PF enfrenta governo e define calendário de protestos
Vannildo
Mendes
O
Estado de S. Paulo - 30/08/2012
Agentes,
escrivães e papiloscopistas da Polícia Federal rejeitaram a última chance de
acordo e decidiram manter a greve, deflagrada em 7 de agosto e enfrentar o
governo em busca do reconhecimento como categoria de nível superior. O
calendário de protestos nos próximos quatro meses, organizado nesta quinta em
assembleia dos 27 sindicatos da categoria, inclui boicote às ações de
inteligência da PF, como infiltração, campana, interceptações telefônicas e
investigação de organizações criminosas.
Segundo
o comando de greve, essas atividades exigem habilidades de nível superior. "Como
não recebemos por ações de inteligência e planejamento, vamos nos abster de
realizá-las até que o governo entenda o absurdo da situação", avisou o
presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Marcos Wink.
Essas atividades são exercidas quase exclusivamente por agentes, um exército de
mais de 8 mil policiais, 60% de todo o efetivo da PF.
Sem
reajuste há três anos, eles recebem hoje entre R$ 7.500 e R$ 13 mil. Com a
reestruturação, querem ser equiparados às demais carreiras de estado, cujos
salários vão de R$ 11,5 a R$ 19 mil. Mas sofrem resistência dentro da própria
corporação - os delegados e dirigentes da PF são contra - e o ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo, avisou que não vai comprar a briga. A entidade
vai editar uma cartilha de procedimentos funcionais orientando a categoria a só
exercer funções de nível médio como protesto.
Os
federais não estão sozinhos na ameaça de boicote. Outras categorias de peso
decidiram recusar o índice de reajuste dado pelo governo - 15,8% fatiados em
três parcelas anuais - e manter a paralisação das atividades até que as
negociações sejam reabertas. Elas somam mais de 50 mil pessoas, cerca de 10% do
total de servidores ativos da União. Os demais 90% fecharam o acordo e já
começaram a retornar ao trabalho. Seu próximo passo é negociar a reposição das
horas não trabalhadas e a consequente revogação do corte de ponto dos
faltosos.
O
bloco dos insatisfeitos saiu nesta quinta mesmo às ruas, com manifestantes
fantasiados de preto. Em sinal de luto, grevistas da carreira de analistas e
especialistas de infraestrutura do governo fizeram o enterro simbólico da
presidente Dilma Rousseff e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Sinalizaram com isso que devem boicotar obras do PAC, como a transposição do Rio
São Francisco, usinas hidrelétricas, o programa Minha Casa Minha Vida e o Plano
Nacional de Banda Larga.
Entre
as categorias que continuam de braços cruzados, conforme o balanço final do
Ministério do Planejamento, fechado nesta quinta, estão a dos servidores das
agências reguladoras, que também têm papel relevante no PAC e o pessoal da
Receita Federal, incluindo auditores e analistas, cuja paralisação vem causando
embaraços ao setor de importação e exportação, com danos à
economia.
Negociações
Todas
as categorias que não assinaram acordo ficarão sem reajuste em 2013. Ficaram de
fora, por exemplo, os servidores do Instituto Nacional de Política Industrial
(INPI), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e de
alguns ministérios, como o do Desenvolvimento Agrário.
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