Deco Bancillon
Correio Braziliense - 16/06/2013
A tendência de remuneração maior para os funcionários
públicos inverte-se no caso dos profissionais com ensino superior: escassos no
Brasil, eles são mais valorizados no setor privado
Se, em geral, os salários pagos ao trabalhador do setor
público são maiores que os do privado, isso não acontece quando se observam
apenas os profissionais que têm curso superior. Como há, proporcionalmente,
menos mão de obra qualificada na iniciativa privada, os mais preparados obtêm
melhores rendimentos do que aqueles que só possuem ensino médio.
Conforme revela um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a remuneração média dos graduados na administração pública — incluindo governo federal, estados e prefeituras — era, em 2011, o dado mais recente disponível, de R$ 3.810,08. No mesmo período, os empregados com curso superior no setor privado ganhavam 25% a mais: R$ 4.763,65.
Conforme revela um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a remuneração média dos graduados na administração pública — incluindo governo federal, estados e prefeituras — era, em 2011, o dado mais recente disponível, de R$ 3.810,08. No mesmo período, os empregados com curso superior no setor privado ganhavam 25% a mais: R$ 4.763,65.
O mesmo estudo indica, no entanto, que essa diferença vem
diminuindo. Em três anos, enquanto o salário real dos empregados do setor
privado encolheu 0,5%, por conta da inflação, os rendimentos dos servidores
ampliaram-se em1,5%. Isso se deveu basicamente aos polpudos reajustes obtidos
pelas mais diversas categorias do funcionalismo nos últimos
anos.
A despesa com a folha do Estado engordou. Conforme revelou
o Correio em 31 de maio, nos últimos 15 anos, o gasto apenas com funcionários
federais (incluindo civis, militares, aposentados e pensionistas) mais que
quadruplicou. Saltou de R$ 44,5 bilhões, em 1997, para R$ 185,3 bilhões, em
2012. Como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), isso equivale a 4,3% de
todas as riquezas produzidas no país naquele ano. Um outro estudo mostra que as
despesas com a folha total do chamado setor público consolidado (estados,
municípios e empresas estatais) representaram, em 2011, mais de 12% do
PIB.
O Ministério do Planejamento esclarece que a elevação do
gasto com a folha de pessoal acompanhou o desempenho da economia, que também
cresceu nos últimos anos. Pondera ainda que "a recomposição e a valorização da
força de trabalho, com a retomada dos concursos públicos, a partir de 2003,
foram motivadas pela necessidade de substituição de terceirizados irregulares,
recuperação salarial e melhora dos benefícios aos servidores e restruturação e
criação de carreiras mais adequadas ao momento atual do Estado
brasileiro".
No estudo Diferencial de salários entre os setores público
e privado no Brasil, os economistas Fernando de Holanda Filho, Ana Luiza Neves e
João Ricardo Lima ponderam que altas remunerações no setor público e o impacto
desses gastos nas contas públicas não são uma exclusividade do Brasil. "O setor
público, na maior parte dos países, oferece uma grande variedade de benefícios
para seus empregados", diz um trecho do texto, de 32 páginas.
Os economistas, no entanto, chamam a atenção para o fato de
que, no Brasil, até mais importante que os altos salários, a segurança de não
perder o emprego é, talvez, o maior prêmio oferecido pelo Estado. "Uma
característica bastante conhecida do setor público brasileiro é a de que seus
empregados usufruem tanto da estabilidade no emprego quanto de aposentadoria
integral", ponderam.
"A dúvida que fica", reflete o economista Mansueto Almeida,
pesquisador do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), "é saber se
esse gasto todo está gerando ou não um ganho de produtividade na administração
pública do país".
Não há estudos claros que indiquem a qualidade dos serviços
prestados pelo setor público brasileiro. Uma tentativa de mensurar esse
desempenho foi feita pelo próprio Ipea, em 2009. Em um trabalho de oito páginas,
do então presidente do instituto, o economista Marcio Pochmann, o órgão avaliava
que a produtividade da administração pública havia avançado 14,7% entre 1995 e
2006, sendo "levemente superior ao crescimento acumulado no setor privado no
mesmo período de tempo (13,5%)".
Quatro anos após a publicação, o documento ainda gerava
críticas no meio acadêmico, por conter, segundo pesquisadores, erros. "O maior
problema desse estudo é que avaliaram produtividade como gasto público. Ou seja,
quanto mais o Estado gasta, mais produtivo ele é. É uma ótica deturpada, para
dizer o mínimo", aponta o economista Fernando de Holanda. Marcio Pochmann não
respondeu aos pedidos de entrevista do Correio. O Ipea afirmou que não
comentaria o estudo.
Gerenciamento adiado
Mesmo dentro do governo, o assunto "desempenho" é um tabu.
"As políticas de metas, que eram praticamente uma obsessão durante o regime
militar, foram abandonadas pelos governos recentes. Falta gestão e, sobretudo,
rigor para tocar projetos e, principalmente, obras públicas, que estão paradas",
critica o economista Mansueto Almeida, pesquisador do Ipea. Ele lembra que um
dos principais mecanismos de controle desses projetos de que o governo dispunha,
o Sistema de Informações Gerenciais e de Planejamento (SIGPlan) foi abandonado
em 2012. "Falaram que ia ter um novo sistema, mas ninguém sabe qual é", afirma.
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