Intoxicados da Funasa (Ex-Sucam)
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Deputados,
Recebí em meu gabinete, correspondência dramática
de representantes da Comissão dos Intoxicados da Funasa
(Ex-Sucam), pedindo socorro. Anexo à carta, segue uma
lista das vítimas de um crime impune cometido pelo
Governo Federal, mais específicamente pela ex-Sucam,
atual Funasa.
Senhoras deputadas e deputados. É uma histórico de
negligência médica, abandono de servidores públicos
federais à própria sorte e descaso com o ser humano nesta
história que depõem contra um governo que se diz
defensor da classe trabalhadora.
Relatos dramáticos e acusações de negligência e
descaso contra a Fundação Nacional de Saúde (Funasa),
órgão federal que substituiu a antiga Sucam chegaram ao
meu conhecimento. Ouvi alguns desses relatos e fiquei
estarrecido.
Há um ano atrás, desta mesma Tribuna requeremos
providências à Funasa para que resolva de forma definitiva
o problema destes servidores que literalmente estão dando
a própria vida no duro combate às endemias tropicais como
malária, dengue e febre amarela que assolam os rincões
da Amazônia.
Já são quinze o numero de mortos em decorrência do
envenenamento de substâncias que há pelo menos duas
décadas são proibidas em países da Europa e da América
do Norte.
Nesta luta, os agentes de Saúde da Funasa foram
contaminados ao longo dos anos por pesticidas usados
pela extinta Sucam. Tinham contato direto com substâncias
altamente tóxicas como o Dicloro-Difenil-Tricloroetano
(DDT), Malation, Caltrim e Canition.
A primeira denúncia de contaminação por DDT e
Malathion, outro inseticida utilizado pelos soldados mata-
mosquitos aconteceu na década de 90, feita pelo Sindicato
dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (Sintsep-
PA). Agentes de saúde da Sucam que trabalharam nas
campanhas de combate e controle das diversas endemias
manusearam constantemente os produtos químicos sem
qualquer proteção e orientação para uso ou cuidados
preventivos.
O problema apresenta dois momentos que dizem
respeito à relação causal entre a exposição aos produtos
tóxicos e os danos à saúde dos servidores: o primeiro, que
caracteriza uma situação de total negligência e imprudência
por parte da Sucam à época, deve-se à ausência de
capacitação profissional, a falta de equipamentos eficazes
de proteção e a falta de exames periódicos nos servidores,
além da inadequação de armazenamento dos produtos
químicos, além da indisponibilidade de serviços de
medicina ocupacional e de segurança no trabalho.
O outro momento é o quadro atual: de doença dos
trabalhadores,
desassistência e baixa qualidade de vida, morrendo
lentamente. Estudos especializados
agentes químicos que compõem o DDT são de grande
periculosidade
permanecer por muitos anos no meio-ambiente e no
organismo dos seres vivos. No seres humanos o DDT
provoca traumas no sistema nervoso central, resultando em
alterações de comportamento, alteração de equilíbrio,
alteração da atividade da musculatura involuntária e
depressão de centros vitais, como a respiração.
Mas,
deputados, o que mais nos deixa chocado é a maneira
como a Funasa, órgão do Governo Federal vem tratando
estes servidores.
Temos informações que a Fundação Nacional de
Saúde não cobre custos com o tratamento médico, não
paga exames aos doentes, que não tem ainda o direito ao
tratamento toxicológico correto que poderia salvar-lhes a
vida.
justiça para evitar pagar direitos inalienaveis daqueles
que
estão
e
de
senhor
presidente,
Por outro lado,
a FUNASA faz questão apelar a
pobres servidores que estão morrendo aos pouco porque
no cumprimento do dever dedicaram-se ao extremo
arriscando a propria vida.
Quinze funcionários so do Distrito Sanitário de
Conceição do Araguaia, no Sul do Pará, já morreram na
em
conseqüência
notadamente o DDT. De acordo com a correspondencia
que recebí, são as seguintes pessoas: Abel Conceição,
Alagilson, Etevaldo Cavalcante, José Araujo dos Santos,
Decocleciano,
Evandro, Alcindo, Eduardo, Welington Charles, Edilson
Ferreira Caminha, Floriano, Francisco Jorge dos Santos e
José Idemar da Cruz Oliveira, este ultimo apenas com 38
anos de idade, conforme certidão obito em anexo.
Com o uso continuado sem proteção devida, pois, a
Sucam, à época, não fornecia qualquer equipamento de
proteção pessoal aos seus funcionários, que hoje sofrem
as conseqüências do uso do veneno proibido. Os sintomas
são os mais diversos, como, por exemplo, suor excessivo,
fraqueza, tontura, convulsões, irritabilidade, dor-de-cabeça,
perda de memória e mais uma série de distúrbios
neuropsicológicos. Mas os sintomas não param por aí. Há
casos mais graves de funcionários da Funasa que tiveram
problemas cardíacos, insuficiência respiratória, edemas
pulmonares, sangramento freqüente no nariz, diabetes
transitória, formigamento das mãos e pés, além de mais de
da
Benevaldo,
uma dezena de doenças de pele, cólicas e outras como
dores abdominais, etc.
É um terror o estado de desespero dos familiares que
são obrigados a conviver com tanta dor e sofrimento de
pais de família, servidores públicos federais, que no auge
dos êxitos do combate a essas endemias, já foram
carinhosamente chamados de soldados mata-mosquitos.
Graças a seu desassombrado trabalho, salvaram e
evitaram a contaminação de milhões de brasileiros e
turistas que todos os anos visitam a Amazônia ou lá
residem.
Senhor presidente, eu não consigo compreender
como o governo federal, através de seus órgãos de
fiscalização, atuem com tanto zelo e rigor, para não dizer
truculência de algumas operações acompanhadas de
policiais
petulantes do Ministerio do Trabalho equipes de televisão
previamente avisadas, tudo de acordo com o figurino de
quanto mais espetacular e espalhafatoso melhor, que
cercam as fiscalizações contra infrações nas relações de
trabalho em fazendas e agroindústrias naquela região do
país, notadamente em meu estado: o Pará.
São dois pesos e duas medidas. Como defensor das
Leis, o governo federal tinha que dar o exemplo nas
relações trabalhistas. Porém, rasga as normas quando se
federais
armados
trata de acolher e respeitar os direitos dos seus próprios
funcionários da Funasa.
Enquanto
Procuradores Federais enquadram com multas milionárias
produtores rurais acusados de praticar trabalho escravo, o
mesmo governo, não trata com dignidade e respeito os
trabalhadores sob sua responsabilidade.
Os trabalhadores da iniciativa privada são protegidos,
os seus próprios servidores morrem à míngua, por falta de
tratamento médico de um mal que o próprio governo é
responsável, como é este caso dos servidores da Funasa
É desumano, é anti-cristão, é ilegal. É, senhor
presidente, senhoras e senhores deputados, imoral o que
a Funasa vem fazendo com esses servidores que estão
jogados à própria sorte. Sem recursos para comprar
remédios, sem dinheiro para fazer um exame. Estão
condenados à morte como nem os animais são tratados
hoje em dia.
Exijo do Governo Federal providências imediatas para
salvaguardar a vida desses servidores e garantir-lhes os
direitos sobre indenizações que já correm ao longo desses
anos na esfera judicial. Muitas delas ganhas e não pagas.
O
Vasconcelos,
Legislatoiva do Estado do Pará, depois de lembrar que já
se passaram nove anos desde a primeira denúncia pública,
que
o
coordenador
em
geral
audiência
baseada em exames positivos de intoxicação por DDT,
exigiu que a Funasa reconheça a situação como acidente
de trabalho. Ele lamentou que os servidores de um órgão,
que se ocupa da saúde pública, tenham de ajuizar ações
na Justiça para ter direitos mínimos. Segundo o dirigente,
os contaminados são em torno de 300, mas pode ser bem
mais que isso, e pediu que a Funasa faça exames
toxicológicos dos “outros funcionários”. O Sintsep quer
também exames médicos para os familiares dos servidores
que manusearam o DDT, por suspeitar que eles tenham
sido expostos.
Cedício enumerou alguns casos de hipertensão,
amnésia temporária, entre outros sintomas, e até mesmo
casos de óbitos, que ainda não foram esclarecidos. “Por
causa disso”, alertou o dirigente, “há servidores que
mergulharam no alcoolismo e na depressão”. Além do
reconhecimento da contaminação como acidente de
trabalho, o Sintsep solicitou que a comissão intervenha
junto à Funasa para que esta faça exames periódicos e dê
tratamento clínico, psicológico e neurológico aos servidores
afetados, bem como a retomada do processo de
aposentadoria de alguns servidores (que se aposentaram
sem benefícios de saúde).
O Sintsep também quer que a comissão apure o
porquê do descaso da Funasa em relação ao problema.
“Não dá mais para suportar essa situação. Há nove anos
que os servidores vêm lutando na Justiça e a Funasa vem
derrubando os direitos conquistados”, desabafou Cedício,
referindo-se à derrubada de algumas ações (Antecipação
de Tutela) impetradas pelo Sintsep para que a Funasa
prestasse assistência aos contaminados.
Peço ao presidente da Funasa. Um homem o qual
tenho todo respeito e consideração, leve à Casa Civil esses
fatos que aqui lamentavelmente narrei, para que se possa
fazer justiça com essas centenas de pessoas, servidores
públicos federais da Funasa (ex-Sucam), que deram a vida
pela saúde dos povos da Amazônia.
Solicito à presidência da Casa que articule com a
Comissão de Direitos Humanos as medidas cabíveis e que
convoque os responsáveis para as explicações necessárias
em uma audiência pública com os servidores afetados.
Gostaria que Ministério Público Federal averiguasse a
vericidade destas denúncias.
Senhor presidentes, gostaria ainda que a Casa envie
correspondência aos órgãos competentes para que esse
problema tenha solução razoável que possa reparar este
descaso histórico que abala a credibilidade do governo,
jogando na lama reputações e biografias.
Proponho que a Funasa preste assistência médica
nos municípios onde servidores foram contaminados pelo
DDT; reintegre os demitidos pelo Plano de Demissão
Voluntária; indenize os servidores por danos à saúde;
amplie e se responsabilize pelos exames médicos a todos
os ex-funcionários da Sucam.
Muito obrigado.
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