Solo de 16 municípios do Acre está contaminado por DDT, diz pesquisa
Resíduos do pesticida foram encontrados em casas ainda habitadas. Ao todo, foram coletadas 320 amostras de solo durante dois anos de projeto.
29/06/2015 09h40 - Atualizado em 29/06/2015 11h16
Pesquisadores coletaram solo ao redor de casas onde DDT era aplicado e também onde foi armazenado (Foto: Divulgação)
Apontado como o responsável pela morte de pelo menos 240 ex-guardas da extinta Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam), o pesticida Diclorodifeniltricloroetano (DDT), usado na década de 70 a 90 para o controle mosquito da malária na região amazônica, foi encontrado no solo de 16 municípios do Acre. É o que revela uma pesquisa feita pelo professor do Instituto Federal do Acre (IFAC), Luis Pedro de Melo Plese. O estudo avaliou o solo de 17 municípios do estado e durou dois anos.
Segundo o professor, o objetivo da pesquisa era identificar essas áreas para que fossem realizadas ações de descontaminação. O DDT era aplicado por ex-servidores da Sucam, que atualmente lutam na Justiça para serem reconhecidos e terem atendimento prioritário na saúde pública. A Associação DDT e Luta Pela Vida estima ao menos 247 mortes de ex-agentes pela contaminação do pesticida.
Foram analisados os municípios de Rio Branco, Bujari, Plácido de Castro, Acrelândia, Porto Acre, Capixaba, Senador Guiomard, Xapuri, Epitaciolândiax, Assis Brasilx, Brasileia, Sena Madureirax, Manoel Urbanox, Feijóx, Tarauacáx, Cruzeiro do Sulx e Mâncio Lima. Desses, somente no Bujarinão foi detectada a contaminação.
O projeto coletou 320 amostras de solos com profundidade de 0 a 10 centímetros ao redor das casas onde o produto foi aplicado e também nos locais onde eram armazenados. Segundo Plese, muitas dessas residências ainda são habitadas e mesmo assim, ainda são encontrados traços do DDT na madeira dessas moradias.
"Não precisamos coletar um solo tão profundo, porque esse produto tem a característica de ser pouco móvel e tende a ficar fixo em solos como argila e matéria orgânica. Ficamos um pouco assustados devido ao tempo que o DDT foi aplicado nesses locais e continua permanecendo no solo, alguns lugares tiveram aplicação há mais de 10 anos. Existem relatos de locais em que foi aplicado há mais de 20 anos e ainda podem ser encontrados resíduos", explicou.
De acordo com pesquisador, muitas casas ainda são habitadas e moradores correm risco de contaminação (Foto: Divulgação)
De acordo com Plese, o DDT é um pesticida que faz parte da classe dos organoclorados com característica bioacumulativas que podem persistir por décadas. As amostras foram encaminhadas para análise em um laboratório de Recife (PE). Somente o município de Bujari ficou com o teor de contaminação abaixo do que é definido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Porém, os municípios que apresentaram maior teor residual médio foram Brasileia 3,41 mg/kg, Plácido de Castro 1,17 mg/kg, Rio Branco 1,12 mg/kg, Xapurix 0,91 mg/kg e Capixabax 0,71 mg/kg.
"A metodologia utilizada por esse laboratório só detectava como contaminação um teor presente de DDT acima de 0,02 mm por quilo de solo e alguns lugares ficaram abaixo. Entretanto, houveram outros valores que deram muito acima, alguns chegaram a 54mg/kg de solo, outros lugares deram 15mg/kg, 8mg/kg ou 3mg/kg, mas todos muito altos", destacou.
Ciclo de Contaminação
A equipe que participou da pesquisa contou com o apoio do ex-guarda da Sucam e presidente da Associação DDT e Luta Pela Vida , Aldo Moura, de 63 anos. Segundo Plese, Moura e outros trabalhadores mostraram locais onde o DDT foi aplicado mais de 16 vezes. Ele destacou ainda que assim como os funcionários que tiveram contato direto com o produto hoje enfrentam doenças, as pessoas que ainda residem em locais onde há resíduos do pesticida podem enfrentar um ciclo de contaminação.
A equipe que participou da pesquisa contou com o apoio do ex-guarda da Sucam e presidente da Associação DDT e Luta Pela Vida , Aldo Moura, de 63 anos. Segundo Plese, Moura e outros trabalhadores mostraram locais onde o DDT foi aplicado mais de 16 vezes. Ele destacou ainda que assim como os funcionários que tiveram contato direto com o produto hoje enfrentam doenças, as pessoas que ainda residem em locais onde há resíduos do pesticida podem enfrentar um ciclo de contaminação.
"Essa pessoa pode criar uma simples galinha no quintal que consome aquele material, depois ela vai consumir o animal e a pessoa acaba sendo contaminada. Outro aspecto que percebemos, é que existem resíduos em áreas próximas do rio, como temos grandes cheias no períodos das chuvas, muitos desses solos são levados pelo escoamento para o rio. Nesse caso, possivelmente contaminam os peixes que serão consumidos, gerando um ciclo de contaminação. Por isso, além do solo, precisaríamos coletar amostras na água, sedimento que fica na água e cadeia alimentar do rio", disse.
Plantas e bactérias são alternativas para recuperação do solo
De acordo com Plese, o processo de recuperação seria diferente para cada município por causa da diferença do teor de DDT. Segundo ele, os locais que não foram considerados contaminados, segundo a medição do Conama, não precisam do processo de descontaminação. Entretanto, nos outros poderiam ser usadas bactérias e plantas para absorver o pesticida.
De acordo com Plese, o processo de recuperação seria diferente para cada município por causa da diferença do teor de DDT. Segundo ele, os locais que não foram considerados contaminados, segundo a medição do Conama, não precisam do processo de descontaminação. Entretanto, nos outros poderiam ser usadas bactérias e plantas para absorver o pesticida.
“Poderíamos usar várias tipos diferentes de tecnologias de recuperação. Algumas alternativas que já são usadas, são bactérias ou plantas que absorveriam esses resíduos, esse seria uma técnica mais viável e barata. É claro, existem outras técnicas mais sofisticadas só que com valor bem mais alto, mas tudo isso precisaria de um estudo para determinar a forma mais eficaz de descontaminação”, finalizou.
'Fila de Morte'
A Associação, montada pelo ex-agente Aldo Moura, contabiliza ao menos 243 mortes de ex-servidores da Sucam pelo contato direto com o pesticida. Atualmente, esses homens esperam uma decisão da Justiça por indenização e uma assistência prioritária. A última morte registrada foi no dia 14 de abril.
A Associação, montada pelo ex-agente Aldo Moura, contabiliza ao menos 243 mortes de ex-servidores da Sucam pelo contato direto com o pesticida. Atualmente, esses homens esperam uma decisão da Justiça por indenização e uma assistência prioritária. A última morte registrada foi no dia 14 de abril.
O MPF-AC aguarda decisão da justiça sobre a ação, que está parada no Tribunal Regional Federal, da 1º região, desde agosto 2013.
Os homens que tiveram contato com o pesticida DDT, se queixam de dores nas articulações, coceira no corpo e, em seguida, disfunção de órgãos como rins e coração.
Em matéria publicada pelo G1 no dia 12 de fevereiro deste ano, o Ministério da Saúde afirma que a contaminação não é comprovada. Já, o toxicologista de São Paulo, Anthony Wong, explica que os ex-funcionários estão intoxicados, não só pelo contato com o DDT, mas pelos solventes à base de petróleo usados na mistura para obter o veneno.
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