Paulo Cesar da Silva
Tecnologia de aplicação nessa época praticamente não existia e os agroquímicos eram usados de maneira indiscriminada. No Brasil, no final dos anos 40 o produto químico DDT começou a ser substituído pelos inseticidas fosforados nas pulverizações. Para se ter uma idéia sobre a falta de informação sobre a periculosidade desses produtos, no processo de preparo da calda do DDT era recomendado que se misturasse o produto com água em um recipiente e mexesse a calda com o braço e com a mão aberta, para...”
Visto que seu blog é acessado pelo pessoal de campo que trabalha nas atividades de controle vetorial, é de suma importância que os fatos ali expostos, tenham sustentação técnica, o que não ocorre, como no caso acima citado (prometo ver outras informações ali postadas para comentário).
Em 1940, fazia apenas um ano que o DDT havia sido redescoberto por Paul Miller na Suíça, sendo que as primeiras pesquisas encomendadas pelo Exército Americano na Itália, ocorreu em junho de 1945, tendo os resultados mostrado que se mostrava um excelente inseticida no controle da malaria, conforme testes feitos na região de Nápoles.
Embora a síntese dos organosfosforados tenha se dado antes dos clorados (DDT), o seu uso só foi possível algum tempo depois de se entender sua atividade biológica e a síntese de produtos menos tóxicos, sendo portanto, sua introdução posterior ao DDT.
Quando entrei como técnico da SUCAM, nas recomendações técnicas vigentes do trabalho de campo, nunca houve recomendação para que o produto (DDT) fosse misturado no balde “com o braço e com a mão aberta”. Como tudo que dizemos tem que haver documentação que comprove o fato, seria interessante resgatar estas informações escritas por documentos oficiais (manuais, Ofícios, Memorandos, etc.)
Interessante ressaltar, que, durante a campanha de erradicação global da malária sob os incentivos da OMS, o DDT foi utilizado no mundo todo. Verifica-se que não existe nos outros países, esses relatos que vem ocorrendo no Brasil. Caso este fato fosse verdade, obrigaria a OMS emitir "alerta" sobre o assunto e sua retirada imediata da sua lista de indicação.
Na realidade, não existem evidências que, até o momento, o DDT seja responsável por danos à saúde humana. Isto foi fundamental para o DDT ter sido retirado da lista de banimento (Convenção de Estocolmo) e colocado no "Anexo B" da Convenção, como produto ainda autorizado para uso no controle da malária, onde é usado principalmente na África Sub-saariana.
Encontra-se no portal eletrônico da OMS, a nota (2006): “WHO gives indoor use of DDT a clean bill of health for controlling malaria - A OMS da atestado de saúde ao uso do DDT no controle intradomiciliar da malária”, da qual extraímos os parágrafos a seguir:
"WHO actively promoted indoor residual spraying for malaria control until the early 1980s when increased health and environmental concerns surrounding DDT caused the organization to stop promoting its use and to focus instead on other means of prevention. Extensive research and testing has since demonstrated that well-managed indoor residual spraying programmes using DDT pose no harm to wildlife or to humans."
A OMS promoveu ativamente a pulverização residual intradomiciliar no controle da malária até o início de 1980 quando aumentou as preocupações em torno do DDT referentes a possíveis problemas ambientais e à saúde humana, o que levou a organização a parar de promover a sua utilização e para se concentrar em outros meios de prevenção. Extensas pesquisas e testes têm demonstrado desde então, que sendo bem conduzidos os programas de pulverização residuais intradomiliar utilizando o DDT, não representam danos à fauna ou aos humanos.
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“Indoor spraying is like providing a huge mosquito net over an entire household for around-the-clock protection,” said U.S. Senator Tom Coburn, a leading advocate for global malaria control efforts. “Finally, with WHO’s unambiguous leadership on the issue, we can put to rest the junk science and myths that have provided aid and comfort to the real enemy – mosquitoes – which threaten the lives of more than 300 million children each year.”
"A pulverização residual é como colocar um enorme mosquiteiro sobre uma casa inteira por um longo período", disse o senador americano Tom Coburn, um dos principais defensores para os esforços globais de controle da malária. "Por fim, com a inequívoca liderança da OMS sobre a questão, pode-se acabar com os mitos e o lixo científico que dão apoio e conforto a um inimigo real – os mosquitos, que ameaçam a vida de mais de 300 milhões de crianças a cada ano"
Este posicionamento recente da OMS vem comprovar que não existe nenhuma evidência sobre os danos à saúde humana e ambiente relacionados ao uso do DDT em saúde pública. O documento pode ser acessado no seguinte endereço;
Talvez seja por estas e outras razões que o Ministério da Saúde até o momento, não reconhece estas alegações de intoxicações.
Conforme citado no documento da OMS, existe um profusão de "lixo científico", (pode-se chamar assim), mas estes "trabalhos" só tem o "jeitão" de trabalho científico, pois quando se analisa utilizando o protocolo cético da metologia científica, devem ser descartados.
Lembro que um pesquisar sério disse em um fórum científico: "No Brasil, a ciência ruim, é mais pródiga em fazer com que as coisas aconteçam do que a boa ciência" - acredito que esta frase resume muito bem a situação ora tratada com relação ao DDT.
No momento de comprovação dos fatos, as referencias que são levadas em consideração, são aquelas disponibilizadas por instituições nacionais/internacionais sérias e reconhecidas no cenário científico, como o Programa Internacional de Segurança Quimica-IPCS, Organização Mundial de Saúde, USEPA e outras igualmente sérias.
As demais informações se enquadram naquela situação relatada no e-mail anterior - trata-se ai, de um problema de qualidade da ciência - que eu chamo de "ciência ruim", e no artigo enviado da OMS, se referem a "lixo científico".
O Laboratório citado é um laboratório particular que diz apenas se foi detectado ou não DDT na amostra (citando os valores) - lembre-se que o DDT está na cadeia alimentar, mesmo em recém nascidos e focas nas regiões articas se encontra a molécula - diz-se então que estão "contaminados" e não "intoxicados".
Exames feitos no Laboratório Adolfo Lutz/SP, que é um laboratório internacionalmente reconhecido em exames de clorados, mostram resultado diverso.
Alguns pesquisadores podem dizer várias coisas sobre o tema, inclusive aquilo que gostaríamos de houvir, entretanto estes trabalhos vão de encontro ao conhecimento estabelecido sobre o assunto até o momento (ressalta-se: até o momento - pois não existem evidencias até agora.A ciência vive da dúvida, por isso avança).
As revisões bibliográficas de algumas pesquisas são "seletivas", filtrando-se o que interessa, e descartando-se o resto - justamente neste "resto" pode estar a verdade.
Isto é muito pouco e temerário para quem trafega na contra-mão do conhecimento estabelecido (veja que estou generalizando - nada relacionado à pesquisadora citada).
Quanto a este usual procedimento, digo que o reconhecimento científico é demorado e difícil de chegar, só que, para perde-lo é rapidinho - e a pessoa passa a ser considerada com reservas no meio científico.
Ultimamente, foi publicado a
última revisão bibliográfica sobre o DDT relacionado à saúde humana, especialmente relacionado ao uso em sáude pública (borrifação intradomiciliar). Esta revisão é o que se considera "o estado da arte" sobre o assunto.
Environmental Health Criteria 241
DDT IN INDOOR RESIDUAL SPRAYING: HUMAN HEALTH ASPECTS
Ai estão informações que podem aclarar as alegações afirmadas pela pesquisadora citada.
No mais, estamos à disposição, e finalmente solicito que considere meus comentários como um esforço para se lançar mais um pouco de luz e claridade a este assunto.
Lembro de uma frase do astronomo americano Carl Sagan:
"O método científico não é perfeito - mas é tudo que temos. Fora dele, é as trevas".
(Carl Sagan - O mundo assombrado pelos demonios).
Att
Paulo cesar