava minhas surras na infância. Foi a primeira vez que senti seu abraço de verdade, no começo meio desajeitado, receoso, mas foi se tornando acolhedor, aquecendo minha alma que estava fria e despedaçada pela dor. Ali, naquele momento, eu descobri que eu tinha um amigo que estava do meu lado, que seria fundamental nas horas boas e ruins. Aquele abraço que me tirou a dor, me deu um irmão.

Hoje não sei mais viver sem o Polaco. Alguns o conhecem como André Levinski, mas pra mim vai ser sempre o meu Polaco, meu irmão de alma!











domingo, 8 de abril de 2012










Já disse aqui várias vezes que eu apanhei muito quando criança. Era cinta, chinelo, vara de marmelo ou qualquer coisa que estivesse ao alcance da mão. A mãe não era muito criteriosa na hora da raiva.


_Desgraçada! Tomara que essa mão caia pra tu não ter mais como me bater!- E apanhava mais ainda por ter sido desaforado e rogar uma praga dessas.


Mas essa mesma mão que batia para "disciplinar" era a mão que fazia carinho, que preparava com amor a comida que a gente tinha vontade pra comer quando chegava com fome da escola. Era essa pessoa que batia que fazia o mingau quente e deixava eu dormir com ela nas noites frias, coisa que fiz até os meus treze, quatorze anos. 


Estou falando tudo isso porque hoje, depois desse feriado de páscoa, pude perceber que embora as coisas não estejam como eu desejaria, eu não tenho do que reclamar. Nesses três dias, estive ao lado de amigos que me amam e querem o meu bem, não importa o quanto às vezes pareçam querer bater com a porta na minha cara. Tenho minha casa pra descansar, com meu quarto e minha cama quentinha. Tenho uma pessoinha muito especial, que me quer como um filho, e por quem tenho um amor de pai, amor que eu sequer conheci.


Não é síndrome de Pollyanna, não. É saber que há as dificuldades, há as surras que a vida nos dá. Mas saber também que são elas que fazem com que os carinhos sejam especiais e inesquecíveis. E que, depois de muito tempo achando que a vida não prestava, a gente descobre que é, sim, muito feliz!











terça-feira, 27 de dezembro de 2011






Talvez esse seja meu último post do ano. Talvez esse seja meu último post. Eu hoje tomei uma decisão que pra alguns pode ter sido uma coisa idiota, mas que pra mim significou muito. É muito difícil pra mim, uma pessoa mega carente, insegura e o cacete a quatro, se desligar de alguém que eu julgava importante. Porém, tive que fazer isso. Está sendo difícl, está sendo doloroso, mas há coisas que são necessárias. Sabe aquele lance de passar pelos espinhos para colher os morangos mais doces? Eu acredito nisso. E cada vez mais eu tenho passado por todos os espinhos, os mais pontiagudos e firmes, que rasgam a pele e cortam fundo e que vão deixar marcas bem visíveis. Passo por isso tudo esperando chegar a eles mais cedo ou mais tarde, ainda que pensem que jamais os encontrarei em lugar algum. Mas esses tais morangos parecem estar cada vez mais distantes, e seu vermelho se confunde com o sangrar de um sofrimento que uns até julgam desnecessário, mas que eu julgo ser crucial ao meu aprendizado. Talvez eu esteja vivendo na esperança de algo inexistente, talvez eu esteja certo. Não sei, espero chegar a esses tais frutos que, ao colher, não saberei que gosto terão, mas que experimentarei seu gosto, sendo doce ou azedo. Porque foi por eles que eu passei por tudo isso e de forma alguma será em vão.











terça-feira, 6 de dezembro de 2011






_ Você tá com uma cara séria, Charlie. Aconteceu alguma coisa?

Foi o que me disse Ana ontem ao chegar em casa e me pegar perdido entre milhares de pensamentos. Minha vontade era sentar e desabafar, mas não achei justo com ela compartilhar minhas fraquezas e tristezas depois de um longo dia de trabalho. Disse que só estava com sono e tentei, em vão, adormecer logo.


Aconteceu muita coisa esse ano e revendo tudo desde o primeiro dia, pude constatar que foi um ano de muitas e irrecuperáveis perdas. Perdi minha avó, o maior amor da minha vida, perdi a Gabi, perdi minha mãe para seu egoísmo, perdi meu lar, perdi amigos que me acompanharam durante anos dizendo que sempre estariam ao meu lado, perdi também outros recentes que me diziam ser importante. Perdi a fé, perdi a vontade de lutar por meus ideiais, pela minha vida. Me vi em um momento em que estava somente em pé e respirando, sem viver e sem vontade de fazê-lo.


Tudo isso teria sido insuportável se não fossem amigos que, do seu jeito, sem saber direito como demostrar apoio, amor, me guiaram através dessa escuridão. Ouviram meus choros, seja abraçado no sofá ou seja a quilômetros de distância via telefone, ouviram meus raros momentos de felicidade e se fizeram presentes, ainda que não fisicamente. Mas ainda assim foi e está sendo um ano muito duro.


Me vejo aqui hoje, impotente, esgotado. Olhando pra trás e ver que minhas conquistas ficaram longe, e estão praticamente invisíveis sobre uma montanha de derrotas. Me entreguei tanto, me doei tanto a vida inteira, que hoje parece que minhas forças se esgotaram. Podem me achar injusto enquanto estou aqui falando sobre as coisas ruins, parecendo dar importância mínima às coisas boas. Mas coisas ruins deixam marcas, algumas mais profundas, outras mais dolorosas. E o que acontece de bom nem sempre é o suficiente pra fazer essa dor passar e essas marcas amenizarem.

Fico aqui machucado, dolorido, com o peito e a alma despedaçados. Fico com os que ainda estão do meu lado, me dando forças pra continuar e me levantar, pra voltar a caminhar de novo em 2012.

Campo do Ligo

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Campo do Ligo


Havia um caminho, ao lado do rio, por onde ele gostava de ir passear. Um dia foi busca-la, encontrou-a na copa a separar espargos e foi-lhe mostrar esse caminho.


Levou-a muito devagar, ainda havia tempo até a hora do jantar. Caminharam como gostavam de o fazer, encaixados, com o braço dela a passar-lhe pelas costas e a mão dele no ombro dela, puxando-a para si.


Falavam muito pouco de si próprios. Falavam mesmo pouco entre si, apenas o prático, o que era necessário falar sobre a organização da casa, do cuidado dos filhos, do que cada um tinha de fazer em relação aos assuntos comuns, ou do que ambos tinham de fazer.


Naquela tarde ele passara ele estivera a arrumar a tralha que se amontoava numa das lojas junto à Adega. Encontrara algumas coisas que lhe fizeram lembrar os dias em que chegara àquela casa, àquela aldeia pequenina, a Gondarém.


Deixou as arrumações e saiu em direcção ao rio, para voltar a percorrer o caminho. Foi no durante esse passeio que ele se lembrou que nunca lho tinha mostrado, que nunca lhe tinha contado porque é que aquele caminho era tão importante para ele. Os filhos já tinham cinco e três anos e agora lembrava-se que nunca tinha contado à mulher que, com oito anos, depois do pai lhe ter dito que tinha de ir estudar para a metrópole, encontrava todas as forças nos passeios que fazia por aquele lugar. Foi então chamá-la, antes que escurecesse, procurou-a como se lhe quisesse mostrar uma coisa que acabara de descobrir. Quando a encontrou, na copa, disse-lhe:


Vem comigo que eu quero mostrar-te uma coisa:


Ela olhou-o, não disse nada, tirou o avental e deu-lhe o braço. Foi com ele como ia todas as vezes em que havia uma novidade para ver. Prosseguiu ao lado do marido por aqueles atalhos por onde já aprendeu a andar. Tentou adivinhar pela direcção que tomavam, para onde e para ver o que ele a estava a levar. Iam para o rio. É um barco, pensou. Ou uma nova leira. Como sempre ela não perguntou nada e ele nada antecipou. Quando finalmente chegaram à entrada de um pequeno carreiro de terra batida, ladeado de um dos lados com altas espigas de milho e, do outro, por choupos que impediam a visão do rio que se ouvia correr por trás. O caminho era comprido e ia estreitando-se na perspectiva dos pés de milho e dos ramos emaranhados dos choupos.


Como ela era muito mais baixa que ele, não conseguia ver nada para nenhum dos lados, só as ramadas dos choupos e as folhas do milho. Pararam na entrada desse caminho e ele disse-lhe então:


Quando vim de Angola para aqui, depois dos trabalhos de casa, ou depois da escola, corria por este caminho fora vezes sem conta. Ia e vinha, ia e vinha, quanto mais depressa corresse e maior deslocação do ar provocasse, mais o ar cheirava ao mesmo que cheirava em Africa.


A meio da corrida fechava os olhos e continuava a correr, orientando-me pelo ruído ou pelo toque dos pés de milho ou das folhas dos choupos. De olhos fechados corria e pensava que estava de novo a voltar para Angola, para junto do meu pai. O cheiro, quando o situava com precisão permitia-me fingir que estava muito perto, que era uma questão de metros, corria mais, chegava ao fim do caminho e voltava outra vez para trás, até que já não conseguia mais correr. No principio atirava-me para o chão e chorava, não importa a posição em que tivesse caído. Depois, deixei de chorar e passei a sentar-me numa pequena enseada que há a meio do caminho, ali, a olhar para a água, a olhar para a ilha e a pensar na distância que me separava de Angola e do meu pai.


Continuaram a andar pelo carreiro. Ela experimentou inalar discretamente o ar daquele lugar, que lhe parecia ter o mesmo cheiro de todos os milheirais, cortado apenas pelo aroma frio do rio.






30.8.13







Durante o desenho da pequena planta de Cerveira o Fernando, que olha com um olhar interrompido, desviado do que o concentrava, olhar de frente mas com um quase imperceptível pré-movimento de regresso ao burro, ou ao cigano, um olhar em alerta, em constante reconhecimento, diz, apontando para os barcos pretos: - O Rentes de Carvalho fala disso.




Os carochos são os barcos pretos daquela parte do Rio Minho, estão no desenho e no bloco que fiz para o preparar. Apareceram nas palavras imediatas e nas linhas que também imediatamente os revelavam a toda a hora (“os barcos do rio Minho são todos pretos de dia todos iguais e à noite só se ouvem.” / desenho-os como as pétalas negras de um malmequer de rio, tão inexistente como a vocação carnívora das suas labaças).




Acabámos de nos conhecer e cumpro ainda a disciplina de não fazer muitas perguntas, desde logo a que me apetecia sobre o que diz o “Rentes de Carvalho”.


Li o seu nome pela primeira vez escrito pela Mônica Marques, e – talvez por isso – julgava-o dos novos escritores como o José Luiz Peixoto, o Tiago Torres da Silva, Gonçalo M. Tavares. Escritores cuja leitura estupidamente adio, a excepção dos dois livros da Mônica.


Pouco tempo depois, quando almoçamos na cantina da Bienal, junto à “casa do dinamarquês”, a casa vermelha que visitei pela primeira vez há dois anos, durante a última Bienal. Falo da história da casa e do seu enigmático proprietário.




- "O Rentes também fala disso, então é esta a casa", diz o Fernando.




Pergunto-lhe onde é que fala disso, em que livro. Responde-me que fala disso em “La Coca”, um livro que se passará em Gondarém. Fico arrepiado, instantaneamente arrepiado. Houve alguém que já escreveu uma história que se passa em Gondarém e que fala da casa vermelha e dos carochos (nome dos barcos pretos) e até do casamento "de estadão" na casa dos Almeida Braga (hoje Estalagem da Boega).




Conta-me a história abreviada desse escritor, que não é da geração onde o situava, que tem o maior sucesso na Holanda, onde vive depois de ter vivido em tantos outros países. Conta a história da Rainha da Holanda, num jantar anual que dá aos que condecorou, tê-lo apresentado ao então Presidente Jorge Sampaio, durante uma vista deste àquele país. Chego a casa e vou à procura e encontro um blog de que já tinha ouvido o nome (“Tempo Contado”), como o nome do dono da barca (e até a expressão “dono da barca” já a tinha ouvido).




O único livro que li que se passava por aqui perto foi a Tore de Barbela e o Mundo à Minha Procura (Ruben A.). Vem-me a mania que não consigo controlar de sentir a solenidade da chegada de um tempo importante, daqueles que constam das biografias como os antigos marcos da estrada do Minho, os mais redondos e que só se conseguiam ler nos carros contemporâneos ao seu aparecimento, com os números dos Km que faltavam para as povoações mais próximas. Descobrirei em breve porque é que senti que a visita do Fernando à Bienal me saiu ao caminho como um desses marcos. Descobrirei os Km que me faltam a partir de aqui e onde é que eles me levarão. Para já leio com emoção cada artigo desse blog, por causa do qual voltarei a escrever o que aqui já escrevi sobre o Minho da “minha” Gondarém.











22.4.13
















Uma amiga (a Luzinha) no outro dia contou-me uma história. Devia ser obrigatório apontar todas as boas histórias que nos contam, é o mínimo. Contou ela que um dia fora falar com um Senhor muito entendido em arte nova. Fora falar com ele porque gosta muito dessa época e o senhor era Mestre dessa época. Fez-lhe a pergunta óbvia, daquele óbvio de que os complicados têm um pudor que disfarçam em cerimónia: - O que é para si a Arte Nova? O senhor fez um movimento com o braço, aproximou-o do candeeiro de secretária e pôs o cigarro sobre a lâmpada. O fumo do cigarro formava umas linhas paralelas que ele propositadamente fazia ondular de vez em quando, sobre a luz da lâmpada. "Arte Nova é isto".











16.4.13


























12.4.13










"bicho das amoreiras" (bicho da seda)











10.4.13










O NOSSO TEMPO





Advertência: Eu desconfio das palavras. Não é bem das palavras enquanto a modalidade em que mais nos exteriorizamos ao outro, mas das minhas palavras. Não gosto da distância a que ficam do que quero dizer, sobretudo quando escrevo. Mas não tenho outra maneira de procurar dizer o que sinto ser dever, sem ser com elas, procurando que consigam trepar a outra zona de inteligência que a reservada à lógica jurídica que as formatou num inescapável advogadêz[1]. Eu falo advogadêz e isso é tramado, porque é uma língua que sem aviso prévio se sobrepõe à que falávamos antes. Como o corrector ortográfico do meu computador se sobrepôs ao anterior sem que eu tivesse querido e sem que eu agora o consiga tirar, para continuar a escrever como sempre escrevi.[a minha principal objecção ao acordo ortográfico nem sequer é por razões de defesa da língua viva (expressão deliciosa) que é o Porrtuguêis do Brasil (que é o Português mais vivo). Eu nem sequer tenho objecções ao acordo ortográfico, porque é assim que a coisa funciona, é inevitável. A minha coisa com o novo dicionário que sub-repticiamente se instalou feito um posseiro no coração do meu word é que fica feio o ecran cheio de risquinhos vermelhos e isto para não falar no incómodo do filho da mãe do coisó Plug in ou lá como pulou para aqui, me estar sempre a interromper o raciocínio para inconscientemente pronunciar a palavra como seria dita agora – ainda há pouco isso me aconteceu quando escrevi peremptoriamente (que foi imediatamente substituído por “perentoriamente”). Altera-me as palavras e quando releio as coisas chego a duvidar, mas eu não escrevi isto, isto é um gajo desempenado e contemporaneissimo. (A sério, sem ironia nenhuma. Fico por instantes com a sensação de “não é meu”, eu não tenho esta actualidade).





Escrever sem sentir o atrito das palavras, isso é que eu gostava de saber como se faz para escrever este Manifesto (só o nome irrita, mas é a palavra que designa a sensação do ter de escrever uma coisa sobre este estado de coisas por causa do que não eu sinto que não se diz dele). Escrever sem ficar a olhar de fora para o que se escreve, sem a pôrra da forma. Escrever a ideia sem ruído, directo, sem precisar do assobio do som das palavras ou da geometria dos pensamentos dentro das frases.





Feita a advertência, que deve ter sido lida como se dita no mesmo tom que os conferencistas pedem desculpa por não dominar a língua em que vão falar, com educação e sem – assim espero – nenhuma da arrogância do Senhor de há pouco. Aqui vai





Que é a nossa circunstância que somos nela e com ela. Sim. Que a diferença entre mim e o meu filho mais velho é também do ser do tempo dele e do ser do meu, sim também. À lotaria do lugar onde se nasce acrescenta-se a do tempo em que se nasce e, pela história vivida em cinquenta anos tem-se uma ideia do que acontece aos lugares com o tempo. Atrás deste primeiro plano da noção do tempo (o que experimentamos directamente), sabemos de um tempo anterior e conseguimos mesmo anular o mistério do antes do nascimento (tão grande geometricamente o do depois da morte) através da presença que sentimos em nós dos antepassados. Esse tempo anterior vai-se afunilando até ao fim dessas memória pressentidas dos antepassados. Vem então a palavra ancestrais e o espaço aumenta com ela, provavelmente pelo astral que a palavra tem. Com o aumento desse espaço e o conhecimento que tempos da pequenez temporal dos últimos dois mil anos da humanidade (um século não é uma eternidade, é o tempo que separa muitos dos que estão vivos daqueles que são ou foram os seus avós), é a idade do Manuel de Oliveira, são vinte vidas do Manuel de Oliveira. Se eu disser há vinte vidas do Manuel de Oliveira nasceu Jesus, há qualquer coisa que estremece em mim. Uma sensação de conta errada, da intranquilidade do que não bate certo com o nosso entendimento do tempo. Mas é verdade. Foi há dez Manuel de Oliveiras que se deu a fundação de Portugal, como nos ensinaram que aconteceu. Quando nos falaram disso eramos crianças, mil anos era uma espécie de equivalente a infinitos. Se pensarmos no Holocausto então custa-nos a imaginar que os nossos avós tivessem sido contemporâneos desse momento, que tivessem vivido aquilo em directo. Parece ter sido noutra vida, quase com outra humanidade. Percorremos dois mil anos num instante, se tentarmos colocar essa porção de tempo na escala do tempo dos Deuses. Se tentarmos imaginar qual o tempo – se é que ele existe – do projecto da criação cristã até ao “juízo final”. Temos de concordar que nos parece muito pouco, que estaremos muito longe, que estaremos ainda muito no início. Compreendemos que outros povos tenham pensado tantas vezes na eventualidade do fim colectivo próximo e tenham afeiçoado às suas escalas de tempo as profecias apocalípticas. No nosso tempo a profecia apocalitptica já não vem da bruxaria e está ligada à Ciência e a apresentações em power point feitas por AL GORE. É por essa via que experimentamos a ideia do fim que está em todos os apocalipses. Sabemos que essa é uma das possibilidades, experimentamo-la ainda que inconscientemente, imperfeitamente, nas suposições vagas do que será um fim desses. Assim, a primeira coisa que me parece evidente é que o Nosso Tempo é muito curto para perceber o tempo da “humanidade”. Até porque sabemos das enormes diferenças que a “humanidade” assumiu nestes afinal tão curtos dois mil anos (romanos, árabes, idade média, renascimento, romantismo, belle-époque, revolução francesa (foi há menos de três séculos: a bisavô da minha avô poderia ter estado lá (a minha avó nasceu a 3 de Outubro de 1895, logo separam-me do nascimento dela 118 anos, 1895-118 anos, logo a sua avó poderia bem ter nascido em 1777, a tempo de assistir à gulhotinagem de Maria Antonieta).





O que é que destinguirá o “nosso tempo”, como é que ele será visto de fora, de aqui a dois mil anos? Bom, esse exercício é vizinho do imaginar um fim colectivo. Porém e se o que destingue o Nosso Tempo, se aquilo pelo qual se tornar conhecido nesse futuro em dobro ao que nós já vivemos desde o nascimento de cristo, for qualquer coisa do nosso carácter actual que se equivalha ao buraco do ozono do “apocalipse”? Qual o traço do nosso tempo que se poderia considerar a replicação na humanidade daquilo que está a acontecer na terra?





A minha primeira sensação é que esse traço é a ilusão do homem ser a medida de todas as coisas. O homem individuo, o homem como uma esperança de vida que delimita o que é mais importante no nosso tempo: o tempo de vida de cada um, o tempo da esperança de vida de cada um. Se tentar percorrer essa mesma sensação sem a assustar, consigo imaginar um tempo em que o mais importante não fosse – para quem nesse tempo viveu – o tempo que pessoalmente iria viver mas a sua participação num tempo maior, no tempo da sua espécie, no tempo maior dos Deuses. Chego aqui e paro, começa aqui parte do buraco negro, onde as ideias, mesmo as menos verbalizáveis, as que são só imagem, deixam de existir de se poder formar.





Dita esta salganhada toda, o que me parece é que o nosso tempo é o do princípio de um fim com estrondo de um individualismo que provavelmente se exacerbou com a colocação do homem/individuo no centro de todas as coisas, quando qualquer ser com um mínimo de pudor e – sobretudo – instinto de sobrevivência, não se coloca no centro de todas as coisas. Sei muito pouco de história, mas sei o que intuo do tempo que me foi contado.





O nosso tempo para mim é o do fim do “homem/individuo como medida de todas as coisas”.





Visto o tempo assim, fico impressionado com a facilidade como que nos excluímos do tempo em que estamos, e da nossa enorme cumplicidade filial em relação a ele, apontando o dedo a Sócrates, a Cavaco, à Troika, à Merkle, ao Senhor da Coreia. Somos nós., É o nosso tempo e parece-me mais ou menos evidente que o que está a acontecer na Europa soa a princípio do fim de um tempo muito mais longo do que nós possamos imaginar. Se tivermos de recuar até que a primeira semente deste tempo em que o “homem/individuo” funcionou como definidor da escala da nossa vida pessoal, o nosso tempo de vida, por exemplo, teremos de recuar até outro buraco negro relativamente ao qual só tenho uma muito vaga ideia que é a de que esse tempo seria em muitos aspectos semelhantes àquele que virá. Ao pensar isso penso se o caminho não será agora a marcha atrás do tempo e se não teremos de passar por uma nova idade média e não nos teremos mesmo de preparar para os encantos dela. Porque sabemos que os tem, ainda que esse tempo seja conhecido como “das trevas”.









[1] A primeira vez que ouvi esta expressão “advogadez” foi num julgamento proferida por uma testemunha a quem o Colega do lado tinha acabado de fazer a primeira pergunta. A testemunha era um daqueles administradores das novas empresas público-privadas. Agressivó-snob-sem-berço-mesmo, seria uma descrição, a juntar aos fatos e às gravatas nunca amarrotadas com aquele mesmo ar do cabelo quando vem do barbeiro, a juntar à arrogância - ainda por cima, em estilo “sei que sou arrogante mas estou-me a conter, por educação” e ao hábito de olhar desnecessariamente atentissimamente para as irís do interlocutor. O Colega tinha o mesmo primeiro nome que eu e era o advogado daquela contemporaneissima companhia público-privada – como eles gostam de dizer “a companhia” – com quem o meu cliente discutia, num caso bem conhecido daquele administrador de quem ouvi essa expressão, quando em respota à primeira pergunta do meu Colega lhe atirou (estes tipos - quando se lembram de uma em que se gostam especialmente de ouvir – atiram mesmo): “Oh Doutor, importa-se de repetir a pergunta sem ser em advogadêz). Fantástico. Fantástica a palavra e fantástica a confusão daquele tipo. Ele tomava o Advogado da “companhia” (que pelos vistos nunca tinha visto) pelo advogado filho da mãe, convencido, fora do baralho que representava “os outros gajos”. Adoptei imediatamente uma atitude compungida, refugiei-me na leitura dos apontamentos anteriores como se estivesse embaraçado que a “minha” testemunha estivesse a ser incomodada pelo Colega. Acho que o Colega não percebeu, porque eu estava ao lado dele, mas até ao final do seu interrogatório percebi deliciado que o Senhor Administrador não desfizera o equívoco de pensar que aquele que lhe fazia perguntas não era eu, que não era op seu advogado em desespero sem saber como lhe haveria de explicar isso, depois daquela entrada de leão do seu administrador sendeiro.











27.10.11














1.





O Armando usa óculos. Já desistiu de comprar os “que lhe ficam mesmo bem” que também há muito deixaram de lhe dizer e – depois disso - de procurar os que lhe fiquem menos mal.





Usa os óculos que tem, uns que encontrou de massa e que eram daquelas coisas que por serem tão nhónhinhas, tão inofensivas, tão moscas mortas que nunca as perdemos, sobrevivem sempre e fazem-no com aquele ar aparentemente inofensivo dos que sabem que nos vão sobreviver e olham para nós assim, com aquela peninha que se nota mais porque dissimulada em não peninha.





Mandou arranjar os óculos (pôr-lhes umas lentes, porque eles estavam bons); Marcou uma consulta na Óptica onde trabalha a Alicinha, que é quem o continua a vir visitar, uma vez por semana, sem que ele perceba que o ritmo é mesmo esse – o da promessa que ela se fez de não deixar o gajo enlouquecer sozinho. Foi então à Óptica, no Conde Redondo e foi lá que soube que tinha aumentado as dioptrias e que o astigmatismo regride mas a vista cansada não, a miopia não.





Era tudo branco, parecido ao branco iluminado a fluorescente e tobogénio, ou lá como se chamam as lâmpadas cilíndricas que desde os anos 70 dão aquela luz em todos os sítios em que o Estado dá aquela luz, daquela luz de todos os sítios onde nos tratam da saúde. Armando não gosta disso, por isso achou bem ir a uma óptica ver dos olhos para arranjar os óculos de massa em vez de ir marcar uma consulta no Oftalmologista.





Armando fala bem e escreve, escreve ainda muito,” ainda” porque há muito tempo que acabou o que lhe pareceu na altura um dado adquirido: viver do que escrevia. Armando só vacila em palavras técnicas como as das lâmpadas de Tugonénio .





- É assim que se chamam não? Bem, pensando bem acho que não deve ser assim, soa a prémio da Associação Nacional de Inventores, Filatelistas e Malta que Gosta de Falar do Antigamente, pouco importa, adiante).





Armando há muito tempo que não sai à noite para ir beber um copo, assim descontraidamente como quem não quer a coisa e se der até às sete foi uma ganda noite, no dia a seguir, de rastos e um gajo a tentar consolar-se assim: “foi uma ganda noite”.





- Há muito tempo que não vou sequer ao before hours, antes do after hours, eh eh, diz o Armando a fazer graça com o Victor que o foi ver ao buraco onde te meteste.





- Mas isto não é nenhum buraco, os buracos são nas caves, isto é um sótão e – pera – sobe lá para aquela caixa. Eh pá vá lá, faz o que te digo, carácoles. Tás a ver? Estica o pescoço para dentro da clarabóia. Estás a ver? Cacilhas, carácoles e aquele sítio que tem os restaurantes onde a malta ia quando estava tudo cheio, nas noites deverão: o Ginjal, tás a ver o Ginjal? O Atira-te ao Rio?





- Bom tava-te a contar que fui lá pôr as lentes e da luz do Tugogénio, eh eh, não deve ser assim que se chamam as lâmpadas, aquelas que piscam antes de acender?





O Victor olha para o Armando e mede-o sem acabar de fechar a boca: Este gajo está-se a passar. Tenho de o tirar de aqui, dã-se. Victor olha à volta enquanto o Armandinho fala aquilo dos Filatelistas e que conversa da treta, pensa o Victor.





- Oh pá, vai dar banho ao cão, veste uma camisa pá e vamos ali à Barraca onde íamos há anos ver aqueles gajos dos Ena Pá 2000. Gandas tempos, um gaijo, um gaijo nunca sabia, nunca sabia como é que a noite ia acabar. Aquilo agora bebe-se uns copos assim depois do jantar e vou com uma amiga, depois do jantar, tás a ver, diz que há lá uma cena de Teatro, bute Nandinho, bute lá, põe-te a peito Nandinho! faz-te fino Nandinho! passo por cá depois do jantar para desceres. E saiu sem dar tempo ao outro de tugir.





Nem se levantou, ficou ali a ver-se olhar para as pantufas, o que fazia, para aumentar a auto-comiseração que o fazia sentir não ter nada a ver com aquilo que via, via-se de fora e pronto, não estava nessa. Não estou nessa Vanessa, disse o Armandinho alto quando se levantou para ir tomar duche. Bora lá, o Victor é um acelerado mas está-se bem e a amiga pode ser gira. Oh pá e que seja, carácoles? Armandinho fala sozinho muitas vezes, interrompe-se geralmente quando se quer pôr na ordem. Nessa parte ele não consegue ver-se de fora, como na parte das pantufas, desvia o olhar e sussurra para si próprio. Eh pá estás a falar sozinho, vê lá isso.





Às dez o Victor lá estava mais a amiga Márcia.





O Armandinho desce as escadas mais leve, diz-se (agora só a pensar) devia obrigar-me a isto mais vezes, um tipo arranja-se e fica mais leve, com menos culpa é o que é, mas qual culpa? A de não fazer a barba, fónixe, é sempre a mesma coisa, a culpa, a culpa. Bom mas devia fazer isto mais vezes, um gajo olha para o espelho quando vai ter com os outros, e aí vê-se, pelos olhos deles, só aí é que nos vemos, quando sabemos que os outros nos vão ver, é, é o mesmo que se passa com as casas, um gajo pode estar uma semana sem arrumar a casa, vai pondo as coisas no lixo, livrando os cinzeiros, puxa os lençóis pelas orelhas, abre as janelas e tá, e tá e vive assim uma semana, nem vê, não repara no que está a acumular, é o pó do pós dos cinzeiros virados, o amarrotado quente da cama puxada pelas orelhas há cinco dias, o lixo a transbordar com algumas embalagens já em equilíbrio entre o metal do balde e o vácuo, de repente tocam à porta, aí um gajo vê a casa, a partir do toque da campainha aquilo é como acenderem uma luz de projector num quarto com iluminação pró-queca:





Flash, um flash meu, é o que é. Quanto te batem à porta é que vês a casa. É como sair, vinha a pensar isso enquanto descia as escadas, tenho de vir aqui mais vezes. Tenho de me obrigar a sair. Já parecia que não me conhecia, hoje, quando comecei a fazer a barba.





O Victor olha para a Márcia, enquanto o Armandinho está a olhar para as três cadeiras que estão em sentinela, na forma, no palco, assim em contra luz, só preto.





Diz o Armandinho: - Aquilo é estranho. O Palco estão a ver? Parece aqueles palcos do Teatro depois do 25 de Abril, em que não havia cenários, era tudo com as mãos, imaginavas a chávena de chá, o cajado (o cajado era fácil), a garrafa, mas também não podiam ser todos os objectos, há uns que de certeza eles tinham de tirar da história porque com mímica iam levar muito tempo a descrevê-los.





O Victor e a Márcia voltam a olhar um para o outro, desta vez ela levanta as sobrancelhas com a expressão “qué isso minino” (a Márcia é Paulista).





O Armandinho não dá por nada, está mais leve, está reconciliado consigo, já pode até ser apresentado, “estás a ver? está-se bem. A brasileira é fixóla o Victor está numa de estar caladito, está-se muito bem”, diz a expressão facial dele.





O Armandinho vai à casa de banho, procura o interruptor, aquilo está escuro, é aqui, passou a ponta dos dedos pela parede até encontrar o rebordo e ligou, outra vez, ligou, para cima, para baixo e alternadamente os interruptores até que entreou e fez que bateu as palmas, e ficou à espera e assim a medo esboçou um gesto que parecia o de um pássaro a sacudir as asas sem querer fazer barulho, também não havia daquelas lâmpadas com censores. Olhou para cima e conseguiu ver o luzir alaranjado da lâmpada cilíndrica do tecto.





Armandinho vai ao balcão e o rapaz que estava ali até a estudar enquanto aquilo dura, levanta os olhos do livro que tem aberto logo por debaixo do tampo do balcão onde o Armandinho tem a mão pousada ouve-o:





- Desculpe mas parece-me que a lâmpada do tubogajogénio está fundida.





- Tubo quê? – Pergunta o rapaz ainda antes da dúvida este gajo está a gozar comigo?





- Eh pá desculpe, não sei como se chamam. A lâmpada da casa de banho está fundida, há outra luz? estás a ver?





O rapaz do bar diz que não sabe, sem uma palavra, só com o franzir dos lábios para baixo, assim em arco quase beicinho. Sei lá.





Começa o espectáculo, as luzes apagam-se, faz-se silêncio e por momentos o Armandinho ouve mesmo o bzzr bzzrr intermitente da lâmpada lá como raio se chame a zunir, logo sobre o zunir da lâmpada há um reflexo mínimo alaranjado que é do filamento que está a luzir. Filamento, olha estão a pedir uma palavra





- A gente diz uma palavra e eles fazem o teatro a partir dali. Este é o Victor a explicar à Márcia o que está a acontecer. Armandinho estava absorto a olhar para a porta da casa de banho. A Márcia e o Victor olhavam para ele enquanto continuavam a conversar, olhando-o ambos, sem se olharem entre si, até que ele elevou a voz para dizer o que disse “A gente diz uma palavra e eles fazem o teatro a partir dali.”





- Filamento. Diz logo o Armandinho.





- Filamento, filamento, filamento, dizem em tom de voz pensativo/introspectivo os três actores enquanto dão uma série de voltinhas às cadeiras de há pouco, as que pareciam sentinela.





A luz volta a baixar, agora muito suavemente, eles estão sentados agora em cima das cadeiras, em posições tipo o “Pensador”, a luz chega à escuridão total menos o raio da lâmpada que luz e o Armandinho olha outra vez para lá e o Victor olha para as mãos que fecha, mesmo assim, naquela penumbra, os zumbidos do filamento fazem-lhe luzir o anel mesmo antes da pedra verde. O Victor é do Sporting e comprou aquilo num antiquário em Benidorm que o convenceu que o anel era de um pirata, o anel era verde e o Victor era do Sporting, e pronto trás, pum cantrapum: anel de pirata do Sporting.





- De prata, perguntou-lhe a sogra quando ele contou a história lá em casa, no almoço de Domingo.





- De pirata, falou ele mais alto.





A mulher deu-lhe uma canelada, assim de lado mas com a ponta do f. da p. do sapato que se o apanho no chão. O Victor lá se controlou, engoliu a dor na canela e repetiu mansinho. - Pirata D. Júlia. Pirata do Sporting.





Isto fora na véspera, hoje dissera à mulher que ia com o Antunes ver os equipamentos para o torneio de Footsale da empresa, que já estavam atrasados e que a malta que tinha dado o dinheiro já andava a gozar com eles.





Agora estava ali, sem saber como iam voltar a falar normalmente. Dantes falavam logo, a coisa acontecia e falavam logo, agora não, passa um dia, passa dois dias e aquilo fica ali, como uma batata mal migada na sopa, um trambolho, a meio. Bom e o Armandinho que está porreiro, a Márcia não o conhece, é verdade que ele está assim pró estranho com aquela coisa da mímica e dos teatros dos anos 70, diz cada coisa de repente.


















O pianista, está ali o pianista. Foi a primeira coisa que se viu quando a luz encarnada começou a subir. É uma senhora que faz as luzes, ali desde uma mesinha. Sorri-lhe, ela parece fazer aquilo por causa da folga de alguém, mas está serena e feliz, olha para as luzes a subir e sorri enquanto gira os botões. Primeiras notas do piano, como o piano é quente para a alma, às primeiras notas depois do silêncio fica tudo cheio, o palco mudou de luz e está cheio, com os actores que chegaram, o piano e começam a viver uma história, que fazem logo ali, à nossa frente. Filamento que raio de palavra fui dizer. E porque é que não estou calado? Agora vão todos ter de levar com uma história feita sobre o “filamento “.

Servidores do Judiciário cobram reposição salarial

*****PORTAL DO SERVIDOR PÚBLICO DO BRASIL*****


BSPF - 21/08/2014 


Nesta quinta-feira (21/08), dirigentes do Sindjus/DF e da Fenajufe foram recebidos pelo presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, no salão branco do Supremo, antes da sessão plenária. Estiveram presentes os coordenadores Cledo Vieira, Jailton Assis, e Tarcisio Ferreira. Na rápida conversa, reivindicada durante atividade de greve organizada pelo sindicato no dia anterior, o ministro foi cobrado a buscar negociação com o Poder Executivo e a garantir dotação orçamentária para a implementação do PL 6613/09.


Lewandowski disse estar do lado dos servidores e colocou-se à disposição para buscar o governo para negociar, mas disse considerar difícil tratar do reajuste previsto no substitutivo ao PL 6613/09, em razão de seu impacto orçamentário. Segundo ele, seria conveniente pensar em alternativas que pudessem ser levadas ao governo e facilitassem a aprovação do reajuste, como estariam pensando os magistrados. No entanto, defendeu a negociação, com este governo, de um percentual já para o próximo ano, de modo a aliviar a defasagem salarial dos servidores. O diretor-geral do STF, Amarildo Vieira de Oliveira, teria ficado incumbido de apresentar estudos para avaliação do presidente.


Os dirigentes da Fenajufe e do Sindjus/DF defenderam a tabela do substitutivo, dizendo que desde o plano de cargos e salários de 2006 não houve reposição inflacionária, e que o impacto do reajuste na folha é inferior à inflação do período. Foi dito ainda que eventual proposta deve ser resultado de negociação e submetida à categoria. Além disso, os dirigentes defenderam uma atuação conjunta entre o Judiciário e o MPU, para o reajuste de ambos os segmentos.


Na semana anterior, por determinação de Lewandowski e acompanhado do secretário-geral do MPU, Lauro Cardoso, o diretor-geral do STF procurou o secretário de Relações de Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, para apresentar as demandas salariais de Judiciário e MPU. Mendonça foi receptivo, mas alegou não que teria autonomia para negociar, e dependeria de determinação superior. Ainda assim, teria adiantado possível dificuldade na inclusão do reajuste no orçamento. Ele teria dito que, com relação ao Executivo, a determinação é de que não haja negociação salarial neste período.


Os servidores vêm cobrando a reposição das perdas salariais que já passam dos 40%, e estão em greve que se espalha pelo país. A categoria cobra a garantia de recursos no orçamento, e negociação efetiva entre Executivo, Judiciário e MPU pela aprovação dos reajustes no Congresso.


A sinalização de Lewandowski é positiva com relação à possibilidade de negociar com o governo. Porém, de acordo com Cledo Vieira, “nada está garantido e a categoria precisa fortalecer a mobilização”.


Na avaliação de Tarcísio Ferreira, “não cabe falar em alternativas antes de negociar, pois sequer o menos está garantido. É preciso fortalecer a mobilização para que o Judiciário enfrente a intransigência do governo e garanta a recomposição dos nossos salários”.


No ato nacional programado para o dia 27 de agosto, às 15h, no STF, a categoria vai cobrar uma posição mais firme do ministro Lewandowski e exigir a negociação do reajuste com o governo, tendo em vista a autonomia constitucional do Poder Judiciário e o processo de elaboração do orçamento da União para o próximo ano.


Fonte: Fenajufe