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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Professores reclamam de baixos salários

A maioria dos brasileiros identifica a falta de motivação dos professores como o segundo maior obstáculo à melhoria do ensino nas escolas públicas do país, como revela pesquisa exclusiva do Ibope.




Os professores se queixam de baixos salários, excesso de trabalho e pouco tempo para se qualificar. Esse é o tema da nossa segunda reportagem especial sobre a opinião do brasileiro sobre a educação, com a repórter Janaína Lepri.







Haja voz, haja “braço" e, sobretudo, haja disposição! Se dar aula para uma sala cheia e falante já é difícil, imagine para duas ou três por dia. É uma jornada desgastante para boa parte dos professores de São Paulo. “Para conseguir um salário mínimo digno, a gente precisa se estender às vezes nos três períodos. Isso é desgastante fisicamente, o corpo não aguenta. E aí vem a saúde, tem muito professor afastado, de licença, muito professor readaptado com problemas de saúde mesmo por conta do excesso de trabalho”, conta a professora Viviane Ribeiro Gadotti.



O professor Douglas Mendonça Garin, de Cuiabá, Mato Grosso, sabe bem como é. Ele se divide entre dois empregos. Além do cansaço, reclama que falta tempo para que ele possa estudar. “Nós temos uma mudança constante nos conceitos de educação, então há a necessidade de o professor estar sempre se atualizando”, destaca Douglas.



É difícil também lidar com a participação cada vez menor de muitas famílias na educação de seus filhos. É uma lacuna que, de acordo com uma professora que prefere não se identificar, sobrecarrega a escola. “A escola ensina educação sexual, educação moral, ensina a ler, ensina a escrever, ensina a ter zelo pela natureza. O dever da educação não é só da escola, está garantido em Constituição: escola e família”, aponta.



Em uma estrada a pouco mais de 100 quilômetros de Belém do Pará, quase não passa carro. Por terra e pela água, nós visitamos a região da bacia do Guajará-Mirim para conhecer a realidade de alunos e professores locais. Duas cidades, Vigia e Colares, apresentam uma enorme defasagem em relação às metas de qualidade de ensino estabelecidas pelo movimento Todos pela Educação.



Sentada à janela da escola, a professora Vanda Sueli Gomes não tem muito com que se distrair. Ela deveria estar em aula, mas os alunos foram dispensados mais cedo porque não havia merenda nem material escolar. “Material didático sempre sobra para o nosso bolso, que a gente mesmo tem que dar. Eu compro. Quando precisa de uma cola, eu compro; quando precisa de uma folha, eu compro”, revela.



De folha em folha, vão trocados que fazem falta no salário de R$ 600 por mês. E fica mais distante o desejo de fazer uma faculdade de pedagogia. “Agora tem muita universidade que o pessoal pode pagar, até a distância, mas falta dinheiro. Quero fazer, preciso fazer e tenho que me atualizar”, admite.



Professores desmotivados e mal pagos são o segundo grande problema da educação apontado pela pesquisa do Ibope Inteligência. “Os professores estão esgotados. Não só pelo baixo salário, mas pelas condições de trabalho. Há uma exigência cada vez maior em relação à performance dos professores”, analisa o especialista em educação Rudá Ricci.



De acordo com dados do Ministério da Educação, dos cerca de 1,6 milhão de professores da rede pública, 600 mil não possuem graduação ou atuam em áreas diferentes daquelas em que se formaram. O MEC promete melhorar essa situação com investimentos de R$ 1 bilhão voltado para a formação dos professores nos próximos três anos. “Nós precisamos é dar mais tempo, qualificar esse tempo de trabalho dos professores”, enfatiza o especialista Rudá Ricci.



Na vila pesqueira de Itapuá, no Pará, o tempo também passa devagar. Tão devagar, que a educação por lá quase não muda. As professoras responsáveis pela alfabetização são as mesmas há 30 anos. “Há momentos em que dá para desanimar. Quando é à tarde, a criança chega aqui com uma preguiça de escrever. ‘Meu filho, o que você tem?’ ‘Ah, eu estou com fome, hoje não almocei’. É que às vezes não tem a merenda na escola. Sempre vem a merenda, mas tem dia que não tem. E é difícil essa situação, aí a gente tem que ser artista”, diz a professora Antonia Ferreira Coutinho.



Com quase 25 anos de trabalho, a professora Maria Neli Souza ainda usa alguns dos livros com os quais começou a dar aulas. “Uso para fazer leitura, fazer trabalho com eles, no caso, texto. Tiro texto daí e vou montar com eles. A versão já está desatualizada, mas tem muita coisa que dá para aproveitar”, acredita.



Só ela recebe salário na casa onde também moram o marido e as duas filhas. Para ganhar um pouco mais, a professora dá aulas em dois períodos e, nas folgas, extrai polpa de frutas para vender. Agora, ela se prepara para a aposentadoria. Mesmo com todas as dificuldades, tem orgulho ao olhar para trás. “Deixei muitas marcas de aprendizagem, porque a gente educar uma criança de primeira série como eu comecei, a pegar na mãozinha para fazer o A, fazer o B. Há crianças que até hoje me chamam: 'Tia!'. É aquela alegria toda, me abraçam, me beijam, graças a Deus. Acho que valeu a pena a minha experiência de trabalho, minha profissão foi ótima”, avalia.



A pesquisa foi feita pelo Ibope a pedido da Confederação Nacional da Indústria e do movimento Todos pela Educação. Nesta quarta-feira, na última reportagem especial, a repórter Janaína Lepri vai falar da baixa qualidade do ensino, o terceiro maior problema da educação pública de acordo com os brasileiros.



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