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terça-feira, 3 de agosto de 2010
Crise ambiental ou crise civilizatória?
Para uns, a maior parte dos problemas atuais pode ser resolvida pela comunidade
científica, pois confiam na capacidade de a humanidade produzir novas soluções tecnológicas
e econômicas a cada etapa, em resposta aos problemas que surgem, permanecendo
basicamente no mesmo paradigma civilizatório dos últimos séculos.
Para outros, a questão ambiental representa quase uma síntese dos impasses que o
atual modelo de civilização acarreta, pois consideram o que se assiste no final do século
XX, não só como crise ambiental, mas civilizatória, e que a superação dos problemas exigirá
mudanças profundas na concepção de mundo, de natureza, de poder, de bem-estar, tendo
por base novos valores. Faz parte dessa nova visão de mundo a percepção de que o ser
humano não é o centro da natureza, e deveria se comportar não como seu dono mas,
percebendo-se como parte dela, e resgatar a noção de sua sacralidade, respeitada e celebrada
por diversas culturas tradicionais antigas e contemporâneas.
Porém, a maioria reconhece que a forma clássica para estudar a realidade,
subdividindo-a em aspectos a serem analisados isoladamente por diferentes áreas do
conhecimento, não é suficiente para a compreensão dos fenômenos ambientais.
Algumas das idéias fundamentais para a estruturação do conhecimento a partir da
Idade Moderna desvinculam-no de ideais ético-filosóficos, afirmando e buscando a
objetividade científica. Com isso os seres vivos e os elementos da natureza foram destituídos
de qualquer outro tipo de valor místico que podem ter tido em diversos momentos da
história e em várias culturas. Tal concepção se estruturou dessa forma no contexto de
possibilidades e necessidades criadas no interior de um novo ordenamento da produção
econômica e organização política da sociedade. Assim, acabou contribuindo para legitimar
a manipulação irrestrita da natureza, uma das premissas dessas novas relações de produção:
desvendar os segredos dessa natureza significava também poder construir novas máquinas
para aumentar a produção. Esse novo poder que o saber adquiria advinha do fato de
possibilitar o ritmo de utilização dos objetos e do próprio conhecimento necessários à
moderna organização social do trabalho que então se estruturava. Afinal, formava-se um
extenso mercado consumidor...
Sem os estudos empírico-experimentais, fundamentais para a construção do
conhecimento científico, certamente não seria possível todo o saber que a civilização
ocidental acumulou. No entanto, boa parte do desenvolvimento científico, que se evidencia
nos progressos tecnológicos do século XX, está ligado a essa razão instrumental centrada
na preocupação de desvendar, intervir, operar, servindo de suporte ao crescimento
econômico, transcendendo, inclusive, a intencionalidade do cientista, em sua ação
individual. Portanto, está inserido nas regras do mercado, na lógica desenvolvimentista e
pouco preocupado com aspectos finalistas da vida humana.
Hoje, percebendo os limites e impasses dessa concepção está claro que a
complexidade da natureza e da interação sociedade/natureza exigem um trabalho que
explicite a correlação entre os diversos componentes. Na verdade, até a estrutura e o sentido
de ser desses componentes parecem ser diferentes, quando estudados sob a ótica dessas
interações. É preciso encontrar uma outra forma de adquirir conhecimentos que possibilite
enxergar o objeto de estudo com seus vínculos e também com os contextos físico, biológico,
histórico, social e político, apontando para a superação dos problemas ambientais.
Entretanto, a busca dessa abordagem não tem sido fácil, nem isenta de contradições.
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Mesmo a Ecologia, que em sua origem tinha como objeto de estudo os componentes de
grandes sistemas, tendo em vista a compreensão de sua dinâmica, foi adquirindo significados
variados, nas últimas décadas, para diferentes grupos em diferentes contextos. Para alguns,
trata-se de estudos mais técnico-científicos de “sistemas biológicos” ou de “sistemas
sociais”. Para outros, a concepção de Ecologia inclui a atuação concreta na gestão e
participação efetiva nas soluções dos problemas ambientais, num compromisso com a
manutenção do equilíbrio de diversos ecossistemas e em ações coerentes com essas idéias.
Esta última está mais associada ao movimento ambientalista.
Tantos outros problemas de ordem de concepção, de ideologias, de modos de vida e
de valores, ligados aos impasses concretos e materiais deste nosso final de século se impõem
à humanidade. Salienta-se a necessidade de trabalhar também os aspectos subjetivos das
interações individuais e coletivas. A problemática ambiental exige mudanças de
comportamentos, de discussão e construção de formas de pensar e agir na relação com a
natureza. Isso torna fundamental uma reflexão mais abrangente sobre o processo de
aprendizagem daquilo que se sabe ser importante, mas que não se consegue compreender
suficientemente só com lógica intelectual. Hoje essa necessidade é clara. Vêm daí as
“teorias” das inteligências múltiplas, e tantas outras que, entretanto, acabam não
transcendendo os velhos parâmetros de validação de saberes hegemônicos na civilização
ocidental. Entre os grandes anseios atuais está a busca de uma forma de conhecimento
que inclua energias, afetividade etc., que se traduzem nos “espaços cultos” como procura
de novos paradigmas.
É a necessidade de validar a procura de novas explicações e saídas que faz emergir
novas possibilidades por intermédio de conceitos filosóficos, como o holismo, ou
simplesmente, do apego a idéias religiosas.
Assim, a questão ambiental impõe às sociedades a busca de novas formas de pensar
e agir, individual e coletivamente, de novos caminhos e modelos de produção de bens,
para suprir necessidades humanas, e relações sociais que não perpetuem tantas
desigualdades e exclusão social, e, ao mesmo tempo, que garantam a sustentabilidade
ecológica. Isso implica um novo universo de valores no qual a educação tem um importante
papel a desempenhar.
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