Correio Braziliense - 18/05/2018
Em menos de um mês, a Geap Saúde, operadora de planos de assistência médica dos servidores públicos federais, teve três diretores executivos diferentes. O primeiro deles, Roberto Sérgio Fontenele Cândido, foi demitido após 41 dias de trabalho. A justificativa para a dispensa dada pelo presidente substituto do conselho de administração, Manoel Messias, se baseou em um áudio, divulgado pelo Blog do Vicente, em que Fontenele diz que médicos e hospitais roubam os planos de saúde.
Em entrevista exclusiva ao Blog, o ex-diretor executivo afirmou que, se a gestão temerária continuar, a Geap vai quebrar. Ele disse que a operadora se transformou em cabide de empregos. Segundo Fontenele, indicações políticas são uma realidade na Geap e a maioria delas é feita por imposição do presidente substituto do Conselho de Administração, Manoel Messias, ligado ao Partido Progressista (PP). "Ele me perturbou durante dias para empregar sete pessoas, sem a devida qualificação e com salários a partir de R$ 10 mil, mesmo sabendo que há um excedente de mais de 280 colaboradores", diz.
Fontenele afirmou, ainda, que sua equipe identificou problemas na folha de pagamento da Geap. Empregados com a mesma atribuição têm salários desiguais. "Há, sim, dezenas de profissionais remunerados acima dos valores adequados para seus cargos. Gozam de enquadramentos que excedem as regras previstas no plano atual. Assessor ganhando mais que assessor. Diretor ganhando mais que diretor executivo", frisa. Nas contas dele, a operadora precisa de R$ 130 milhões em caixa até junho, e deve ser administrada com seriedade para que não seja liquidada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
O substituto de Fontenele foi escolhido mais uma vez por Messias, em decisão monocrática. Entretanto, no dia em que o conselho de administração se reuniu para referendar o nome de Oswaldo Luiz Estuque Garcia de Camargo, ele resolveu declinar, por razões pessoais. Quem conhece o dia a dia da Geap diz que o executivo preferiu não correr os riscos de ter os bens bloqueados em meio à possibilidade de um intervenção da ANS. Com isso, Luciana Rodriguez Teixeira de Carvalho, que ocupava a diretoria de Saúde, assumiu interinamente a diretoria executiva. As diretorias de Finanças e de Controle de Qualidade estão vagas.
Com isso, três cargos estratégicos da operadora estão acéfalos. Resta saber que providências o governo tomará para que o plano de saúde de mais de 450 mil servidores e familiares não quebre. As indicações políticas são uma realidade em toda a Esplanada dos Ministérios, nas estatais e em qualquer órgão que o governo tenha assento. Entretanto, a Geap precisa de técnicos capacitados para tirar o plano de saúde da UTI. Sem isso, milhares de brasileiros ficarão desamparados e desprotegidos no momento em que mais dependem dos convênios para ter acesso a um atendimento digno e de qualidade.
Por Vicente Nunes
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