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BRASÍLIA – No meio da floresta rondoniense, um solitário servidor da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) lança o apelo em tom de angústia. Waldyr Madruga, antigo combatente do anofelino, o mosquito transmissor da malária, pede a sensibilidade do governo federal para socorrer borrifadores de Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT) no município de Jaru, cujos índices de sangue contaminado superam o limite de tolerância permitido pela Organização Mundial de Saúde. Jaru, a 285 quilômetros de Porto Velho, tem 55,8 mil habitantes. Exames feitos pelos servidores em um laboratório de Brasília revelou que a quantidade de DDT no sangue deles alcança índices até quase dez vezes o índice considerado normal no ser humano. Nos estados do Pará e do Acre alguns servidores deram entrada em ações judiciais por intoxicação por DDT. No Pará, servidores que entraram com ações pedindo indenizações por intoxicação já ganharam em primeira instância, mas a União recorreu e perdeu. Informa-se que essas ações chegarão até o julgamento no Supremo Tribunal Federal, devido à falta de jurisprudência quanto à responsabilidade administrativa da União pela intoxicação dos servidores da Funasa em todo Brasil, pelo manuseio do DDT.
Área endêmica de malária em Rondônia /JEISON ALFLEN-PROGRESSO VERDE
Alteração de células nervosas
A concentração elevada estaria causando degeneração nas articulações, paralisia de membros, alterações neurológicas, dores nos membros e desmaios. As vítimas guardam laudas médicos e documentos. O DDT provoca alteração na camada de mielina das células nervosas, cujo dano é irreversível. “Por causa disso tem-se perda de memória, paralisias, perda de reflexos etc", adverte Madruga. Ele conta que, em 2005, por iniciativa de um advogado recém-chegado a Rondônia, os "sucanzeiros" começaram a fazer testes de intoxicação por conta própria, sem plano de saúde. "Quando os resultados começaram a chegar vindos lá da região centro-oeste foi um espanto só de norte a sul de Rondônia: homens com níveis de DDT no sangue em quantidade duas, três, cinco e até quase dez vezes maiores que o índice considerado normal para um ser humano”, disse.
O Brasil usou o DTT por quase 50 anos. Com a Funasa o uso se estendeu até 1998. De acordo com o coordenador de Recursos Humanos do órgão, Adalberto Fulgêncio, até 1998 a Funasa capacitava os agentes forneciam-lhes equipamento de proteção individual e orientação de como deveriam ser utilizados todos os insumos no combate a qualquer vetor.Madruga lembra que ele e seus colegas trabalhavam até 12 horas diárias no combate ao mosquito vetor. Todos entravam em contato com o produto “sem máscara, sem luva, sem nada”. Ele disse ter participado das ações de prevenção da malária com o DDT no período entre 1986 e 1989.
Servidor pede apoio político à causa
JARU, RO – Servidores que atuavam no controle de endemias em estados amazônicos, na região Norte, tanto na antiga Superintendência de Campanha de Saúde Pública (Sucam) quanto na Funasa, também pedem mudanças na legislação, permitindo que as mulheres se aposentem com 25 anos de serviço e 50 de idade, e os homens, com 30 anos de serviço e 55 de idade.
“Vimos por meio desta, solicitar apoio político na causa dos servidores da Funasa em Rondônia, que, assim como outros servidores deste órgão em todo o Brasil, durante várias décadas estivemos trabalhando em contato com o inseticida organoclorado DDT sem nenhum tipo de equipamento de segurança, tampouco, sem nenhum tipo de informação quanto ao poder tóxico deste produto”, escreve Madruga à Agência Amazônia. Lembra que o DDT foi descoberto e inicialmente utilizado durante a 2ª Guerra Mundial para controlar a praga de piolhos que os soldados tiveram. “Após o fim da guerra, com a alta letalidade do produto sobre os insetos, o DDT passou a ser utilizado no controle de pragas agrícolas e de interesse em saúde pública, como a malária. Países no mundo inteiro compraram o produto que era fabricado no EUA, porém, com pouco mais de dez anos de uso, os americanos descobriram que esse inseticida era letal na natureza e no próprio ser humano”, lembra Madruga.
Proibido só nos EUA
“A partir do início da década de 60 o uso do DDT foi proibido (lá!). No entanto, os outros países do mundo, como o Brasil, continuaram a comprar o inseticida durante muito tempo. No Brasil o DDT foi utilizado pela Funasa nas ações de controle de malária até 1990, e extra-oficialmente ele ainda foi aplicado até 1995", assinala.
"Hoje, no quadro de servidores da Funasa, tanto naqueles que trabalham com saúde indígena quanto os descentralizados que atuam nas Divisões de Endemias Brasil afora, os problemas de saúde variam desde paralisias de membros, degenerações de articulações, alterações neurólogicas e neuropsíquicas, como depressão e outros. Nem mesmo a OMS conseguiu ainda descrever danos fisiológicos”, acrescenta.
Aplicação do DDT na África: tiro pela culatra
Em 2007, Banco Mundial elogiou aplicação do pesticida na África
O presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz, elogiou publicamente o programa da África do Sul de controle de malária, afirmando que a aplicação do DDT no interior das residências naquele país tem ajudado a reduzir os casos da doença. A afirmação foi feita durante visita à vila Mamitwa, no província sul-africana de Limpopo, umas das regiões com a maior incidência de malária daquele país, em março de 2007."Uma das razões para eu visitar esta localidade em particular é o fato de que ela conseguiu reduzir de maneira dramática os casos de malária de uma forma que eu ainda não havia testemunhado em outras partes do mundo", afirmou o presidente do Banco na ocasião. África do Sul deixou de usar os inseticidas recomendados anteriormente e decidiu passar à pulverização de DDT nas áreas internas das residências. O DDT é um inseticida poluente orgânico persistente, proibido ou que está deixando de ser usado nos 143 países signatários da Convenção de Estocolmo, um tratado internacional que regula os cuidados com a proteção da saúde humana no mundo (Ambiente Acreano).
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O seu apelo foi publicado em forma de reportagem. Confira aqui: http://www.agenciaamazonia.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=2800&Itemid=156
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