O futuro da universidade pública no Brasil
Folha de S. Paulo - 11/03/2013
É hoje consenso entre intelectuais, governos e executivos
de empresas que a universidade é componente essencial para o desenvolvimento das
nações. Há uma correlação inequívoca entre a qualidade do sistema universitário
e a qualidade de vida dos cidadãos de um país.
A universidade pública brasileira é, reconhecidamente,
ineficiente, embora algumas tenham uma certa qualidade e outras contenham nichos
de excelência.
A ineficiência é ocasionada por uma convergência de fatores
perniciosos, dentre os quais se destacam excessos burocráticos, corporativismo e
diluição de autoridade e de responsabilidades.
A divulgação recente de um bem-intencionado plano de
carreiras e cargos do magistério federal provocou convulsões nos meios
acadêmicos nacionais. A principal razão dessa revolta é a exigência de concursos
de entrada exclusivamente no início da carreira, ou seja, na posição de auxiliar
de ensino.
Isso certamente compromete a qualidade da universidade,
porém é inevitável --decorre do regime jurídico do servidor
público.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)
registra, há mais de dez anos, uma experiência bem-sucedida com uma fórmula de
gerenciamento inovadora, denominada Organização Social (OS). Ela é aplicada em
vários de seus institutos de pesquisa.
Soluções semelhantes têm sido experimentadas em setores de
saúde e outros por diversos governos estaduais e municipais, com relativo êxito.
A fórmula é simples. Um contrato, dito de gestão, é firmado entre governo e uma
entidade privada, a OS, para gerir uma instituição.
Esse contrato estabelece objetivos e metas a ser alcançados
em períodos de tempo estabelecidos. Limites podem ser afixados para recursos
destinados a administração, a investimentos, a pessoal etc. Distribuição de
recursos para diferentes áreas de atuação também podem ser decididos com
flexibilidade negociada entre o governo e a OS. Com isso, é possível que se
dimensione e até mesmo se interrompa a gestão.
Pesquisadores, funcionários e dirigentes são contratados no
âmbito da CLT. Institutos (ou centros) ligados ao MCTI de origem recente foram
facilmente convertidos em OS.
Os mais antigos, como, por exemplo, o excelente Instituto
Nacional de Matemática Pura e Aplicada, passam por uma transição lenta e
cuidadosa. Os membros originais são mantidos em suas categorias funcionais, mas
pesquisadores e funcionários são contratados pela OS de acordo com a CLT.
Previdência complementar é oferecida por cada OS.
Uma transição para Organização Social da universidade
pública não seria realizável em anos, mas apenas em décadas. Talvez seja o
momento de iniciar um projeto piloto e colher resultados.
Estamos convencidos de que soluções que não mudem
radicalmente a estrutura jurídica básica da universidade pública brasileira
serão inúteis, pois o corporativismo interno não será neutralizado por medidas
paliativas.
Submetida ao atual regime jurídico, a universidade pública
brasileira está condenada à mais impermeável mediocridade.
Rogério Cezar de Cerqueira Leite, 81, físico, é professor
emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro do Conselho
Nacional de Ciência e Tecnologia e do Conselho Editorial da
Folha