Governo corta ponto de grevistas e irrita sindicalistas
Kelly
Matos
Folha
de S. Paulo 24/07/2012
BRASÍLIA
- O governo cumpriu a promessa e cortou o ponto de servidores federais que estão
em greve. De acordo com sindicalistas, o contracheque deste mês tem 12 dias de
ponto cortados -- de 18 a 30 de junho.
Diante
do corte, representantes de sindicatos apelaram nesta terça-feira (24) ao
ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho,
para que o governo reconsidere essa decisão.
"Foi
tensa a reunião, muito tensa. No início, quando o ministro falou que ele já teve
ponto cortado, já foi demitido, nós falamos que isso faz parte do passado,
antigamente as pessoas eram escravizadas e nem por isso é aceito isso hoje",
afirmou o secretário geral do Sindisep-DF (Sindicato dos Servidores Públicos
Federais), Oton Neves.
De
acordo com o Oton, diante do apelo, o governo teria feito a seguinte proposta:
"Primeiro: que a gente faça uma trégua de 15 dias para poder devolver o salário
que foi confiscado dos contracheques. Segundo: nesse período de 15 dias, o
governo apresentará uma proposta às nossas reivindicações",
explicou.
A
Secretaria-Geral, no entanto, nega que o Planalto tenha feito uma "proposta
formal de trégua". Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria, o governo
disse que o corte de ponto poderá, eventualmente, ser negociado com o Ministério
do Planejamento. Diante disso, o ministro Gilberto Carvalho sinalizou com a
ideia de uma suspensão da greve até que o governo apresente uma proposta
salarial em meados de agosto.
"O
governo tem esse entendimento: que é direito e dever do governo cortar o ponto.
Mas sabemos que o 'não desconto' pode ser objeto de negociação, como ocorre em
qualquer processo de greve", explicou a assessoria do ministro Gilberto
Carvalho.
A
reunião contou com a presença de representantes de quatro entidades sindicais:
Sindisep-DF, Sindiprev-DF, Fenasps e a CUT. O secretário geral do SINDSEP-DF,
Oton Neves, descartou a possibilidade de aceitar a sugestão do governo pela
'trégua', mas disse que vai levar a proposta aos sindicalistas. "[Aceitar] essa
trégua seria a gente fazer uma greve simplesmente pra não ter desconto do
salário. A greve é pra gente aumentar o nosso salário, ter mais concurso
público, não é para simplesmente garantir salários. A gente não faz greve pra
isso", disse.
Uma
nova reunião entre grevistas e governo será realizada até quinta-feira, segundo
Oton. O encontro desta vez será com o secretário de Relações do Trabalho do
Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça.
O
secretário do Sindisep-DF, Oton Neves, voltou a criticar a falta de uma proposta
do governo para os servidores em greve. "O governo já concedeu isenções fiscais
aí para os empresários, com valores que dariam para atender todas as
reivindicações, e o governo fala que é pra assegurar o emprego e aí está
havendo, a cada dia, demissões no ABC, em tudo quanto é lugar. Então, na
verdade, está enchendo o bolso dos empresários e em detrimento, inclusive, da
garantia de emprego e principalmente da falta de recursos para o serviço
público", disse.
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