Malária, adversário inesperado na Primeira Guerra Mundial
Dezembro/2014
André Felipe Cândido da Silva *
O último número do Malaria Journaltraz artigo do pesquisador da Escola de Medicina Tropical de Liverpool e da Universidade de Amsterdam Bernard Brabin sobre o impacto da malária nas tropas da Entente e do Eixo durante a Primeira Guerra Mundial. Brabin reúne as estatísticas disponíveis em diversas fontes sobre a extensão e fatalidade da doença entre os combatentes.
No artigo, intitulado “Malaria’s contribution to World War One – the unexpected adversary”, o autor explica que circunstâncias relacionadas ao conflito favoreceram a disseminação da malária. Elas estiveram relacionadas principalmente à movimentação de contingentes de populações não-imunes por regiões malarígenas e ao surgimento de condições propícias à reprodução dos insetos vetores. Medidas profiláticas como trabalhos de hidrografia sanitária, uso de mosquiteiros, administração de quinina e de controle das anofelinas – os agentes transmissores – nem sempre foram suficientes para deter as epidemias da doença.
Brabin apresenta tabelas detalhadas com dados sobre o número de casos de malária, o porcentual de mortes e o tipo de malária envolvido (se causada por parasitas da espécie vivax, mais branda ou falciparum, mais severa) nas diferentes tropas. Elenca ainda as diversas medidas profiláticas e terapêuticas, adotadas antes e depois da Primeira Guerra no controle da malária. Regiões como a Macedônia, Palestina, Mesopotâmia (correspondente aos atuais territórios do Irã e Iraque), Grécia e Itália foram afetadas por epidemias. Brabin chama atenção para o acervo de conhecimentos disponíveis sobre a doença, mas enfatiza, sobretudo, as controvérsias entre os especialistas e os impasses que ela impôs às lideranças militares, desafiadas que foram por aquele “adversário inesperado”.
O trabalho de Brabin vem se somar a literatura cada vez mais densa sobre as doenças e os serviços de saúde durante a Primeira Guerra, um aspecto importante para o estudo deste conflito que completou cem anos neste 2014 que já está findando. Baixe o artigo em PDF
* André Felipe Cândido da Silva é doutor pela Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz e faz pós-doutorado em História na USP
Leia em HCS-Manguinhos:
Dossiê Malária (abr.-jun. 2011)
Malaria epidemics in Europe after the First World War: the early stages of an international approach to the control of the disease, Gachelin, Gabriel and Opinel, Annick (jun 2011, vol.18, no.2)
Ferrovias, doenças e medicina tropical no Brasil da Primeira República, Benchimol, Jaime Larry and Silva, André Felipe Cândido da (set 2008, vol.15, no.3)
Malária como doença e perspectiva cultural nas viagens de Carlos Chagas e Mário de Andrade à Amazônia, Lima, Nísia Trindade and Botelho, André (set 2013, vol.20, no.3, p.745-763.
As representações da malária na obra de João Guimarães Rosa, Lacerda-Queiroz, Norinne, Queiroz Sobrinho, Antônio and Teixeira, Antônio Lúcio (jun 2012, vol.19, no.2).
Um método chamado Pinotti: sal medicamentoso, malária e saúde internacional (1952-1960), Silva, Renato da and Hochman, Gilberto (jun 2011, vol.18, no.2)
Leia também:
Malaria and quinine resistance: a medical scientific issue between Brazil and Germany (1907–1919), Da Silva AFC, Benchimol JL: . Med Hist 2014, 58:1–26.
E no blog de HCS-Manguinhos:
Malária, maleita, doença e desejoNisia Trindade Lima e André Botelho discutem as visões do médico Carlos Chagas e do poeta Mario de Andrade sobre a moléstia.
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