Optar pela carreira de servidor e
decidir em qual segmento dela atuar nem sempre é tarefa fácil. Especialistas
orientam aspirantes na missão
Nathalia Goulart
As diferentes esferas do setor público oferecem condições atraentes para
profissionais que sonham em atuar nesse segmento do mercado e também para
aqueles que procuram boas oportunidades de trabalho em geral. Entre os
atrativos, destacam-se salários (em média mais altos do que os pagos no setor
privado), planos de carreira definidos e, é claro, estabilidade. Em alguns
casos, é relativamente fácil saber a que lugar da administração pública o
candidato é mais adequado. É o caso dos formados em direito, cuja graduação é
exigência para o preenchimento de vagas de juízes e procuradores, por
exemplo.
Optar pela carreira de servidor e decidir em qual segmento dela atuar,
contudo, nem sempre é tarefa fácil. As vagas oferecidas pelos diferentes órgãos
públicas são taxativas quanto ao grau de escolaridade dos candidatos. Por
exemplo: o candidato deve ter ensino médio completo em determinado concurso; em
outro, superior. Porém, em muitos casos, essa é a única exigência, ou seja,
podem se apresentar para o posto profissionais com formação diversa.
Este é apenas um item que o aspirante a servidor deve levar em conta. Para
dedicar-se à missão de ser aprovado em um concurso – tarefa que, em média,
consome ao menos um ano de estudos –, ele precisa analisar sua disponibilidade
para a preparação e sua vocação profissional. VEJA.com ouviu especialistas para
orientar aspirantes na tarefa: os estudiosos apresentam questões cruciais que
devem ser consideradas pelo candidato. O primeiro passo, dizem os especialistas,
é determinar para qual área o candidato vai dirigir suas energias. Estudar sem
um foco claro é um erro comum e determinante para o fracasso.
Foram ouvidos Evandro Guedes, diretor administrativo do curso preparatório
AlfaCon, e José Luis Romero Baubeta, diretor de recursos humanos do curso
preparatório Central de Concursos.
Passo a passo para a escolha de um concurso público
Qual é seu perfil profissional?
Antes de escolher em qual concurso público mirar, é preciso refletir se as
atividades do funcionalismo público vão ao encontro de suas expetativas. Não há
dúvidas de que o serviço público oferece inúmeras vantagens. A primeira delas
são os salários. Em média, um servidor recebe 93% a mais que um funcionário da
iniciativa privada. Outro ponto positivo é a estabilidade – demissões são casos
raros e os servidores não estão à mercê de crises econômicas nem flutuações no
mercado de trabalho. Por fim, o setor público oferece mais qualidade de vida a
seus empregados, com jornadas de trabalho definidas e menos horas-extras.
Apesar do quadro animador, existem ressalvas: o setor público é pouco
dinâmico e bastante burocrático. Profissionais com perfil empreendedor e que
gostam de se deparar a todo momento com novos desafios no ambiente de trabalho
poderão se frustrar, assim como aqueles que buscam uma rápida ascensão
profissional. Além disso, uma boa colocação no funcionalismo, que pode trazer
remuneração acima de 10.000 reais, exige anos de preparação. É preciso ser
paciente e determinado nos estudos. E, acima de tudo, se perguntar: você tem
disposição para tanta dedicação?
O que diz o especialista:
“É preciso haver identificação com a carreira pública. Se um candidato não
gosta de armas, ele não pode se preparar para um concurso da Polícia Rodoviária
Federal apenas porque o salário é atraente. Profissionais muito empreendedores
também precisam refletir sobre a opção de migrar para o setor público, que é
mais 'engessado' e burocrático.”
Evandro Guedes, diretor
administrativo do curso preparatório AlfaCon
Qual é sua disponibilidade para os estudos?
A aprovação em um bom concurso público pode exigir anos de estudos. É preciso
estar financeira e psicologicamente preparado para dedicar-se aos livros. Para
quem deseja aprovação imediata ou precisa de uma remuneração fixa para seguir
estudando, os especialistas aconselham: comece com provas para cargos mais
baixos, que são feitas com frequência, oferecem muitas vagas e são menos
concorridas. É o caso de concursos para a área bancária. Uma vez aprovado, o
candidato pode obter remuneração em torno dos 3.000 reais e seguir se preparando
para provas mais concorridas e salários mais atraentes em outros órgãos.
Quem está empregado na iniciativa privada e não quer ou não pode abdicar do
trabalho para dedicar-se às apostilas, deve conciliar as atividades. Mas é
preciso muita disciplina e força de vontade.
O que diz o especialista:
“Aprovação em concurso público não é um plano de curto prazo. É preciso
bastante preparação. O candidato deve se questionar se está disposto aos
sacrifícios necessários.”
José Luis Romero Baubeta, diretor de
recursos humanos do curso preparatório Central de Concursos
Qual é o seu grau de escolaridade?
Em geral, os concursos são divididos em duas categorias, conforme o grau de
exigência em relação à formação acadêmica dos candidatos: os de nível médio e os
de nível superior. Na primeira modalidade, os salários podem chegar a 7.000
reais. Na segunda, o teto salarial é de cerca de 28.000 reais. Esse é o grande
divisor de águas na área de concurso público. E determina: quem quer vencimentos
mais altos, precisa estudar mais.
O que diz o especialista:
"Em todas as esferas e áreas existem oportunidades para servidores de níveis
médio e superior. O diferencial é o salário e o grau de dificuldade. Muitos
estudantes que ainda estão cursando a universidade recorrem aos cargos de nível
médio para custear sua formação. Assim que finalizam a graduação, passam a
almejar postos mais altos, que exigem diploma."
Evandro Guedes,
diretor administrativo do curso preparatório AlfaCon
Em qual esfera você deseja atuar?
As três esferas do poder – municipal, estadual e federal – realizam concursos
públicos para preencher seu quadro de funcionários. Em geral, as vagas
municipais oferecem salários bem menos atraentes do que as demais. Já as vagas
federais são as mais cobiçadas, por oferecerem remuneração mais alta e
benefícios diferenciados, como aposentadoria integral.
Quais são as grandes áreas de atuação do servidor?
Os concursos públicos podem ser divididos em seis grandes áreas, sendo que em
todas elas há lugar para profissionais com formação de nível médio e superior. É
hora de analisar as atribuições de cada uma e eleger aquela com a qual você tem
mais afinidade. Nessa etapa, o candidato pode visitar repartições públicas e
conversar com pessoas que já foram aprovadas para as funções que despertem seu
interesse. Conheça as áreas:
Bancária
Ex.: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal
Policial
Ex.: Guarda Metropolitana, Polícia Civil, Polícia Militar,
Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal
Fiscal
Ex.: Receita Federal, secretarias estaduais de Fazenda
Administrativa
Ex.: Agências reguladoras (Anvisa, Anac), ministérios,
Ibama, INSS, Correios, Petrobras
Tribunais
Ex.: Tribunais federais, tribunais regionais, Defensoria
Pública
Especiais
Ex.: Instituto Rio Branco
O que dizem os especialistas:
“As áreas são bastante distintas. Quem se dedica a conquistar uma vaga na
Polícia Federal dificilmente conseguirá aprovação em um concurso da Receita
Federal. Por isso, estabelecer um foco de estudo é fundamental. É impossível
estudar para todas as áreas ao mesmo tempo.”
Evandro Guedes, diretor
administrativo do curso preparatório AlfaCon
Quando é preciso ter formação superior específica?
Com exceção de determinadas vagas na área policial e de tribunais, a
esmagadora maioria das vagas de nível superior não exigem formação específica.
Qualquer pessoa com diploma universitário está apta a entrar na disputa. Apenas
candidatos a postos na área policial terão de enfrentar testes físicos. Em
alguns casos particulares, órgãos municipais, estaduais e federais realizam
concursos para profissionais específicos, como engenheiros ou enfermeiros.
Nesses casos, as vagas são bastante limitadas.
O que diz o especialista:
"Não existe uma norma dizendo que apenas contadores ou economistas podem ser
auditores da Receita Federal, por exemplo. É claro que quem adiquiriu
conhecimentos de matemática financeira na universidade terá mais facilidade em
se preparar para a prova. Isso não quer dizer, porém, que outros profissionais
estejam mais distantes da aprovação."
José Luis Romero Baubeta,
diretor de recursos humanos do curso preparatório Central de
Concursos
É preciso mudar de cidade para disputar boas vagas?
Grandes órgãos federais, como o Banco Central, por exemplo, possuem
repartições apenas em capitais. Na área jurídica, boas oportunidades podem
surgir em tribunais regionais longe da cidade natal do candidato. Por isso, o
concurseiro interessado nas melhores vagas deve estar disposto a se mudar,
principalmente aqueles que almejam postos federais e estaduais. Quem reside em
cidades do interior e não deseja se restringir a concursos municipais
dificilmente encontrará boas oportunidades se não estiver disposto a fazer as
malas.
O que diz o especialista:
“Esse é um ponto importante, que precisa ser levado em conta. Se o candidato
tem receio de mudar de cidade, precisa escolher concursos que permitam que ele
fique em seu município. Já quem está disposto a se mudar deve colocar na ponta
do lápis o custo de vida em outras localidades. A mudança pode não valer a pena
financeiramente.”
José Luis Romero Baubeta, diretor de recursos
humanos do curso preparatório Central de Concursos
É preciso estudar por quanto tempo?
Essa não é uma conta fácil de fazer. O tempo médio de estudo pode variar – e
bastante. Geralmente, quanto maior a remuneração, mais difícil é o exame. Para
cargos de nível médio e alguns de nível superior, a média de preparação é de
seis meses a um ano. Para os salários mais altos, pode ser necessário enfrentar
de quatro a cinco anos de muita dedicação. É importante lembrar também que os
concursos não são realizados regularmente. Alguns editais levam anos para ser
aprovados – o que pode retardar ainda mais a aprovação.
O que diz o especialista:
"Aprovação em concurso público exige persistência. É preciso insistir para
chegar ao objetivo. Por isso, dedicar-se a conquistar uma vaga requer uma
conversa franca com a família e com os amigos mais próximos para que todos
estejam cientes dos sacrifícios que terão de ser feitos."
Evandro
Guedes, diretor administrativo do curso preparatório AlfaCon
Qual é seu perfil profissional?
Antes de escolher em qual concurso público mirar, é preciso refletir se as
atividades do funcionalismo público vão ao encontro de suas expetativas. Não há
dúvidas de que o serviço público oferece inúmeras vantagens. A primeira delas
são os salários. Em média, um servidor recebe 93% a mais que um funcionário da
iniciativa privada. Outro ponto positivo é a estabilidade – demissões são casos
raros e os servidores não estão à mercê de crises econômicas nem flutuações no
mercado de trabalho. Por fim, o setor público oferece mais qualidade de vida a
seus empregados, com jornadas de trabalho definidas e menos horas-extras.
Apesar do quadro animador, existem ressalvas: o setor público é pouco
dinâmico e bastante burocrático. Profissionais com perfil empreendedor e que
gostam de se deparar a todo momento com novos desafios no ambiente de trabalho
poderão se frustrar, assim como aqueles que buscam uma rápida ascensão
profissional. Além disso, uma boa colocação no funcionalismo, que pode trazer
remuneração acima de 10.000 reais, exige anos de preparação. É preciso ser
paciente e determinado nos estudos. E, acima de tudo, se perguntar: você tem
disposição para tanta dedicação?
O que diz o especialista:
“É preciso haver identificação com a carreira pública. Se um candidato não
gosta de armas, ele não pode se preparar para um concurso da Polícia Rodoviária
Federal apenas porque o salário é atraente. Profissionais muito empreendedores
também precisam refletir sobre a opção de migrar para o setor público, que é
mais 'engessado' e burocrático.”
Evandro Guedes, diretor
administrativo do curso preparatório AlfaCon