José Wilson Granjeiro
Congresso em Foco - 16/06/2013
“Tudo leva a crer que o tempo em atividade desses jovens
servidores será mais produtivo do que o de muitos dos antigos”
“Eu não tenho uma razão extraordinária para passar em
concurso público, mas tenho uma razão suficientemente boa: quero servir ao meu
país, ao meu povo, com estabilidade financeira”
Nos últimos dias, me chamou a atenção a polêmica sobre o
ingresso supostamente prematuro dos jovens no serviço público. Esses rapazes e
moças estariam assumindo postos no governo sem a necessária experiência na
atividade escolhida, logo depois de concluírem o curso superior. O “problema”
foi tema de matéria do jornal Correio Braziliense, intitulada “Direto da escola
para o governo”. A reportagem anuncia: “Em uma década, a idade média dos
servidores diminui dez anos” e “Especialistas alertam para risco de serviços
ruins e de escassez de mão de obra em áreas estratégicas”.
O jornal ainda informa que, na “última década, o perfil dos
servidores públicos mudou, sobretudo porque houve uma considerável procura por
profissionais com menos de 30 anos no setor”. O que me causou espanto, desde
logo, é que, ao lado do texto da reportagem, há em destaque um dado que
contradiz todas as informações que constam da matéria. O dado é o
seguinte:
Idade média dos servidores
2003………………………………..46 anos
2013…………………………………56 anos
Creio que a incoerência flagrada na reportagem seja um
daqueles “lamentáveis equívocos” que a imprensa comete de vez em quando. Ora, se
o jornal afirma que, “em uma década, a idade média de servidores diminuiu dez
anos”, como ela passou de 46 anos, em 2003, para 56 anos, em 2013? O certo não
seria o contrário? Deixo a pergunta para o autor da matéria responder. De
qualquer modo, acho que temos elementos suficientes para debater o assunto, com
argumentos tanto a favor como contra a tese defendida pelo periódico. E isso,
posso garantir, não significa ficar em cima do muro.
Para começar, também disponho de alguns dados sobre a
evolução do preenchimento de postos no serviço público, e eles não batem com os
do jornal. Segundo meus registros, na última década, 40% das pessoas que
ingressaram no serviço público tinham entre 18 e 30 anos, 40% entre 30 e 50
anos, 20% entre 30 e 50 anos. Portanto, há equilíbrio entre as faixas etárias, e
não disparidade como afirma o jornal.
Vale ressaltar que o fenômeno apontado na reportagem é
bastante conhecido de quem trabalha, como eu, há mais de duas décadas na
preparação de candidatos para concursos públicos. A origem dele está na
Constituição de 1988, que veio consolidar o processo de redemocratização do
país, após 21 anos de severo regime militar. Ao instituir o concurso de provas
ou de provas e títulos como regra para o preenchimento dos cargos e empregos
públicos em todos os Poderes da República, a Constituição Cidadã abriu as portas
do serviço público aos jovens prestes a ingressar num curso superior ou
recém-egressos dele.
Além disso, a afirmação de “especialistas” de que a
excessiva juventude dos novos servidores é prejudicial à qualidade do serviço
público não corresponde à realidade. Ao contrário, o que se observa é um
funcionalismo cada vez mais bem-preparado para exercer as suas funções. Basta
lembrar que esses jovens servidores, quando optaram pelo concurso público, se
submeteram a estudos intensivos e específicos para a carreira que escolheram.
Toda essa preparação garante que os concursados já ingressem nos quadros
públicos com uma base teórica que eles levariam muito tempo para adquirir se não
tivessem passado pelos bancos dos cursinhos.
Por um lado, reconheço que seria desejável, em algumas
áreas que exigem maior embasamento cultural e experiência profissional, que se
definisse idade mínima para o ingresso na carreira. É o caso da Magistratura, do
Ministério Público e até mesmo da carreira de delegado de polícia, seja federal,
seja estadual. Essas funções, dada a responsabilidade e a gravidade das decisões
que seus titulares devem tomar, certamente exigem um tipo de amadurecimento que
só vem com o tempo. Nesses casos, concordo com quem defende a idade mínima de 35
anos para ingresso na carreira, compatível com o cargo a ser
ocupado.
Por outro lado, não vejo como um sério problema para o
serviço público, de modo geral, o fato de pessoas cada vez mais jovens
ingressarem nas carreiras do setor. Pelo contrário, considero essa renovação
salutar. Mais uma vez graças ao texto da Constituição de 1988, a substituição de
servidores aposentados, falecidos ou que deixaram o cargo por outros motivos é
feita com vantagem para a administração. Afinal, os jovens que vêm ocupar essas
vagas terão tempo para estudar e participar de inúmeros cursos de
aperfeiçoamento. Tudo leva a crer que o tempo em atividade desses jovens
servidores será mais produtivo do que o de muitos dos antigos.
É preciso, ainda, considerar que não se pode impedir
alguém, sobretudo um jovem que deseje progredir na vida, de ascender a um cargo
público, que lhe proporcionará uma carreira segura, estável e, na maioria das
vezes, bem-remunerada. Isso sem contar as oportunidades de ascensão
profissional, melhores do que as encontradas na iniciativa privada. Em média, a
carreira pública paga 2,5 vezes o que paga a carreira privada e não faz
discriminação de gênero ou de idade nem exige – em regra – experiência ou boa
aparência. Por tudo isso, acho razoável a opção que os jovens vêm fazendo pelos
concursos públicos, um mercado que hoje, em todo o país, movimenta milhões de
pessoas que se preparam para concorrer às vagas nas diversas áreas das carreiras
estatais. São talentos que querem servir ao seu país e ao seu
povo.
Realmente acredito que a opção pelo serviço público é uma
das melhores decisões que um rapaz ou uma moça podem tomar, diante do que talvez
seja a garantia de um futuro melhor para si e a família. Não é uma decisão
fácil: “O tempo de dificuldade e angústia que está à nossa frente exigirá uma fé
que possa suportar o cansaço, a demora, as reprovações, a falta de recursos
financeiros, o desânimo e a vontade de desistir. Uma fé que não desanime, ainda
que severamente testada, deverei preservar. A vitória – a aprovação e a desejada
classificação – virá, porque eu mereço e fiz o melhor de mim.” Estudar para
concurso público é, sem dúvida, uma opção de vida, um escolha que será
recompensa quando chegar a hora de ocupar o seu feliz cargo novo.
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