Com o objetivo de buscar solução frente o quadro de adoecimento e falecimentos precoces dos Combatentes das Endemias (ex-sucam), em especial à malaria, combatida até a década de 90, com uso do Dicloro-Difenil-Tricloroetano – DDT, e sem atentar neste momento quanto ao aspecto cientifico do nexo causal ao quadro de sintomas e causas mortis apresentados da possível contaminação daqueles que combateram a malaria por esse Brasil afora, vimos demonstrar a quem de competência, a rotina de trabalho desses profissionais no decorrer do exercício de suas funções, as quais de forma simplificada se apresentavam da seguinte forma:
1 – Anualmente a operacionalização para a aplicação do DDT como forma de proteção intradomiciliar à população exposta em área de risco para malaria, era realizada em dois ciclos semestrais, com 105 dias úteis cada;
Em decorrência da rotina laborativa, observava-se as seguintes situações:
1.1 Ausência mínima do servidor em até 210 dias do lar, impondo um estilo de vida degradante ao trabalhador;
1.2 Em área fluvial a ausência se dava em média por 6 meses ininterrupto.
Hipóteses de conseqüências danosas ao trabalhador:
1.3 Desestruturação familiar;
1.4 Como subterfugio, alcoolismo e uso de drogas ilícitas
2 – Condições de deslocamentos para as áreas de trabalho:
2.1 Comumente por conta própria independente do local de atuação, quando terrestre;
2.2 Veículos disponibilizados somente para deslocar e buscar equipe e material em inicio e término do itinerário de trabalho
Hipóteses de consequências danosas ao trabalhador:
2.3 Peso excessivo no transporte a pé de material de trabalho (bomba, balde, capacete e inseticida), vestuário pessoal e de trabalho, inclusive rede e roupa de cama para dormir;
2.5 Danos na coluna;
3 – Condições de alimentação e pernoite:
Com a inexistência de veiculo para acompanhar a equipe ao longo do itinerário de trabalho, gerava-se a seguinte situação:
3.1 Uso de rede para dormir;
3.2 Alimentação irregular (dependia dos moradores, e comumente uma ou outra refeição não havia, em razão dos escassos recursos);
3.3 Pernoite em locais inadequados (tuias, paióis, casas abandonadas, igrejas, escolas, comumente o mesmo espaço com inseticidas, etc);
3.4 Ingestão de água de igarapés e em muitas vezes utilizando o balde de inseticida em armazenamento noturno para consumo.
4 – Situações para execução da aplicação de inseticidas residual e espacial:
4.1 Movimentos repetitivos obrigatórios para eficiência do serviço (agitação periódica da bomba);
4.2 Peso rotineiro de equipamentos, inseticida e apetrechos pessoal em média de 25 kg;
4.3 Equipamento de proteção individual insuficiente (calça, camisa e capacete)
4.4 Falta de orientação no aspecto de manuseio do inseticida para preservação da saúde
Hipóteses de consequências danosas ao trabalhador:
4.5 Intoxicação via dérmica pelo uso de roupas utilizadas por mais de um dia;
4.6 Intoxicação via dérmica e aérea pela insuficiência de epis.
5 – Pesagem do DDT(quando a granel) – Ocorrências de rotina laborativa:
5.1 Pesagem em ambiente fechado, sem equipamento de proteção.
Hipóteses de consequências danosas ao trabalhador:
5.2 Intoxicação por vias aéreas e cutâneas
6 – Fardamento disponibilizado:
6.1 Fornecimento de 18 metros tecido brim caqui anual para confecção da farda;
6.2 Fardamento insuficiente (três fardas anuais);
Hipóteses de consequências danosas ao trabalhador:
6.3 Intoxicação por via cutâneas por uso da farda por vários dias;
6.4 Intoxicação por via cutâneas na lavagem (esposas/lavadeiras)
No intento de buscar elucidar o quadro de adoecimento dos servidores, realizou-se o exame toxicológico de alguns servidores, onde se apurou o seguinte resultado, conforme quadro abaixo:
RESUMO DOS SERVIDORES COM EXAME TOXICOLÓGICO POR DDT
Percentual positivo para presença de pesticidas do grupo Órgano-clorado – DDT
Servidores do Ministerio da Saúde e Secretaria Especial de Saúde Indígena – SESAI/RO
Número de servidores Grau de Intoxicação
196 0,01 a 3,00
247 3,01 a 10,0
117 10,1 a 20,0
49 20,1 a 30,0
19 30,1 a 50,0
07 50,1 a 81,8
635
TOTAL
Com o exposto, temos a convicção que a situação acima apresentada é generalizada em relação aos demais servidores Brasil afora, e que se encontram vitimados pelo manuseio do DDT, na busca de salvaguardar vidas de brasileiros em especial no processo de colonização da Amazônia, e que honrosamente cumpriram suas missões de forma reconhecida pelos que foram assistidos, e que agora se veem desolados pelos órgãos competentes quanto à assistência ao quadro de adoecimento característico de intoxicação por inseticida do grupo organoclorado.
Na expectativa de que alguma autoridade acolha esse nosso grito e intervenha para resolução da situação. Embora muitos já de forma agonizante e outros muitos que já se esvaíram suas esperanças e já não se encontram mais em nosso meio, aguardamos esperançosamente.
O que tão somente queremos depois de uma honrosa missão cumprida, é sermos tratados dignamente nos dias de vida que nos resta.
Rondônia, 15 de junho de 2012
Abson Praxedes de Carvalho
Secretario de Saúde – SINDSEF/RO
Nenhum comentário:
Postar um comentário
AGRADECEMOS A GENTILEZA DOS AUTORES QUE NOS BRINDAM COM OS SEUS PRECIOSOS COMENTÁRIOS.
##############PORTAL DO SERVIDOR PÚBLICO DO BRASIL##############