De modo geral, o trabalho com esse tema transversal pode, dependendo de como é
tratado, se constituir num espaço revigorador da vida escolar, da prática pedagógica. Ele
pode reavivar o debate entre alunos de várias idades e classes, entre toda a comunidade
escolar, entre escola e bairro e ainda entre instâncias maiores da administração pública.
É desejável a comunidade escolar refletir conjuntamente sobre o trabalho com o
tema Meio Ambiente, sobre os objetivos que se pretende atingir e sobre as formas de
conseguir isso, esclarecendo o papel de cada um nessa tarefa. O convívio escolar é decisivo
na aprendizagem de valores sociais e o ambiente escolar é o espaço de atuação mais imediato
para os alunos. Assim, é preciso salientar a sua importância nesse trabalho.
Para que esses trabalhos possam atingir essa amplitude, é necessário que toda a
comunidade escolar (professores, funcionários, alunos e pais) assuma esses objetivos, pois
eles se concretizarão em diversas ações que envolverão todos, cada um na sua função.
Esse é um ponto muito importante e delicado. Já se observaram trabalhos tidos
como ambientais na escola, em que houve, de fato, um movimento contrário: as questões
ambientais foram tratadas de maneira asséptica, fragmentada, que, como todo o saber tratado
dessa maneira, se cristaliza, não servindo mais como referência para solução de problemas
ambientais, mas apenas como um conceito a mais, eventualmente servindo para embasar
outros saberes desse tipo. É restringir a limites muito estreitos, por exemplo, definir
corretamente o lixo, sem estabelecer relação com a situação real de limpeza da escola, do
bairro, de estado, ou ainda, com o contexto concreto das relações sociais que engendraram
a problemática do lixo.
Outro ponto importante a ser considerado é a relação da escola com o ambiente em
que está inserida. Por ser uma instituição social que exerce intervenção na realidade, ela
deve estar conectada com as questões mais amplas da sociedade, e com os movimentos
amplos de defesa da qualidade do ambiente, incorporando-os às suas práticas, relacionando-
os aos seus objetivos. É também desejável a saída dos alunos para passeios e visitas a locais
de interesse dos trabalhos em Educação Ambiental. Assim, é importante que se faça um
levantamento de locais como parques, empresas, unidades de conservação, serviços públicos,
lugares históricos e centros culturais, e se estabeleça um contato para fins educativos.
Porém, nem sempre é possível sair da escola ou pedir que os alunos o façam,
principalmente no início do terceiro ciclo. Assim, é importante promover situações no
interior da escola que promovam a articulação com os problemas locais, e, se possível,
estimular a participação de pessoas da comunidade ou de outras instituições nessas situações.
O trabalho desenvolvido pelas universidades, organizações governamentais e não
governamentais na área ambiental é um valioso instrumento para o ensino e a aprendizagem
do tema Meio Ambiente. A relação com as instituições próximas à escola pode resultar em
simples colaboração, ou em significativas parcerias para a execução de ações conjuntas.
Para os terceiro e quarto ciclos, esse pode ser um outro espaço privilegiado para a articulação
e a construção do coletivo do grupo envolvido.
Essa dinâmica de trocas permite a ampliação da construção de conhecimentos na
escola, assim como de soluções para a comunidade. Um exemplo de trabalho iniciado
dentro dela, que desencadeou uma ação na comunidade, é o de um bairro periférico de
uma cidade brasileira, onde os alunos começaram a levar para suas mães propostas e receitas
de aproveitamento de folhas, talos e cascas habitualmente jogados fora. Houve disseminação
dessa idéia no bairro, para satisfação das famílias com a economia resultante e a melhoria
na qualidade alimentar dos alunos. Assim também, há inúmeras outras experiências, como
hortas comunitárias, viveiros de mudas, escolas de artesanatos e pesca, agricultura orgânica,
que começaram no espaço escolar.
O tema Meio Ambiente pode ser mais amplamente trabalhado, quanto mais se
diversificarem e intensificarem a pesquisa de conhecimentos e a construção do caminho
coletivo de trabalho, se possível, com interações diversas dentro da escola e desta com
outros setores da sociedade.
Superar a fragmentação do saber
nas situações de ensino
Nos terceiro e quarto ciclos, é grande a dificuldade de obter uma visão mais global
da realidade, uma vez que geralmente o conhecimento é apresentado para os alunos de
forma fragmentada pelas disciplinas que compõem a grade curricular. Entretanto, a
formulação do projeto educacional da escola, por meio da discussão, decisão e
encaminhamentos conjuntos, com atribuição de responsabilidades, possibilita superar o
fracionamento do saber: as divergências de interesses, as várias formações profissionais e
as diferentes escalas de valores, por terem que se articular na efetivação de um projeto
pedagógico, podem contribuir para a construção desse espaço coletivo. Além disso, viabiliza-
se o diálogo entre docentes, e a atuação conjunta (professores entre si, professores com
alunos e com a comunidade), em que será possível a construção de atitudes e valores.
Atividades como a realização de excursões, criação de viveiros de muda e hortas
comunitárias, participação em debates etc., possibilitam um trabalho mais integrado, com
maior envolvimento dos alunos, e a participação no espaço social mais amplo, no que se
refere à solução dos problemas ambientais.
Para que os alunos construam a visão da globalidade das questões ambientais é
necessário que cada profissional de ensino, mesmo especialista em determinada área do
conhecimento, seja um dos agentes da interdisciplinaridade que o tema exige. A riqueza
do trabalho será maior se os professores de todas as disciplinas discutirem e, apesar de todo
o tipo de dificuldades, encontrarem elos para desenvolver um trabalho conjunto. Essa
interdisciplinaridade pode ser buscada por meio de uma estruturação institucional da escola,
ou da organização curricular, mas requer, necessariamente, a procura da superação da visão
fragmentada do conhecimento pelos professores especialistas.
A necessidade de transversalização
do tema nas áreas
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais os conteúdos de Meio Ambiente foram
integrados às áreas, numa relação de transversalidade, de modo que impregne toda a prática
educativa e, ao mesmo tempo, crie uma visão global e abrangente da questão ambiental,
visualizando os aspectos físicos e histórico-sociais, assim como as articulações entre a escala
local e planetária desses problemas.
Trabalhar de forma transversal significa buscar a transformação dos conceitos, a
explicitação de valores e a inclusão de procedimentos, sempre vinculados à realidade
cotidiana da sociedade, de modo que obtenha cidadãos mais participantes. Cada professor,
dentro da especificidade de sua área, deve adequar o tratamento dos conteúdos para
contemplar o Tema Meio Ambiente, assim como os demais Temas Transversais. Essa
adequação pressupõe um compromisso com as relações interpessoais no âmbito da escola,
para haver explicitação dos valores que se quer transmitir e coerência entre estes e os
experimentados na vivência escolar, buscando desenvolver a capacidade de todos para
intervir na realidade e transformá-la, tendo essa capacidade relação direta com o acesso ao
conhecimento acumulado pela humanidade.
A organização do território depende da formação social, de fatores de ordem política,
econômica e cultural e, portanto, pode sempre ser transformada a fim de, por exemplo,
buscar a idéia de justiça e de um ambiente saudável. Essa preocupação é central na formação
de cidadãos que procuram a eqüidade na melhoria das condições de vida.
Para isso, a preocupação ambiental inserida nas várias áreas do saber é decisiva. Na
elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais, essas áreas apontaram a relação de seus
conteúdos com o tema Meio Ambiente e algumas destacaram um bloco de conteúdos ou
eixo temático que trata diretamente da relação sociedade/natureza ou vida e ambiente.
Isso retrata a dimensão do trabalho que se deseja com essa questão, diante das necessidades
impostas pela realidade socioambiental.
As áreas de Ciências Naturais, História e Geografia são as tradicionais parceiras para
o desenvolvimento dos conteúdos aqui relacionados, pela própria natureza dos seus objetos
de estudo. Mas as demais áreas ganham importância fundamental, pois, cada uma, dentro
da sua especificidade, pode contribuir para que o aluno tenha uma visão mais integrada do
ambiente: Língua Portuguesa, trabalhando as inúmeras “leituras” possíveis de textos orais
e escritos, explicitando os vínculos culturais, as intencionalidades, as posições valorativas e
as possíveis ideologias sobre meio ambiente embutidas nos textos; Educação Física, que
tanto ajuda na compreensão da expressão e autoconhecimento corporal, da relação do corpo
com ambiente e o desenvolvimento das sensações; Arte, com suas diversas formas de
expressão e diferentes releituras do ambiente, atribuindo-lhe novos significados,
desenvolvendo a sensibilidade por meio da apreciação e possibilitando o repensar dos
vínculos do indivíduo com o espaço; além do pensamento Matemático, que se constitui
numa forma específica de leitura e expressão. São todas fundamentais, não só por se
constituírem em instrumentos básicos para os alunos poderem conduzir o seu processo de
construção do conhecimento sobre meio ambiente, mas também como formas de
manifestação de pensamento e sensações. Elas ajudam os alunos a trabalhar seus vínculos
subjetivos com o ambiente, permitindo-lhes expressá-los.
É interessante, ainda, que se destaque o ambiente como parte do contexto geral das
relações ser humano/ser humano e ser humano/natureza, em todas as áreas de ensino,
na abordagem dos diferentes conteúdos: seja no estudo das variadas formas de orga-
nização social e cultural, com seus mais diversos conflitos, ou no trabalho com as
várias formas de comunicação, expressão e interação, seja no estudo dos fenômenos e
características da natureza ou na discussão das tecnologias que mediam as várias dimensões
da vida atual.
Cada professor pode contribuir decisivamente ao conseguir explicitar os vínculos de
sua área com as questões ambientais, por meio de uma forma própria de compreensão
dessa temática, de exemplos abordados sobre a ótica de seu universo de conhecimentos e
pelo apoio teórico-instrumental de suas técnicas pedagógicas.
Este portal quer reiterar a gratidão e o respeito que sempre dedicam ao serviço público. Respeito expresso no diálogo, na transparência, no incentivo à qualificação e ao profissionalismo. O objetivo deste, e para abrir espaço democrático e transparente à todos os interessados em discutir os Direitos Humanos e atuação dos políticos brasileiros. (waldyr.madruga4@gmail.com)
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