Professor não é coitado
(15 / 12 / 2007) - Autoria de Cel Araujo - Última Atualização (15 / 12 / 2007)
"Certamente há muito que melhorar, mas é igualmente certo que o nosso professorado não trabalha em
condições infra-estruturais sofríveis. A idéia de um professor acuado pela violência também não se confirma quando
contrastada com a frieza dos dados"O professor brasileiro é um herói. Batalha com afinco contra tudo e todos em prol de
uma educação de qualidade em um país que não se importa com o tema, ensinando em salas hiperlotadas de escolas em
péssimo estado de conservação. Tem de trabalhar em dois ou três lugares, com uma carga horária exaustiva. Ganha
um salário de fome, é constantemente acossado pela indisciplina e desinteresse dos alunos e não conta com o apoio
dos pais, da comunidade, do governo e da sociedade em geral.Se você tem lido a imprensa brasileira nos últimos
vinte anos, provavelmente é assim que você pensa. Permita-me gerar dúvidas.
Segundo a última Sinopse Estatística do Ensino Superior, em 2005 havia 904.000 alunos matriculados em cursos da
área de educação, ou o equivalente a 20% do total de alunos do país. É a área de estudo mais popular, deixando para
trás gerenciamento e administração (704.000) e direito (565.000). Ademais, é uma área que só faz crescer: em 2001,
eram 653.000 alunos – um aumento de quase 40% em apenas quatro anos. No mercado profissional, os
números do professorado também são mastodônticos. Segundo dados da última Pnad tabulados por Simon
Schwartzman, há 2,9 milhões de professores em todo o país. É provavelmente a categoria profissional mais numerosa.
Surge o questionamento: se a carreira de professor é esse inferno que se pinta, por que tantas pessoas optam por ela?
Pior: por que esse interesse aumenta ano a ano? Seria uma categoria que atrai masoquistas? Ou desinformados? A
resposta é mais simples: porque a realidade da carreira de professor é bastante diferente da imagem difundida.
A maioria dos professores trabalha em apenas uma escola. Segundo o Perfil dos Professores Brasileiros, ampla
pesquisa realizada pela Unesco, 58,5% têm apenas um local de trabalho. Os que fazem dupla jornada são pouco
menos de um terço: 32,2%. Só 9%, portanto, trabalham em três escolas ou mais. Sua carga horária também não é das
mais massacrantes: 31% trabalham entre uma e vinte horas em sala de aula por semana, 54% ficam entre 21 e
quarenta horas e o restante trabalha mais de quarenta horas.
Os professores costumam argumentar que seu trabalho se estende para fora da sala de aula, com correção de tarefas,
preparação de aulas etc. Nisso, não são diferentes de todos os outros profissionais liberais – qual o médico que
não estuda fora do consultório ou o advogado que não pesquisa a legislação nos horários fora do escritório?
O que os representantes da categoria não costumam mencionar são as vantagens da profissão: as férias longas, a
estabilidade no emprego e o regime especial de aposentadoria (80% são funcionários públicos) e, sobretudo, a
regulamentação frouxa. No estado de São Paulo, 13% dos professores da rede estadual faltam a cada dia, contra 1%
daqueles da rede privada. Há um amontoado de proteções jurídicas para que essa ausência não redunde em perda
salarial – infelizmente, não conseguimos blindar o aprendizado dos alunos contra as faltas docentes.
Não é correta, também, a idéia de que os professores trabalham em estabelecimentos superlotados. Segundo os
dados oficiais, há 27 alunos por turma no ensino fundamental (de 1ª a 8ª série). A relação só sobe nos três anos do
ensino médio, para 37 alunos por turma – dentro da normalidade, portanto.
Tampouco procede a idéia de que as escolas não tenham as condições mínimas de infra-estrutura para a realização de
aulas. As histórias de escolas de lona ou de lata rendem muito noticiário justamente por serem a exceção, a aberração.
Mais de 90% de nossas escolas de ensino fundamental têm banheiro, água encanada e esgoto, e 87% contam com
eletricidade. Quase um terço tem quadra esportiva, e 42% dispõem de computadores. Certamente há muito que
melhorar, mas é igualmente certo que o nosso professorado não trabalha em condições infra-estruturais sofríveis.
A idéia de um professor acuado pela violência também não se confirma quando contrastada com a frieza dos dados.
Questionário respondido pelos professores quando da aplicação do Saeb, o teste do ensino básico, revela que apenas
3% deles haviam visto, em toda a sua carreira, alunos com armas de fogo, que só 5,4% dos professores já foram
ameaçados e 0,7% sofreu agressão de aluno. São incidentes lamentáveis e que devem ser punidos com todo o rigor da
lei. Essa quantidade de problemas, porém, está longe de indicar uma epidemia de violência tomando conta das
nossas escolas. Finalmente, a questão crucial: o salário.
Há uma idéia encravada na mente do brasileiro de que professor ganha pouco, uma mixaria. É verdade que o
professor brasileiro tem um salário absoluto baixo – o que se explica pelo fato de ele ser brasileiro, não
professor. Somos um país pobre, com uma massa salarial baixa. O professor tem um contracheque de valor baixo,
assim como médicos, carteiros, bancários, jornalistas e todas as demais categorias profissionais do país, com exceção
de congressistas (e suas amantes). Quando estudos econométricos comparam o salário dos professores com o das
outras carreiras, levando em consideração a jornada laboral e as características pessoais dos trabalhadores, não há
diferença para a categoria dos docentes.
Ou seja, os professores ganham aquilo que é compatível com a sua formação e o seu trabalho, e ganhariam valor
semelhante se optassem por outra carreira. Quando se leva em conta a diferença de férias e aposentadoria, o salário
do professor é mais alto do que o do restante. Estudo recente de Samuel Pessôa e Fernando de Holanda, da FGV,
também mostrou que o salário do professor de escola pública é mais alto do que aquele recebido por seu colega de
escola particular. Achados semelhantes emergem quando se compara o professor brasileiro com aquele de outros
países. Enquanto aqui ele ganha o equivalente a 1,5 vez a renda média do país, a média dos países da OCDE (que têm
a melhor educação do planeta) é de 1,3.
Na América do Sul, os países com qualidade de ensino melhor que a brasileira têm professores que recebem
menos: 0,85 na Argentina, 0,75 no Uruguai e 1,25 no Chile. Esses são dados um pouco defasados, de 2005. É provável
que atualmente o quadro seja ainda melhor, pois os estudos sobre o tema mostram que os rendimentos dos professores
vêm aumentando, à medida que mais deles têm diploma universitário. Segundo os dados da última Pnad colhidos por
http://www.cmpa.tche.br - Colégio Militar de Porto Alegre
Powered by Mambo
Generated: 27 November, 2010, 20:08
Schwartzman, houve um aumento de 20% nos rendimentos dos professores da rede estadual e de 16% nos da rede
municipal apenas entre 2005 e 2006.
Apesar de todos esses dados estarem amplamente disponíveis, perdura a visão de que o professor é um coitado e/ou
um herói, fazendo esforços hercúleos para carregar o pobre aluno ladeira acima. Longe de ser uma questão apenas
semântica ou psicológica, essa caracterização do professor é extremamente daninha para o progresso do nosso ensino,
porque ela emperra toda e qualquer agenda de mudança. A literatura empírica aponta que há muito que professores,
diretores e gestores públicos podem fazer para obter melhorias substanciais no aprendizado de nossos alunos, mas é
quase impossível ter qualquer discussão produtiva nesse sentido no Brasil, pois, antes de mais nada, seria necessário
"recuperar a dignidade do magistério", "dar condições mínimas de trabalho aos professores" etc.
A mitificação do nosso professor impede que o vejamos como ele é: um profissional, adulto, consciente de suas
decisões e potencialidades, inserido em uma categoria profissional que, como todas as outras, abriga muita gente
competente, muita gente incompetente e muitos outros medíocres e que, portanto, deve receber não apenas
encorajamento e defesa condescendentes, mas também cobranças e críticas construtivas e avaliações objetivas de seus
méritos e falhas. Só assim melhoraremos o desempenho das nossas escolas e daremos um futuro ao país.
Rev. Veja – 19 Dez 07
http://www.cmpa.tche.br - Colégio Militar de Porto Alegre
Powered by Mambo
Generated: 27 November, 2010, 20:08
http://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:YiIIkhWL6GwJ:www.cmpa.tche.br/index2.php?option%3Dcom_content%26do_pdf%3D1%26id%3D935+os+professores+brasileiros+ganham+pouco+demais&hl=pt-BR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEESh4iBdOsOboFo0ePxHJj5VV_Fc0JI8gp-38dtCrNYNH6UfS3HIDrCfez9ZRTdFD099CZa9ljcHgVdsAtBJjWJ1-YIO-yt9v8aSjbqtIgexaN149aQWQKCTl_I3_A5gI4PxU1Buj&sig=AHIEtbTo0ZU7E_JKZjFkmhS4qgLsSVx6nw&pli=1
(15 / 12 / 2007) - Autoria de Cel Araujo - Última Atualização (15 / 12 / 2007)
"Certamente há muito que melhorar, mas é igualmente certo que o nosso professorado não trabalha em
condições infra-estruturais sofríveis. A idéia de um professor acuado pela violência também não se confirma quando
contrastada com a frieza dos dados"O professor brasileiro é um herói. Batalha com afinco contra tudo e todos em prol de
uma educação de qualidade em um país que não se importa com o tema, ensinando em salas hiperlotadas de escolas em
péssimo estado de conservação. Tem de trabalhar em dois ou três lugares, com uma carga horária exaustiva. Ganha
um salário de fome, é constantemente acossado pela indisciplina e desinteresse dos alunos e não conta com o apoio
dos pais, da comunidade, do governo e da sociedade em geral.Se você tem lido a imprensa brasileira nos últimos
vinte anos, provavelmente é assim que você pensa. Permita-me gerar dúvidas.
Segundo a última Sinopse Estatística do Ensino Superior, em 2005 havia 904.000 alunos matriculados em cursos da
área de educação, ou o equivalente a 20% do total de alunos do país. É a área de estudo mais popular, deixando para
trás gerenciamento e administração (704.000) e direito (565.000). Ademais, é uma área que só faz crescer: em 2001,
eram 653.000 alunos – um aumento de quase 40% em apenas quatro anos. No mercado profissional, os
números do professorado também são mastodônticos. Segundo dados da última Pnad tabulados por Simon
Schwartzman, há 2,9 milhões de professores em todo o país. É provavelmente a categoria profissional mais numerosa.
Surge o questionamento: se a carreira de professor é esse inferno que se pinta, por que tantas pessoas optam por ela?
Pior: por que esse interesse aumenta ano a ano? Seria uma categoria que atrai masoquistas? Ou desinformados? A
resposta é mais simples: porque a realidade da carreira de professor é bastante diferente da imagem difundida.
A maioria dos professores trabalha em apenas uma escola. Segundo o Perfil dos Professores Brasileiros, ampla
pesquisa realizada pela Unesco, 58,5% têm apenas um local de trabalho. Os que fazem dupla jornada são pouco
menos de um terço: 32,2%. Só 9%, portanto, trabalham em três escolas ou mais. Sua carga horária também não é das
mais massacrantes: 31% trabalham entre uma e vinte horas em sala de aula por semana, 54% ficam entre 21 e
quarenta horas e o restante trabalha mais de quarenta horas.
Os professores costumam argumentar que seu trabalho se estende para fora da sala de aula, com correção de tarefas,
preparação de aulas etc. Nisso, não são diferentes de todos os outros profissionais liberais – qual o médico que
não estuda fora do consultório ou o advogado que não pesquisa a legislação nos horários fora do escritório?
O que os representantes da categoria não costumam mencionar são as vantagens da profissão: as férias longas, a
estabilidade no emprego e o regime especial de aposentadoria (80% são funcionários públicos) e, sobretudo, a
regulamentação frouxa. No estado de São Paulo, 13% dos professores da rede estadual faltam a cada dia, contra 1%
daqueles da rede privada. Há um amontoado de proteções jurídicas para que essa ausência não redunde em perda
salarial – infelizmente, não conseguimos blindar o aprendizado dos alunos contra as faltas docentes.
Não é correta, também, a idéia de que os professores trabalham em estabelecimentos superlotados. Segundo os
dados oficiais, há 27 alunos por turma no ensino fundamental (de 1ª a 8ª série). A relação só sobe nos três anos do
ensino médio, para 37 alunos por turma – dentro da normalidade, portanto.
Tampouco procede a idéia de que as escolas não tenham as condições mínimas de infra-estrutura para a realização de
aulas. As histórias de escolas de lona ou de lata rendem muito noticiário justamente por serem a exceção, a aberração.
Mais de 90% de nossas escolas de ensino fundamental têm banheiro, água encanada e esgoto, e 87% contam com
eletricidade. Quase um terço tem quadra esportiva, e 42% dispõem de computadores. Certamente há muito que
melhorar, mas é igualmente certo que o nosso professorado não trabalha em condições infra-estruturais sofríveis.
A idéia de um professor acuado pela violência também não se confirma quando contrastada com a frieza dos dados.
Questionário respondido pelos professores quando da aplicação do Saeb, o teste do ensino básico, revela que apenas
3% deles haviam visto, em toda a sua carreira, alunos com armas de fogo, que só 5,4% dos professores já foram
ameaçados e 0,7% sofreu agressão de aluno. São incidentes lamentáveis e que devem ser punidos com todo o rigor da
lei. Essa quantidade de problemas, porém, está longe de indicar uma epidemia de violência tomando conta das
nossas escolas. Finalmente, a questão crucial: o salário.
Há uma idéia encravada na mente do brasileiro de que professor ganha pouco, uma mixaria. É verdade que o
professor brasileiro tem um salário absoluto baixo – o que se explica pelo fato de ele ser brasileiro, não
professor. Somos um país pobre, com uma massa salarial baixa. O professor tem um contracheque de valor baixo,
assim como médicos, carteiros, bancários, jornalistas e todas as demais categorias profissionais do país, com exceção
de congressistas (e suas amantes). Quando estudos econométricos comparam o salário dos professores com o das
outras carreiras, levando em consideração a jornada laboral e as características pessoais dos trabalhadores, não há
diferença para a categoria dos docentes.
Ou seja, os professores ganham aquilo que é compatível com a sua formação e o seu trabalho, e ganhariam valor
semelhante se optassem por outra carreira. Quando se leva em conta a diferença de férias e aposentadoria, o salário
do professor é mais alto do que o do restante. Estudo recente de Samuel Pessôa e Fernando de Holanda, da FGV,
também mostrou que o salário do professor de escola pública é mais alto do que aquele recebido por seu colega de
escola particular. Achados semelhantes emergem quando se compara o professor brasileiro com aquele de outros
países. Enquanto aqui ele ganha o equivalente a 1,5 vez a renda média do país, a média dos países da OCDE (que têm
a melhor educação do planeta) é de 1,3.
Na América do Sul, os países com qualidade de ensino melhor que a brasileira têm professores que recebem
menos: 0,85 na Argentina, 0,75 no Uruguai e 1,25 no Chile. Esses são dados um pouco defasados, de 2005. É provável
que atualmente o quadro seja ainda melhor, pois os estudos sobre o tema mostram que os rendimentos dos professores
vêm aumentando, à medida que mais deles têm diploma universitário. Segundo os dados da última Pnad colhidos por
http://www.cmpa.tche.br - Colégio Militar de Porto Alegre
Powered by Mambo
Generated: 27 November, 2010, 20:08
Schwartzman, houve um aumento de 20% nos rendimentos dos professores da rede estadual e de 16% nos da rede
municipal apenas entre 2005 e 2006.
Apesar de todos esses dados estarem amplamente disponíveis, perdura a visão de que o professor é um coitado e/ou
um herói, fazendo esforços hercúleos para carregar o pobre aluno ladeira acima. Longe de ser uma questão apenas
semântica ou psicológica, essa caracterização do professor é extremamente daninha para o progresso do nosso ensino,
porque ela emperra toda e qualquer agenda de mudança. A literatura empírica aponta que há muito que professores,
diretores e gestores públicos podem fazer para obter melhorias substanciais no aprendizado de nossos alunos, mas é
quase impossível ter qualquer discussão produtiva nesse sentido no Brasil, pois, antes de mais nada, seria necessário
"recuperar a dignidade do magistério", "dar condições mínimas de trabalho aos professores" etc.
A mitificação do nosso professor impede que o vejamos como ele é: um profissional, adulto, consciente de suas
decisões e potencialidades, inserido em uma categoria profissional que, como todas as outras, abriga muita gente
competente, muita gente incompetente e muitos outros medíocres e que, portanto, deve receber não apenas
encorajamento e defesa condescendentes, mas também cobranças e críticas construtivas e avaliações objetivas de seus
méritos e falhas. Só assim melhoraremos o desempenho das nossas escolas e daremos um futuro ao país.
Rev. Veja – 19 Dez 07
http://www.cmpa.tche.br - Colégio Militar de Porto Alegre
Powered by Mambo
Generated: 27 November, 2010, 20:08
http://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:YiIIkhWL6GwJ:www.cmpa.tche.br/index2.php?option%3Dcom_content%26do_pdf%3D1%26id%3D935+os+professores+brasileiros+ganham+pouco+demais&hl=pt-BR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEESh4iBdOsOboFo0ePxHJj5VV_Fc0JI8gp-38dtCrNYNH6UfS3HIDrCfez9ZRTdFD099CZa9ljcHgVdsAtBJjWJ1-YIO-yt9v8aSjbqtIgexaN149aQWQKCTl_I3_A5gI4PxU1Buj&sig=AHIEtbTo0ZU7E_JKZjFkmhS4qgLsSVx6nw&pli=1
Nenhum comentário:
Postar um comentário
AGRADECEMOS A GENTILEZA DOS AUTORES QUE NOS BRINDAM COM OS SEUS PRECIOSOS COMENTÁRIOS.
##############PORTAL DO SERVIDOR PÚBLICO DO BRASIL##############