Inseticida proibido ainda contamina ave nos EUA
Reprodução do condor da Califórnia é ameaçada por pesticida banido em 1972
Por The New York Times
6 maio 2016, 17h12 - Publicado em 22 nov 2010, 20h39
Os condores da Califórnia se alimentam de animais marinhos que ficam em uma região onde, nas décadas de 50 e 60, foram despejadas quantidades enormes de DDT. O pesticida ainda permanece no fundo do mar, contaminando as águas do Oceano Pacífico
Quatro anos atrás, numa cavidade forrada de folhas no tronco de uma sequoia de 60 metros, dois condores da Califórnia fizeram a primeira tentativa de formar um ninho na região em mais de um século.
Joe Burnett, renomado biólogo da vida selvagem da Ventana Wildlife Society e principal pesquisador do programa de recuperação de condores da Califórnia, ficou maravilhado com esse promissor desenvolvimento no esforço para salvar da extinção o maior pássaro dos EUA. Quando essa primeira tentativa de procriação não funcionou, Burnett atribuiu o fracasso à inexperiência dos jovens pássaros. Porém, quando escalou a árvore gigante para examinar o ninho abandonado, ficou estarrecido com o que descobriu: a primeira evidência de uma nova dificuldade para o programa de condores.
“Os fragmentos de cascas de ovo encontrados pareciam incrivelmente finos”, disse Burnett. “Eles eram tão finos que precisamos conduzir testes para confirmar que se tratava de um ovo de condor”. Os fragmentos lembravam os frágeis ovos de pássaros como o pelicano-marrom e o falcão-peregrino, que foram devastados pelo DDT e hoje recomeçam a aparecer.
Contaminação tardia – A descoberta levantou uma questão perturbadora: poderia o DDT – o pesticida fatal que é proibido nos Estados Unidos desde 1972 – causar problemas reprodutivos nos condores quase quatro décadas depois?
Para responder a questão, a Ventana Wildlife Society coletou o máximo de ovos selvagens que conseguiu. Os poucos casais de reprodução em Big Sur, região central da Califórnia, colocam um único ovo a cada dois anos. Biólogos da Ventana desbravam o isolado terreno da região para trocar um ovo selvagem por outro, do programa de criação em cativeiro no zoológico. O desatento casal, então, choca o ovo substituto como se fosse o seu.
Além disso, os biólogos da Ventana começaram a buscar possíveis novas fontes de DDT. Os condores são comedores de carniça e, nos últimos anos, os pássaros de Big Sur se voltaram ao que já foi uma importante fonte de alimento: os mamíferos marinhos. Agora, Burnett suspeita que animais como os leões marinhos da Califórnia podem carregar um perigo oculto aos condores. Mesmo atualmente, a gordura do leão marinho contém altos níveis de DDE, um tóxico subproduto metabólico do DDT.
Os biólogos da Ventana compararam a espessura das cascas de ovos coletadas em Big Sur com aqueles produzidos pelos condores do sul da Califórnia, um grupo que vive a muitos quilômetros da costa. Os pássaros do sul da Califórnia não se alimentam de mamíferos marinhos, e seus ovos são normais. Burnett afirmou que os ovos de Big Sur são “substancialmente mais finos” do que os ovos dos pássaros do interior, e que indicadores iniciais apontam o DDT como a principal causa do afinamento.
Fonte de DDT – Embora não existam fontes conhecidas de DDT perto de Big Sur, um grande ponto de DDT em sedimentos marinhos perto da costa sul da Califórnia, chamado de Recife de Palos Verdes, atraiu a atenção de Burnett – pois fica próximo a uma área de procriação dos leões marinhos da Califórnia, que comem os peixes da região. Em seguida, os leões marinhos migram costa acima. Centenas desses animais usam uma praia rochosa perto de Big Sur como ponto de parada em sua viagem ao norte. Nos últimos anos, essa “parada” de leões marinhos se tornou o banquete favorito dos condores de Big Sur.
O DDT que polui o Recife de Palos Verdes apareceu há meio século, com a empresa Montrose Chemical Corp. Na época, a Montrose era a maior produtora mundial do que se considerava um “pesticida milagroso”. Segundo Carmen White, gerente do projeto de remediação da Agência de Proteção Ambiental (EPA, da sigla em inglês) para o local, nas décadas de 1950 e 60 a Montrose dispensou seus resíduos de DDT sem tratamento diretamente no sistema de esgotos do Distrito de Saneamento do Condado de Los Angeles. Estima-se que 1,7 mil toneladas tenham se assentado no fundo do mar, onde seguem contaminando as águas da costa do Pacífico. A EPA declarou a área como um local do Superfundo (o Superfundo foi criado pelo governo federal americano para limpar lugares atingidos por materiais tóxicos e atender a emergências ambientais), e White está coordenando um projeto para cobrir as partes mais contaminadas com uma camada de areia e lodo em 2012.
Segundo David Witting, biólogo de pesca para a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, a dieta determina como o DDT afeta as diversas espécies. Em 1971, quando as autoridades locais obrigaram a Montrose a interromper suas descargas, Witting afirmou que os pelicanos-marrons e outros pássaros haviam sido duramente atingidos. Os pelicanos estavam se alimentando de pequenos peixes contaminados por DDT, que absorviam o pesticida enquanto nadavam pela superfície próxima à saída do esgoto.
Assim que a Montrose parou de descarregar DDT no esgoto, essa fonte de contaminação desapareceu. “Depois disso os pelicanos-marrons reapareceram de forma bastante rápida”, disse Witting.
Luz no fim do túnel – James Haas, coordenador do programa de contaminantes ambientais do Serviço de Vida Selvagem e Peixes dos Estados Unidos, apontou que outros pássaros da região que estão mais acima na cadeia alimentar, como as águias-de-cabeça-branca, continuam sofrendo com o afinamento das cascas de ovos induzido por DDT.
Preocupações a respeito dos condores e do DDT estimularam o Serviço de Vida Selvagem e Peixes a iniciar um novo projeto de um ano para estudar como os mamíferos marinhos poderiam levar DDT da Montrose até a costa californiana. A principal pesquisadora, Myra Finkelstein, da Universidade da Califórnia, também conduz um estudo de quatro anos para investigar fatores de risco e estratégias de gerenciamento para assegurar a sustentabilidade em longo prazo dos condores. Isso inclui não só o DDT, mas também intoxicações causadas pela ingestão de fragmentos chumbo, encontrados na caça a tiros. O envenenamento por chumbo foi um fator significativo na luta dos pássaros contra a extinção, e segue sendo o principal perigo atual aos condores libertados.
Em 2008, graças ao problema do envenenamento por chumbo, a Califórnia decretou uma lei exigindo o uso de munição sem chumbo na região dos condores.
Apesar do chumbo e do crescente problema com DDT, Burnett permanece otimista. Ele tem esperanças de que ações como cobrir os sedimentos marinhos contaminados, além das constantes pesquisas, proporcionarão soluções. Ele aponta que, em 1982, a população de condores da Califórnia estava reduzida a 22 pássaros. Embora os problemas continuem, a recuperação dos condores tem sido uma história de sucesso para a conservação. Hoje existem 380 condores da Califórnia no mundo todo, com a metade desses titãs do céu voando livremente no oeste dos Estados Unidos.
“Há uma luz no fim do túnel”, disse Burnett. “Apenas não sabemos a que distância ela está”.
Série Trabalhadores da Sucam estão contaminados pelo DDT, e a Funasa/MS não reconhece intoxicação por DDT entre ex-guardas da Sucam.
O maldito produto foi proibido no Brasil desde 1985, mas foi usado em larga escalas em vários estado brasileiro ate 2009, deixando sequelas em várias vítimas, algumas fatais e até hoje causa indignação.
Estado brasileiro possui uma grande dívida para com os indivíduos que exerceram missão tão importante na extinta Sucam, (hoje Funasa/ MS) e que a ação danosa do pesticida causou a morte de inúmeros funcionários, além de sequelas graves que levaram a invalidez para o trabalho.
Ainda os funcionários da antiga Sucam trabalharam sem proteção nenhuma durante quase 20 anos, borrifando casas pelo interior do país, na árdua missão de combater doenças endêmicas como a dengue, febre amarela e malária e hoje sofrem as consequências do envenenamento do pesticida. “É mais do que justo o resgate dessa dívida social e a garantia de um mínimo de dignidade aos servidores ainda vivos, que foram vítimas de doença profissional e se encontram atualmente abandonados e entregues à própria sorte.
Reprodução do condor da Califórnia é ameaçada por pesticida banido em 1972
Por The New York Times
6 maio 2016, 17h12 - Publicado em 22 nov 2010, 20h39
Os condores da Califórnia se alimentam de animais marinhos que ficam em uma região onde, nas décadas de 50 e 60, foram despejadas quantidades enormes de DDT. O pesticida ainda permanece no fundo do mar, contaminando as águas do Oceano Pacífico
Quatro anos atrás, numa cavidade forrada de folhas no tronco de uma sequoia de 60 metros, dois condores da Califórnia fizeram a primeira tentativa de formar um ninho na região em mais de um século.
Joe Burnett, renomado biólogo da vida selvagem da Ventana Wildlife Society e principal pesquisador do programa de recuperação de condores da Califórnia, ficou maravilhado com esse promissor desenvolvimento no esforço para salvar da extinção o maior pássaro dos EUA. Quando essa primeira tentativa de procriação não funcionou, Burnett atribuiu o fracasso à inexperiência dos jovens pássaros. Porém, quando escalou a árvore gigante para examinar o ninho abandonado, ficou estarrecido com o que descobriu: a primeira evidência de uma nova dificuldade para o programa de condores.
“Os fragmentos de cascas de ovo encontrados pareciam incrivelmente finos”, disse Burnett. “Eles eram tão finos que precisamos conduzir testes para confirmar que se tratava de um ovo de condor”. Os fragmentos lembravam os frágeis ovos de pássaros como o pelicano-marrom e o falcão-peregrino, que foram devastados pelo DDT e hoje recomeçam a aparecer.
Contaminação tardia – A descoberta levantou uma questão perturbadora: poderia o DDT – o pesticida fatal que é proibido nos Estados Unidos desde 1972 – causar problemas reprodutivos nos condores quase quatro décadas depois?
Para responder a questão, a Ventana Wildlife Society coletou o máximo de ovos selvagens que conseguiu. Os poucos casais de reprodução em Big Sur, região central da Califórnia, colocam um único ovo a cada dois anos. Biólogos da Ventana desbravam o isolado terreno da região para trocar um ovo selvagem por outro, do programa de criação em cativeiro no zoológico. O desatento casal, então, choca o ovo substituto como se fosse o seu.
Além disso, os biólogos da Ventana começaram a buscar possíveis novas fontes de DDT. Os condores são comedores de carniça e, nos últimos anos, os pássaros de Big Sur se voltaram ao que já foi uma importante fonte de alimento: os mamíferos marinhos. Agora, Burnett suspeita que animais como os leões marinhos da Califórnia podem carregar um perigo oculto aos condores. Mesmo atualmente, a gordura do leão marinho contém altos níveis de DDE, um tóxico subproduto metabólico do DDT.
Os biólogos da Ventana compararam a espessura das cascas de ovos coletadas em Big Sur com aqueles produzidos pelos condores do sul da Califórnia, um grupo que vive a muitos quilômetros da costa. Os pássaros do sul da Califórnia não se alimentam de mamíferos marinhos, e seus ovos são normais. Burnett afirmou que os ovos de Big Sur são “substancialmente mais finos” do que os ovos dos pássaros do interior, e que indicadores iniciais apontam o DDT como a principal causa do afinamento.
Fonte de DDT – Embora não existam fontes conhecidas de DDT perto de Big Sur, um grande ponto de DDT em sedimentos marinhos perto da costa sul da Califórnia, chamado de Recife de Palos Verdes, atraiu a atenção de Burnett – pois fica próximo a uma área de procriação dos leões marinhos da Califórnia, que comem os peixes da região. Em seguida, os leões marinhos migram costa acima. Centenas desses animais usam uma praia rochosa perto de Big Sur como ponto de parada em sua viagem ao norte. Nos últimos anos, essa “parada” de leões marinhos se tornou o banquete favorito dos condores de Big Sur.
O DDT que polui o Recife de Palos Verdes apareceu há meio século, com a empresa Montrose Chemical Corp. Na época, a Montrose era a maior produtora mundial do que se considerava um “pesticida milagroso”. Segundo Carmen White, gerente do projeto de remediação da Agência de Proteção Ambiental (EPA, da sigla em inglês) para o local, nas décadas de 1950 e 60 a Montrose dispensou seus resíduos de DDT sem tratamento diretamente no sistema de esgotos do Distrito de Saneamento do Condado de Los Angeles. Estima-se que 1,7 mil toneladas tenham se assentado no fundo do mar, onde seguem contaminando as águas da costa do Pacífico. A EPA declarou a área como um local do Superfundo (o Superfundo foi criado pelo governo federal americano para limpar lugares atingidos por materiais tóxicos e atender a emergências ambientais), e White está coordenando um projeto para cobrir as partes mais contaminadas com uma camada de areia e lodo em 2012.
Segundo David Witting, biólogo de pesca para a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, a dieta determina como o DDT afeta as diversas espécies. Em 1971, quando as autoridades locais obrigaram a Montrose a interromper suas descargas, Witting afirmou que os pelicanos-marrons e outros pássaros haviam sido duramente atingidos. Os pelicanos estavam se alimentando de pequenos peixes contaminados por DDT, que absorviam o pesticida enquanto nadavam pela superfície próxima à saída do esgoto.
Assim que a Montrose parou de descarregar DDT no esgoto, essa fonte de contaminação desapareceu. “Depois disso os pelicanos-marrons reapareceram de forma bastante rápida”, disse Witting.
Luz no fim do túnel – James Haas, coordenador do programa de contaminantes ambientais do Serviço de Vida Selvagem e Peixes dos Estados Unidos, apontou que outros pássaros da região que estão mais acima na cadeia alimentar, como as águias-de-cabeça-branca, continuam sofrendo com o afinamento das cascas de ovos induzido por DDT.
Preocupações a respeito dos condores e do DDT estimularam o Serviço de Vida Selvagem e Peixes a iniciar um novo projeto de um ano para estudar como os mamíferos marinhos poderiam levar DDT da Montrose até a costa californiana. A principal pesquisadora, Myra Finkelstein, da Universidade da Califórnia, também conduz um estudo de quatro anos para investigar fatores de risco e estratégias de gerenciamento para assegurar a sustentabilidade em longo prazo dos condores. Isso inclui não só o DDT, mas também intoxicações causadas pela ingestão de fragmentos chumbo, encontrados na caça a tiros. O envenenamento por chumbo foi um fator significativo na luta dos pássaros contra a extinção, e segue sendo o principal perigo atual aos condores libertados.
Em 2008, graças ao problema do envenenamento por chumbo, a Califórnia decretou uma lei exigindo o uso de munição sem chumbo na região dos condores.
Apesar do chumbo e do crescente problema com DDT, Burnett permanece otimista. Ele tem esperanças de que ações como cobrir os sedimentos marinhos contaminados, além das constantes pesquisas, proporcionarão soluções. Ele aponta que, em 1982, a população de condores da Califórnia estava reduzida a 22 pássaros. Embora os problemas continuem, a recuperação dos condores tem sido uma história de sucesso para a conservação. Hoje existem 380 condores da Califórnia no mundo todo, com a metade desses titãs do céu voando livremente no oeste dos Estados Unidos.
“Há uma luz no fim do túnel”, disse Burnett. “Apenas não sabemos a que distância ela está”.
Série Trabalhadores da Sucam estão contaminados pelo DDT, e a Funasa/MS não reconhece intoxicação por DDT entre ex-guardas da Sucam.
O maldito produto foi proibido no Brasil desde 1985, mas foi usado em larga escalas em vários estado brasileiro ate 2009, deixando sequelas em várias vítimas, algumas fatais e até hoje causa indignação.
Estado brasileiro possui uma grande dívida para com os indivíduos que exerceram missão tão importante na extinta Sucam, (hoje Funasa/ MS) e que a ação danosa do pesticida causou a morte de inúmeros funcionários, além de sequelas graves que levaram a invalidez para o trabalho.
Ainda os funcionários da antiga Sucam trabalharam sem proteção nenhuma durante quase 20 anos, borrifando casas pelo interior do país, na árdua missão de combater doenças endêmicas como a dengue, febre amarela e malária e hoje sofrem as consequências do envenenamento do pesticida. “É mais do que justo o resgate dessa dívida social e a garantia de um mínimo de dignidade aos servidores ainda vivos, que foram vítimas de doença profissional e se encontram atualmente abandonados e entregues à própria sorte.
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