Em defesa das mulheres no serviço público
Granjeiro recorre ao Estudo da Escola Nacional de Administração Pública para reafirmar o óbvio. “É natural que as mulheres tenham papel de relevo cada vez maior no serviço público”
“São elas funcionárias eternas / Dos órgãos. E em educação, / Mulheres são flores e são rosa / Olor, essência que veio do Éden, / Do arco-íris as cores vivas / Avatar, educadoras de espíritos, / Formandas, mestras na intuição, /Fora dos campi são mães, / Esposas, mulheres rainhas dos lares / Que detêm a beleza ímpar deste bioma / E na virtude: arquitetas da união.”(autor desconhecido)
Estudo da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) divulgado peloCorreio Braziliense no mês passado me causou surpresa e preocupação. Os dados apontam retração da presença das mulheres entre os servidores públicos brasileiros. Em 12 dos 25 órgãos do Poder Executivo Federal objetos da pesquisa da Enap, o número de mulheres no quadro de servidores diminuiu na última década. Na própria Presidência da República, comandada há quatro anos por uma mulher – que tem mais quatro anos de governo pela frente –, o percentual de servidoras caiu de 42%, em 2004, para 40%, este ano.
Tais dados não são apenas surpreendentes e preocupantes. São, para dizer o mínimo, espantosos, sobretudo se considerarmos que o governo tem se empenhado em reduzir ao mínimo possível as diferenças de gênero típicas de sociedades machistas como a nossa. Entre outros setores assistidos pelas políticas públicas voltadas às questões de gênero, inclui-se justamente o do trabalho, tanto na esfera privada como na pública. Hoje, dispomos de uma Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, vinculada à Presidência da República, e contamos com uma legislação bem mais avançada do que a de anos atrás, no que diz respeito à proteção dos direitos femininos. Exemplo notório desses avanços é a ampliação da licença-maternidade para todas as trabalhadoras do país. O período de afastamento das profissionais que se tornam mães agora é de seis meses, e não mais de apenas quatro.
Esses dados foram apurados quatro anos atrás pelo IBGE em todo o país. Agora, pelo menos no serviço público federal, a Enap constata significativa perda de espaço da força de trabalho feminina. Em todo o Executivo, os homens ocupam a maioria dos postos, com 54%, contra 46% de representantes do sexo feminino. No Ministério das Cidades, por exemplo, o percentual de mulheres empregadas caiu de 51% para 42%, na maior queda entre os dados apurados pelos pesquisadores. Outro dado importante na pesquisa da Enap indica que, nos cargos de livre provimento, a desigualdade é ainda mais forte. As mulheres ocupam só 33% das chefias e 19% dos DAS 6, que são os postos de trabalho mais bem remunerados entre os de Direção e Assessoramento. Por se tratar de estudo da Enap, os números são oficiais: só 12% das servidoras do Executivo Federal recebem salários acima de R$ 12,5, mil contra 17% de homens. A maioria delas (45%), ganha de R$ 3 mil a R$ 5 mil mensais. O levantamento não inclui nem o Ministério Público da União, nem o Banco Central, nem a Abin, nem as empresas públicas. Mas ainda há outro dado chocante para nossas servidoras públicas: quanto mais alto o cargo nos órgãos de governo, menor é a presença delas, que ocupam 45% dos DAS-1 e apenas 28% dos DAS-5.
Como se isso tudo não bastasse para mostrar que algo está errado na política de governo em relação às mulheres no serviço público, observa-se no levantamento da Enap que a desvantagem em relação aos homens ocorre até mesmo nos cargos preenchidos obrigatoriamente por concurso público. É triste notar que, em nenhuma das seis carreiras mais importantes e mais bem remuneradas do governo, as servidoras do sexo feminino ultrapassam os 49% do quadro de servidores efetivos. Nesse ponto, viva o Itamarati, porque é na carreira diplomática que elas têm maior presença, com 38,4%. Pena que, entre os 25 órgãos públicos pesquisados pela Enap, elas são maioria em apenas cinco: Turismo, Saúde, Previdência Social, governo dos ex-territórios e Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
A situação de desigualdade das mulheres ocorre também nos estados, quando se trata de cargo federal. A Enap constatou que apenas no Amapá e em Roraima elas são maioria entre os servidores efetivos do governo federal. No Distrito Federal, até que a situação não é tão ruim, com 46% de mulheres nos cargos federais reservados aos servidores concursados. Já no Nordeste, a situação é muito diferente: 56% dos concursados do Executivo são homens. Essa situação, não tem nada a ver com escolaridade, já que as mulheres têm, em média, 7,9 anos de estudo, contra 7,4 anos dos homens, de acordo com dados de 2013 do IBGE. O que ocorre, então? Especialista ouvida pelo Correio Braziliense explica: “As mudanças nos últimos anos foram mínimas. Isso em um cenário em que as mulheres têm mais escolaridade e mais tempo de dedicação. Mas os dados do estudo são inversamente proporcionais à ascensão do sexo feminino”, afirma a coordenadora do Instituto de Pesquisa Aplica da Mulher, Tânia Fontenele, ouvida pelo jornal.
Há outros fatores que podem ser considerados na análise dessa pesquisa, como a predominância masculina, desde a universidade, em carreiras como engenharia e economia, entre outras, o que naturalmente se reflete mais à frente, no serviço público. A situação da Petrobras ilustra bem isso. Lá, mais de 80% dos empregados são homens. Outro fator que deve ser considerado tem a ver com a dupla jornada a que as mulheres em geral se submetem, em casa e no trabalho, por estarem mais vinculadas às obrigações domésticas. Um dos indicadores aferidos pelo Banco Mundial para medir a equidade entre os gêneros é o quanto a atividade doméstica é dividida entre o casal. No Brasil, a mulher tem de enfrentar, quase sempre, a dupla jornada, o que dificulta sua ascensão no mercado de trabalho, inclusive no serviço público, de acordo com especialistas.
Diante de tudo isso, quero registrar que defendo o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho. Elas são excelentes profissionais. Desempenham suas atividades tão bem quanto os homens, e sou testemunha do interesse cada vez maior que elas têm pelos concursos públicos e do sucesso que vêm alcançando ao longo dos últimos vinte anos nessa empreitada. Acho que essa pesquisa da Enap deve servir de alerta principalmente para o governo – em especial para um governo cujo comando está nas mãos de uma mulher. Cabe a ele consertar o que estiver errado em suas políticas sobre o trabalho feminino no Executivo. Estou convencido de que a cada dia mais mulheres vão ocupar esses cargos e superar essas desigualdades. Poderão, então, demonstrar toda a sua capacidade e competência, quando alcançarem o seu
Feliz Cargo Novo!
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