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- Eu vou ser bem sincero. Prometo diminuir pela metade a verba enviada para a área da saúde e da educação, afinal, quem precisa disso? Vocês pobres nos dão muitos gastos. “Gastos”, eu detesto essa palavra. Caso ainda não tenha observado, os ricos e comerciantes são os que menos dão prejuízos ao governo, e sabe o por quê? Porque eles matriculam seus filhos em escolas privadas e não fazem uso de hospitais públicos… Nem eu uso essa saúde de merda que administro. E sabe o porquê? Porque eu tenho dinheiro! Muito dinheiro!!! Todo o dinheiro que um país pode ter. Eu também prometo que, como “ela” está querendo, irei construir um apartamento para a minha amante na capital do estado. Eu estou falando isso com você porque sei que, se abrir essa sua boca porca, ninguém irá acreditar. Eu pago, entenda como quiser, para que eles não acreditem. Já comprei inúmeros votos e meu discurso é o mais convincente de todos. Quando eu falar durante o grande pronunciamento da vitória, todos irão se emocionar ao ouvir as mais belas palavras saírem de minha boca… Há há há… Oh! Pobres diabos, como vocês são otários…
Ele, sem ao menos dar “adeus”, foi até seu carro, um luxuoso modelo que, de tão caro, nem mesmo eu o conhecia. Saiu às pressas, afinal, o pronunciamento ao qual se referiu estava prestes a começar.
Crônica: Um político verdadeiro
As eleições se aproximavam e os candidatos estavam quase loucos. Passavam de casa em casa, realizavam caminhadas da vitória e soltavam uma quantidade tão absurda de foguetes que mais parecia o Réveillon em Copacabana. Diante desse cenário, um dos pretendentes ao cargo me chamou a atenção:
Bééééééé… O som da campainha fez o silêncio pacificador presente em minha mente esvair sobre as narinas após um suspiro quase sem fim. Fui até a porta para ver de quem se tratava e, ao abrir, encontro um sujeito, muito bem vestido por sinal.
Sem cerimônias, adentrou minha humilde casa, foi até a cozinha, abriu a geladeira e, de dentro dela, retirou um pedaço que restava da pizza de ontem. Aqueceu a fatia no Micro-ondas e, sem sequer fechar a porta, foi até o meu armário, pegou um copo e depositou uma pequena sobra que ainda me restava da “Coca”.
Com o refrigerante em uma das mãos e o pedaço de pizza na outra, se dirigiu ao sofá e, como se estivesse em sua própria casa, praticamente se jogou sobre o móvel, onde permaneceu completamente estirado.
- Venha cá! – disse ele. Eu estava chocado, mal sabia para onde olhar, ou o que fazer, mas ainda assim, tive forças para ir ao seu encontro. Mesmo estando em minha própria morada, me sentia como uma visita prestes a ser expulsa. Sem pestanejar, o homem apoiou seus pés sobre o meu colo. Enquanto o fazia, sem sequer ter a ousadia de olhar para a minha insignificância, continuou:
- Eu não sei como, mas a comida está gostosa. – o sujeito olhou em volta, como se buscasse alguma coisa para criticar – Odeio pobre! – exclamou ele – Vocês são o carma da sociedade. Uns desgraçados que não têm vergonha de assumir a própria pobreza. Nem sequer dinheiro para pagar um IPTU vocês têm. Não sei como conseguem comer.
- Mas como… – tentei interromper…
- Calado! Você não é digno de dirigir sequer uma palavra a mim, seu pobre inútil. – eu estava me sentindo um lixo, mas, sem compaixão, ele continuou a falar – Ou você acha que, algum dia, os pobres estarão incluídos em algum grande plano de governo? Há Há, não me faça rir. Tudo o que temos hoje nada mais é do que um “cala a boca” para nos mantermos no controle de tudo. Eu não gosto de manter contato com esse tipo de gente, mas o que eu posso fazer? Vocês ainda são maioria, e precisamos do apoio do “povão”, como dizem em minha propaganda política. De que adianta contar com o dinheiro daqueles que financiam a minha campanha sem ganhar as eleições depois? Eu, infelizmente, preciso de pessoas como você.
Ele se levantou, deu alguns passos em direção à porta da casa, mas, como se tivesse esquecido de falar alguma coisa, retornou. Agora, olhando bem fundo em meus olhos. Seu olhar demonstrava nojo:
Abismado, só me restava dormir. Por que dormir? A resposta é bem simples… Todos dormem. E sonham durante o sono. Sonham com uma realidade avessa. Sonham que estão bem, mesmo tendo que esperar dias em filas de hospitais. Sonham com o próximo grito de “gol” narrado escandalosamente enquanto uma máscara gigante esconde a realidade podre existente por trás de toda aquela felicidade.
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