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terça-feira, 3 de agosto de 2010
CONTEÚDOS DE MEIO AMBIENTE PARA TERCEIRO E QUARTO CICLOS
O trabalho pedagógico com a questão ambiental centra-se no desenvolvimento de
atitudes e posturas éticas, e no domínio de procedimentos, mais do que na aprendizagem
estrita de conceitos.
A eleição desses conteúdos pode ajudar o educador a trabalhar de maneira a contribuir
para a atuação mais conseqüente diante da problemática ambiental, por meio da
compreensão e indicação de formas de proceder. É diferente encarar os problemas
ambientais, como o do agrotóxico, apenas como objeto de estudo da ciência ou como uma
questão social cuja solução exige compromisso real. Os conceitos que explicam os vários
aspectos dessa realidade se encontram interligados entre si e com as questões de natureza
valorativa, exigindo, portanto, tratá-los também nesse âmbito.
No entanto, valores e compreensão só não bastam. É preciso que as pessoas saibam
como atuar, como adequar prática e valores, uma vez que o ambiente é também uma
construção humana, sujeito a determinações de ordem não apenas naturais, mas também
sociais.
As diferentes áreas trazem conteúdos fundamentais à compreensão das temáticas
ambientais. O que se propõe aqui é, antes de mais nada, uma abordagem desses conteúdos
que permita atuar na realidade, considerando a forma dela se apresentar: extremamente
complexa.
Não é rara a necessidade de buscar trocas de informações ou mesmo o auxílio direto
de colegas de outras áreas para entender mais satisfatoriamente a questão ambiental.
Quando, numa situação de sala de aula, um aluno remete o debate a um problema concreto
ou a uma situação vivida na realidade, é “natural” que não se tenha a resposta. Quando se
parte diretamente do problema, é necessária essa integração de trabalhos entre as áreas.
Muitas vezes, somente dessa forma é possível enxergar a extensão real que eles têm, o
vínculo com a organização e as questões sociais, ou seja, enxergar as diferentes “facetas” e
implicações dos conhecimentos e dos problemas, possibilitando ações mais conseqüentes.
Essa é outra maneira de tratar a questão ambiental na escola.
A aprendizagem de procedimentos adequados e acessíveis é indispensável para o
desenvolvimento das capacidades ligadas à participação, à co-responsabilidade e à
solidariedade, porque configuram situações reais em que podem ser experimentadas pelos
alunos. Assim, fazem parte dos conteúdos desde formas de manutenção da limpeza do
ambiente escolar (jogar lixo nos cestos, cuidar das plantas da escola, manter o banheiro
limpo), práticas orgânicas na agricultura, formas de evitar o desperdício, até como
elaborar e participar de uma campanha ou saber dispor dos serviços existentes rela-
cionados com as questões ambientais (por exemplo, os órgãos ligados à prefeitura ou as
organizações não-governamentais que desenvolvem trabalhos, exposições oferecem serviços
à população, possuem material e informações de interesse da escola, dos alunos e das
famílias etc.).
Portanto, deve-se possibilitar aos alunos o reconhecimento de fatores que produzam
bem-estar ao conjunto da população; ajudá-lo a desenvolver um espírito de crítica às
induções ao consumismo e o senso de responsabilidade e solidariedade no uso dos bens
comuns e recursos naturais, de modo que respeite o ambiente e as pessoas de sua
comunidade11 .
Critérios de seleção e organização dos conteúdos
Dois fatores tornam difícil a seleção de conteúdos de forma satisfatória: a
complexidade da temática ambiental e a diversidade da realidade brasileira. Entretanto,
além de um elenco de conteúdos, o tema Meio Ambiente propõe que se garanta aos alunos
aprendizagem que lhes possibilite posicionar-se em relação às questões ambientais nas
suas diferentes realidades particulares e atuar na melhoria de sua qualidade.
Assim sendo, a seleção dos conteúdos foi realizada com a preocupação de elencar
questões amplas e também de possibilitar a valorização e a atenção às especificidades
regionais.
Seguindo essas preocupações, foram selecionados os conteúdos que:
• contribuam com a conscientização de que os problemas
ambientais dizem respeito a todos os cidadãos e só podem ser
solucionados mediante uma postura participativa;
• proporcionem possibilidades de sensibilização e motivação para
um envolvimento afetivo;
• possibilitem o desenvolvimento de atitudes e a aprendizagem
de procedimentos e valores fundamentais para o exercício pleno
da cidadania, ressaltando-se a participação no gerenciamento
do ambiente;
• contribuam para uma visão integrada da realidade,
desvendando as interdependências entre a dinâmica ambiental
local e a planetária, desnudando as implicações e causas dos
problemas ambientais;
Essa questão está discutida no documento do Tema Transversal “Trabalho e Consumo”.
• sejam relevantes na problemática ambiental do Brasil;
• sejam compatíveis com os conteúdos trabalhados pelas áreas
nesses ciclos, possibilitando a transversalização;
• sejam condizentes com a expectativa de aprendizagem nesse
nível de escolaridade.
A partir desses critérios, foram eleitos conteúdos suficientemente abrangentes para
possibilitar aos professores trabalhá-los de acordo com a especificidade local, sem perder
de vista as questões globais e a ampliação de conhecimento sobre outras realidades.
A realidade de uma escola em região metropolitana, por exemplo, implica exigências
diferentes daquelas de uma escola da zona rural. Da mesma forma, escolas inseridas em
locais mais saudáveis, sob o ponto de vista ambiental, ou naqueles muito poluídos deverão
priorizar objetivos e conteúdos que permitam abordar esses aspectos. Também a cultura,
a história e os costumes irão determinar diferenças no trabalho com o tema Meio Ambiente
em cada escola.
Os conteúdos foram reunidos em três blocos:
• A natureza “cíclica” da Natureza
• Sociedade e meio ambiente
• Manejo e conservação ambiental
O primeiro bloco apresenta conteúdos que possibilitam ampliar e aprofundar o
conhecimento da dinâmica das interações ocorridas na natureza. Essa fundamentação dá
consistência à argumentação em defesa e proteção daquilo que as pessoas amam e valorizam.
O segundo bloco trata de aspectos mais abrangentes da relação sociedade/natureza,
enfatizando as diferentes formas e conseqüências ambientais da organização dos espaços
pelos seres humanos.
Tendo como base as características integradas da natureza, e de como ela se altera
segundo as diferentes formas de organização socioculturais, este bloco inclui desde a
preocupação do mundo com as questões ecológicas até os direitos e responsabilidades dos
alunos e sua comunidade com relação à qualidade do ambiente em que vivem, e as
possibilidades de atuação individual e coletiva.
O último bloco trata mais especificamente das possibilidades, positivas e negativas,
de interferências dos seres humanos sobre o ambiente, apontando suas conseqüências.
Busca discutir algumas formas adequadas de intervenção humana para equacionar melhor
os seus impactos.
Estes são três aspectos das questões ambientais: os blocos não são estanques, nem
seqüenciais, mas aglutinam conteúdos relativos aos diferentes aspectos que configuram a
problemática ambiental. Eles possibilitam enxergar de maneira mais consistente esses
determinantes dos vários ambientes, como eles se configuraram e como poderiam ser
modificados.
Entre outros fatores, alguns dos que mais mobilizam tanto os adolescentes e jovens
quanto os adultos a respeitar e conservar o meio ambiente são o vínculo afetivo, o desafio
de conhecer as características, as qualidades da natureza; o perceber o quanto ela é
interessante, rica e pródiga, podendo ser ao mesmo tempo muito forte e muito frágil; o
perceber e valorizar, no dia-a-dia, a identificação pessoal com o ambiente local; o saber-se
parte dela, como os demais seres habitantes da Terra, dependendo todos — inclusive sua
descendência — da manutenção de condições que permitam a continuidade do fenômeno
da vida, em toda a sua grandiosidade.
Entre os conteúdos, os procedimentos merecem atenção especial. Os conteúdos
dessa natureza são aprendidos em atividades práticas. São um “como fazer” que se aprende
fazendo, com orientação organizada e sistemática dos professores. A atuação nessas
atividades favorece tanto as construções conceituais quanto o aprendizado da participação
social. Além disso, constituem situações didáticas em que o desenvolvimento de atitudes
pode ser trabalhado por meio da vivência concreta e da reflexão sobre ela.
Dentre esses conteúdos destacam-se:
• alternativas variadas de expressão e divulgação de idéias e
sistematização de informações como realização de: cartazes,
jornais, boletins, revistas, fotos, filmes, dramatização;
• técnicas de pesquisa em fontes variadas de informação
(bibliográficas, cartográficas, memória oral etc.);
• análise crítica das informações veiculadas pelos diferentes
canais de comunicação (TV, jornais, revistas, vídeos, filmes
comerciais etc.);
• identificação das competências, no poder local, para solucionar
os problemas ambientais específicos;
• identificação das instituições públicas e organizações da
sociedade civil em que se obtêm informações sobre a legislação
ambiental (nos níveis municipal, estadual e federal) e
possibilidades de ação com relação ao meio ambiente;
• formas de acesso aos órgãos locais e às instâncias públicas de
participação, tais como Conselhos Estaduais, Conselhos
Municipais, Consórcios Intermunicipais etc., onde são
debatidos e deliberados os encaminhamentos das questões
ambientais;
• acompanhamento das atividades das ONG’s (Organizações
Não-Governamentais) ou de outros tipos de organizações da
sociedade que atuam ativamente no debate e encaminhamento
das questões ambientais.
Blocos de conteúdos
A NATUREZA “CÍCLICA” DA NATUREZA
Dormir e acordar, alimentar-se, ver as árvores florescer e os pássaros se reproduzir
constituem vivências de todo ser humano. A experiência dos ciclos da vida é algo introjetado
em qualquer indivíduo; resta-lhes a tomada de consciência desses ciclos, a reflexão sobre
sua dinâmica de funcionamento.
É importante, por exemplo, que, ao observar a água de um riacho ou a que sai de
uma torneira, os alunos se perguntem de onde ela vem, por onde passou e onde chegará e
reflitam sobre as conseqüências desse fluxo a curto e longo prazos, na sua vida e na natureza,
e, acima de tudo, saibam que a qualidade dessa água está diretamente relacionada com as
ações do ser humano.
O desenvolvimento de atitudes pessoais e de processos coletivos coerentes com a
perspectiva de sustentabilidade ecológica requer, além de outras coisas, essa compreensão.
Não se trata, pois, de uma compreensão qualquer, mas de uma forma de construção
de conhecimento que não dissocia os conteúdos conceituais das ações cotidianas.
O mesmo potencial criativo dos seres humanos que possibilitou o atual padrão de
alteração ambiental permite a ele construir novas relações com a natureza, recompô-la
onde for necessário, desfazer onde for preciso e, ainda, mudar radicalmente as relações de
produção que engendraram a situação ambiental atual.
Para isso acontecer, é de fundamental importância que todos os cidadãos conheçam
e valorizem a dinâmica da natureza. A própria idéia de ciclo, apesar de didaticamente
consagrada, não é suficiente para explicar a dinâmica da natureza, pois nela nunca se volta
exatamente ao ponto de partida. Há, ainda, uma série de transformações e eventos, como
o movimento das placas tectônicas, que estão longe de apresentar comportamento cíclico,
cujas regras ainda fogem da estrutura das explicações de outros fenômenos, e para os quais
não há possibilidade de antever regularidade ou previsibilidade.
A finalidade dos conteúdos deste bloco, portanto, é permitir ao aluno compreender
que os processos na natureza não são estanques, nem no tempo nem no espaço. Pelo
contrário, há sempre vários fluxos de transformações, com a reincorporação de materiais a
novos seres vivos, com a modificação de energias nas suas diferentes formas, enfim, com
interações que engendram mudanças no mundo que, a partir de praticamente os mesmos
materiais, tanto se transformou nesses 3,5 bilhões de anos de vida na Terra.
A construção da concepção dessa dinâmica, de atitudes e valores a ela associados,
implica a aprendizagem de alguns conteúdos, tais como os elencados a seguir.
• Compreensão da vida, nas escalas geológicas de tempo e
de espaço.
As relações entre os seres vivos estão intimamente ligadas às condições de relevo, de
solo, de clima e de interferência do ser humano que se transformaram ao longo do tempo.
As atuais formas de vida no planeta foram criadas por meio de um processo de evolução
natural articulada, a partir de um determinado período geológico, à história da humanidade.
As escalas mais amplas de tempo e de espaço, de mais difícil compreensão, referem-
se a interações que vão além das envolvidas no suprimento imediato da sobrevivência,
nível mais corriqueiro de preocupação, bem como da própria história da humanidade. Pensar
numa escala de milhões de anos, numa perspectiva de compreensão que engloba todo o
planeta, não é tarefa simples, principalmente para os alunos do início do terceiro ciclo.
Porém, é importante que se trabalhe, desde então, algumas aproximações com essas escalas.
Isso vai permitindo aos alunos a construção de noções mais amplas das dimensões dos
problemas ambientais.
O aparecimento dos seres vivos e a diversidade atual dos ecossistemas terrestres são
resultado de bilhões de anos de interações. Alguns deles, como as vegetações ralas de
arbustos e gramíneas, demoraram milhares de anos para se estabelecer em regiões onde,
inicialmente, havia somente rochas de lava vulcânica. Com relação às florestas tropicais, o
processo foi mais lento ainda.
Em Ciências Naturais, este é o campo fértil para o desenvolvimento da idéia de
evolução dos seres vivos, apontando para a lentidão do processo e o tempo que foi necessário
para a constituição da natureza como a conhecemos hoje.
Só foi possível a presença dos tipos de vida hoje, nas diferentes localidades da Terra,
pela existência do processo complexo de alterações das comunidades biológicas e das
condições físicas, que se configuraram em transformação e substituição de comunidades
bióticas, num mesmo espaço, processo denominado sucessão ecológica (outro conceito
importante da área de ciências).
A ampliação da escala espacial permite compreender melhor processos importantes
para a dinâmica ambiental, como a distribuição das espécies no planeta. Aqui, a área de
Geografia pode contribuir de forma decisiva, apontando as relações entre os elementos
físicos do ambiente e sua influência na distribuição espacial dos seres vivos.
As interações do ser humano com a natureza, vistas nessas dimensões, mostram-se
diferentes de quando observadas somente das escalas temporal e espacial dos próprios
seres humanos.
O trabalho com essa escala temporal na área de História é possível quando se debatem
as questões pertinentes às explicações sobre a origem do mundo e do ser humano, as várias
organizações socioculturais criadas pelos seres humanos e sua relação com os ciclos naturais.
• Compreensão da gravidade da extinção de espécies e da
alteração irreversível de ecossistemas.
Quando analisada da perspectiva da sucessão ecológica, a ação humana no ambiente
pode ser reavaliada, com critérios embasados em outros referenciais de tempo. Nossa
espécie, relativamente recente na Terra, consegue em tão curto espaço de existência
provocar alterações para as quais a reconstituição natural pode demorar tanto, que ela própria
corre o risco de ser extinta.
O que possibilita a sobrevivência ou não de um conjunto de populações são as
diferentes formas de interação entre os seres vivos.
Para entender melhor as possíveis conseqüências ecológicas de ações como a utilização
de determinados inseticidas, ou praguicidas, ou técnicas pesqueiras de grande porte que
eliminam grande número de peixes ou até espécies, alterando drasticamente o ecossistema,
é importante compreender em que condições biológicas a vida ocorre. Em qualquer
ecossistema a sobrevivência depende do equilíbrio entre os diferentes grupos que nele
convivem, assim como das alterações físicas produzidas por esses grupos nesse espaço. É
esse conjunto de interações que vai possibilitar a preservação ou a extinção de determinada
espécie, ou, ainda, que essa bagagem genética seja transmitida ou não.
• Análise de alterações nos fluxos naturais em situações
concretas.
É possível melhorar a percepção do nível das intervenções, quando se verifica que o
ritmo natural dos fluxos no ambiente foi mudado, em função de necessidades humanas. A
intensa utilização de matéria-prima, de fontes de energia, enfim, dos vários recursos naturais
muitas vezes implica o seu esgotamento, comprometendo toda a dinâmica natural,
impedindo inclusive a manutenção dos diversos ciclos.
A contextualização dessas situações concretas, que envolvem diferentes fatores, como
clima, solo, relevo e as próprias formas de alteração causadas pelo ser humano, em meio a
conflitos de interesses, num período definido da história, é essencial para a formação da
consciência crítica que permite aos alunos se posicionarem favoravelmente à
sustentabilidade ecológica.
A observação de elementos que evidenciem ciclos e fluxos na natureza, situados no
espaço e no tempo, é importante porque eles são diferentes numa área mais conservada,
onde há maior umidade e maior atividade fotossintética, pela maior presença de vegetais,
do que numa área urbana, onde, normalmente, a condição de cobertura vegetal, o
microclima, as demais condições físicas e as atividades humanas são outras.
Além disso, o comportamento de certos fenômenos da natureza está condicionado
por múltiplas variáveis, o que dificulta o conhecimento acerca do funcionamento dos
diversos ambientes. Dois locais diferentes, por exemplo, com mesmo tipo de solo e com
mesmo clima, podem apresentar cobertura vegetal distinta, e as explicações que servem
para um não servem para o outro.
Compreendê-los implica a aprendizagem de conteúdos de várias áreas, abordados
sob diferentes prismas. A aprendizagem, por exemplo, das relações alimentares, seja em
Ciências Naturais, em História, em Geografia ou outras áreas, deve incluir os vínculos
entre elas e os fluxos da água, do oxigênio e do carbono, a geração do lixo, o uso de insumos
agrícolas artificiais, o aproveitamento, o desperdício, o tratamento e a distribuição da água
Dentre as movimentações das substâncias na natureza, uma das mais importantes
do ponto de vista ambiental é a da água.
O conhecimento de formas de aproveitamento e utilização da água pelos diferentes
grupos humanos; a compreensão da interferência dos fatores físicos e socioeconômicos nas
relações entre ecossistemas, a construção da noção de bacia hidrográfica e a identificação
de como se situa a escola, o bairro e a região com relação ao sistema de drenagem, condições
de relevo e áreas verdes, o conhecimento das condições de vida nos oceanos e sua relação
com a qualidade da água dos rios permitem aos alunos o entendimento da complexidade
da questão da água e sua historicidade, a necessidade desse recurso para a vida em geral e
os processo vitais mais importantes dos quais ela faz parte.
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