Publicação lançada pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação e pelo Movimento Interfóruns da Educação Infantil no Brasil tenta captar a essência de uma educação infantil de qualidade e faz uma reflexão sobre o tema.
Cerca de 88% das crianças com até 3 anos de idade estão fora de creches no Brasil, segundo dados da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. O número reflete o descaso do poder público e de toda a sociedade em relação à educação infantil, apesar de a legislação brasileira, desde 1996, considerar o ensino infantil – creches e pré-escolas – como a primeira etapa da educação básica. Estudos científicos também já comprovaram a importância da educação e do cuidado nos primeiros anos de vida de uma criança. No entanto, como afirma o coordenador da Campanha, Daniel Cara, ainda falta muito para que se reconheça a educação infantil como um direito das crianças e de suas famílias.
Nesse contexto, a Campanha e o Movimento Interfóruns da Educação Infantil no Brasil (Mieib) lançaram, em outubro, um livro com resultados da pesquisa Consulta sobre Qualidade da Educação Infantil. Além de promover a reflexão sobre o tema, o trabalho buscou captar o que crianças, pais, professores e profissionais pensam sobre o que é uma educação infantil de qualidade.
Foram ouvidas mais de mil pessoas, incluindo 254 crianças de 4 a 6 anos, de creches e pré-escolas comunitárias, públicas, privadas e sem fins lucrativos do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais, Pernambuco e Ceará. Segundo Daniel Cara, o estudo aborda vários aspectos do universo da educação infantil em diferentes regiões do Brasil. “A pesquisa trouxe resultados que não necessariamente surpreendem, mas que reforçam o que outros estudos já verificaram e o que os ativistas e profissionais do meio observam em suas atividades cotidianas”, observou.
Baixa escolaridade de pais e professores
Para ele, um dado importante foi a revelação de que mais de 10% dos adultos que trabalham nas creches e pré-escolas apresentam escolaridade muito baixa e apenas 21% possuem curso superior. Ao mesmo tempo, 45% dos pais encontram-se no menor nível de instrução e apenas 6% possuem graduação. “Muitas crianças convivem em casa, na comunidade e nas instituições de educação infantil com adultos que apresentam níveis bastante baixos de escolaridade, encontrando na creche ou na pré-escola o mesmo contexto pouco letrado que caracteriza seu ambiente de origem e tendo poucas oportunidades de desenvolver novas habilidades e ter acesso a conhecimentos diversificados e interessantes”, lamentou, acrescentando que “essa é uma realidade que requer políticas e ações de orientação e supervisão pedagógica voltadas para as equipes que atuam nas creches e pré-escolas”.
Para a professora Sílvia Helena Vieira Cruz, da Universidade Federal do Ceará e co-autora do relatório técnico final da Consulta, as concepções do que é uma creche e uma pré-escola de qualidade refletem a própria história da educação infantil. “A origem assistencial da creche manifesta-se mais fortemente nas respostas que associam esse objetivo às famílias mais pobres. A creche nasceu como uma forma de assistência social e de apoio às famílias mais pobres, principalmente às mães que trabalham”, contou. Segundo ela, o “desenvolvimento integral das crianças” foi mencionado principalmente por integrantes das equipes das instituições, mas chamou a atenção dela a relativa pouca importância atribuída à aquisição de conhecimentos. “Parece que não há clareza a respeito da importância da ampliação dos conhecimentos sobre o mundo natural, humano e cultural, que são objeto da curiosidade e do interesse das crianças nessa fase de vida. A análise das respostas mostra que essas concepções trazem junto a preocupação com o preparo para a escolaridade futura e para o mundo do trabalho”, informou.
Para crianças, brincar é fundamental
Além dos adultos, as opiniões das próprias crianças sobre a qualidade da educação também foram captadas. Em pequenos grupos de cinco meninos e meninas, elas ouviam uma pequena história sobre a construção de uma pré-escola e eram convidadas a dizer como essa pré-escola deveria ser para ficar bem "legal" e o que não poderia ter, senão ficaria "ruim". Para a professora, a perspectiva da criança deveria ser ponto de partida para pensar a prática pedagógica nas creches e pré-escolas. “Afinal, o foco da educação infantil deveria ser a criança, e é contraditório que ela seja tão pouco ouvida sobre um assunto que lhe diz respeito tão diretamente”.
Segundo Sílvia, a opinião de um adulto sobre um trabalho educativo de qualidade divergiu muito do que as vozes infantis trouxeram como elementos prazerosos da experiência vivida nas creches e pré-escolas. Enquanto brinquedos e brincadeiras apareceram com muito destaque nos discursos das crianças, profissionais das creches e pré-escolas e pais e lideranças comunitárias não deram muito destaque a esse aspecto. Outro elemento muito importante para as crianças é a alimentação – não só as refeições básicas, mas também biscoitos, doces e refrigerantes.
Ouvir os diferentes atores envolvidos com a educação infantil é o primeiro passo para tentar melhorar o acesso e a qualidade dessa educação. Existem hoje no Brasil cerca de 7 milhões de alunos na educação infantil e, atualmente, tramita no Congresso Nacional o projeto de lei que prevê recursos públicos para creches e pré-escolas – o Fundo para a Manutenção do Ensino Básico (Fundeb). Segundo Sílvia, são necessários mais investimentos em infra-estrutura e na formação dos professores e professoras. “É muito forte a necessidade de investimentos públicos que garantam as condições para um boa experiência das crianças em creches e pré-escolas, o que inclui desde a formação de professores até a melhoria da estrutura física das instituições, assim como a disponibilidade de brinquedos, livros de literatura infantil e materiais pedagógicos diversificados para as diferentes faixas etárias”, destacou.
O livro com os resultados da pesquisa custa R$ 17 e está disponível em livrarias de todo o Brasil. Mais informações sobre como adquiri-lo podem ser obtidas pelo correio eletrônico campanha@acaoeducativa.orgEste endereço de e-mail está sendo protegido de spam, você precisa de Javascript habilitado para vê-lo ou pelo telefone (11) 3151-2333.
Cerca de 88% das crianças com até 3 anos de idade estão fora de creches no Brasil, segundo dados da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. O número reflete o descaso do poder público e de toda a sociedade em relação à educação infantil, apesar de a legislação brasileira, desde 1996, considerar o ensino infantil – creches e pré-escolas – como a primeira etapa da educação básica. Estudos científicos também já comprovaram a importância da educação e do cuidado nos primeiros anos de vida de uma criança. No entanto, como afirma o coordenador da Campanha, Daniel Cara, ainda falta muito para que se reconheça a educação infantil como um direito das crianças e de suas famílias.
Nesse contexto, a Campanha e o Movimento Interfóruns da Educação Infantil no Brasil (Mieib) lançaram, em outubro, um livro com resultados da pesquisa Consulta sobre Qualidade da Educação Infantil. Além de promover a reflexão sobre o tema, o trabalho buscou captar o que crianças, pais, professores e profissionais pensam sobre o que é uma educação infantil de qualidade.
Foram ouvidas mais de mil pessoas, incluindo 254 crianças de 4 a 6 anos, de creches e pré-escolas comunitárias, públicas, privadas e sem fins lucrativos do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais, Pernambuco e Ceará. Segundo Daniel Cara, o estudo aborda vários aspectos do universo da educação infantil em diferentes regiões do Brasil. “A pesquisa trouxe resultados que não necessariamente surpreendem, mas que reforçam o que outros estudos já verificaram e o que os ativistas e profissionais do meio observam em suas atividades cotidianas”, observou.
Baixa escolaridade de pais e professores
Para ele, um dado importante foi a revelação de que mais de 10% dos adultos que trabalham nas creches e pré-escolas apresentam escolaridade muito baixa e apenas 21% possuem curso superior. Ao mesmo tempo, 45% dos pais encontram-se no menor nível de instrução e apenas 6% possuem graduação. “Muitas crianças convivem em casa, na comunidade e nas instituições de educação infantil com adultos que apresentam níveis bastante baixos de escolaridade, encontrando na creche ou na pré-escola o mesmo contexto pouco letrado que caracteriza seu ambiente de origem e tendo poucas oportunidades de desenvolver novas habilidades e ter acesso a conhecimentos diversificados e interessantes”, lamentou, acrescentando que “essa é uma realidade que requer políticas e ações de orientação e supervisão pedagógica voltadas para as equipes que atuam nas creches e pré-escolas”.
Para a professora Sílvia Helena Vieira Cruz, da Universidade Federal do Ceará e co-autora do relatório técnico final da Consulta, as concepções do que é uma creche e uma pré-escola de qualidade refletem a própria história da educação infantil. “A origem assistencial da creche manifesta-se mais fortemente nas respostas que associam esse objetivo às famílias mais pobres. A creche nasceu como uma forma de assistência social e de apoio às famílias mais pobres, principalmente às mães que trabalham”, contou. Segundo ela, o “desenvolvimento integral das crianças” foi mencionado principalmente por integrantes das equipes das instituições, mas chamou a atenção dela a relativa pouca importância atribuída à aquisição de conhecimentos. “Parece que não há clareza a respeito da importância da ampliação dos conhecimentos sobre o mundo natural, humano e cultural, que são objeto da curiosidade e do interesse das crianças nessa fase de vida. A análise das respostas mostra que essas concepções trazem junto a preocupação com o preparo para a escolaridade futura e para o mundo do trabalho”, informou.
Para crianças, brincar é fundamental
Além dos adultos, as opiniões das próprias crianças sobre a qualidade da educação também foram captadas. Em pequenos grupos de cinco meninos e meninas, elas ouviam uma pequena história sobre a construção de uma pré-escola e eram convidadas a dizer como essa pré-escola deveria ser para ficar bem "legal" e o que não poderia ter, senão ficaria "ruim". Para a professora, a perspectiva da criança deveria ser ponto de partida para pensar a prática pedagógica nas creches e pré-escolas. “Afinal, o foco da educação infantil deveria ser a criança, e é contraditório que ela seja tão pouco ouvida sobre um assunto que lhe diz respeito tão diretamente”.
Segundo Sílvia, a opinião de um adulto sobre um trabalho educativo de qualidade divergiu muito do que as vozes infantis trouxeram como elementos prazerosos da experiência vivida nas creches e pré-escolas. Enquanto brinquedos e brincadeiras apareceram com muito destaque nos discursos das crianças, profissionais das creches e pré-escolas e pais e lideranças comunitárias não deram muito destaque a esse aspecto. Outro elemento muito importante para as crianças é a alimentação – não só as refeições básicas, mas também biscoitos, doces e refrigerantes.
Ouvir os diferentes atores envolvidos com a educação infantil é o primeiro passo para tentar melhorar o acesso e a qualidade dessa educação. Existem hoje no Brasil cerca de 7 milhões de alunos na educação infantil e, atualmente, tramita no Congresso Nacional o projeto de lei que prevê recursos públicos para creches e pré-escolas – o Fundo para a Manutenção do Ensino Básico (Fundeb). Segundo Sílvia, são necessários mais investimentos em infra-estrutura e na formação dos professores e professoras. “É muito forte a necessidade de investimentos públicos que garantam as condições para um boa experiência das crianças em creches e pré-escolas, o que inclui desde a formação de professores até a melhoria da estrutura física das instituições, assim como a disponibilidade de brinquedos, livros de literatura infantil e materiais pedagógicos diversificados para as diferentes faixas etárias”, destacou.
O livro com os resultados da pesquisa custa R$ 17 e está disponível em livrarias de todo o Brasil. Mais informações sobre como adquiri-lo podem ser obtidas pelo correio eletrônico campanha@acaoeducativa.orgEste endereço de e-mail está sendo protegido de spam, você precisa de Javascript habilitado para vê-lo ou pelo telefone (11) 3151-2333.
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