G1 - 05/11/2015
Não há previsão de acordo entre grevistas e governo. Quase 1 milhão de perícias já foram canceladas e exames são remarcados para 2016.
A greve dos médicos peritos do INSS completou dois meses e não há previsão de acordo com o governo.
Nas contas dos grevistas, quase 1 milhão de perícias já foram canceladas e agora os exames estão sendo remarcados só para o ano que vem. Isso se a greve acabar.
Janailto descobriu há dois meses que estava com câncer. Foi operado e recebeu do INSS o benefício nos primeiros 15 dias. E depois, nada mais. Por causa da greve, ele não conseguiu fazer a perícia. “Eu sem dinheiro, fiz um esforço, peguei dinheiro emprestado, quando eu chego na hora, o segurança falou para mim, o pessoal que tiver agendado para perícia, não tem perito”, afirma o pizzaiolo Janailto Cosmo Barbosa.
A greve dos peritos do INSS já dura dois meses. E pelo menos, 70% dos atendimentos não foram realizados nesse período, então, quem precisa voltar a trabalhar, se aposentar ou receber auxilio- doença poderá ter que aguardar até o ano que vem.
Foi o que aconteceu com Janailto. A perícia, em uma agência do INSS no Rio de Janeiro, foi remarcada para janeiro de 2016. Enquanto isso, ele vive de pequenos empréstimos de amigos e parentes. “Eu tenho uma criança de três anos e só a minha renda lá em casa, a minha esposa também está desempregada e por enquanto eu estou pegando vale com a patroa, enquanto ela tiver me dando, quando ela parar de me dar, o que eu vou fazer? Eu não sei”, afirma.
O INSS calcula que o tempo médio de espera para agendar uma perícia passou de 20 dias, antes da greve, para 49 dias. A principal reivindicação dos médicos peritos grevistas é a redução da jornada de trabalho, de 40 para 30 horas por semana, e ainda um reajuste de 27,5% nos salários.
“O governo não ofereceu nada. O que nós estamos fazendo é cumprindo os 30% de atendimento, de perícia, mas mesmo assim o número de perícias que os peritos estão fazendo é baixo por problemas administrativos também”, defende Alexandre da Silva Bellizzi, da Associação Nacional dos Médicos Peritos.
O ministério do Planejamento informou que está empenhado em encontrar uma solução. E que os pedidos dos grevistas estão sendo analisados pelo governo. O INSS tem cerca de 4 mil médicos peritos. O salário inicial é de R$ 11 mil e chega a R$ 16 mil no final da carreira.
O instituto informou que suspendeu o desconto no pagamento dos dias parados depois que o Superior Tribunal de Justiça concedeu liminar aos grevistas proibindo o corte do ponto. Em São Paulo, perícias também estão sendo reagendas para janeiro.
“Então, quer dizer, esses três meses, quem paga as minhas contas? Como é que eu faço? É difícil”, reclama Marcelo Pantaleão dos Santos, instalador de sistema de segurança.
A bancária Suzana Martins da Rocha passou por uma cirurgia na mão, em agosto, e depende do exame para voltar ao trabalho. Mas o final da greve dos peritos ainda é uma questão em aberto. “Eu acho uma falta de respeito com a população, é muito desconfortante saber que você contribui a vida inteira anos e anos e quando você precisa, eles não estão lá para nos atender”, afirma.
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