BSPF - 21/05/2017
Estatal atribui ao convênio médico parte significativa dos prejuízos acumulados nos últimos dois anos. Da perda total de R$ 4,1 bilhões, R$ 3,4 bilhões, quase 83%, se referem a desembolsos para cobrir os gastos da operadora Postal Saúde
A Postal Saúde, operadora do plano de assistência médica dos empregados dos Correios, está no meio de uma polêmica. De um lado, a estatal atribui ao plano de saúde parte significativa dos prejuízos acumulados nos últimos dois anos. Afirma que, do resultado negativo de R$ 2,1 bilhões de 2015, R$ 1,6 bilhão equivale a despesas com o convênio médico. Além disso, a empresa pública argumenta que, do rombo estimado em R$ 2 bilhões de 2016, R$ 1,8 bilhão se refere a desembolsos para cobrir gastos da operadora. Do outro, os beneficiários reclamam que os problemas são fruto de uma política equivocada de gestão de pessoas e de mudanças na contabilidade da companhia.
Em meio ao fogo cruzado, a atual administração da Postal Saúde, há 10 meses no comando da operadora, tenta reduzir as despesas assistenciais, que, nos últimos 12 meses, chegaram a R$ 1,6 bilhão. O presidente do plano de saúde, Ariovaldo da Câmara, explicou que R$ 116 milhões já foram economizados, nos últimos seis meses, com renegociações de contratos e com a criação de um comitê de sinistralidade para acompanhar pacientes crônicos, de alto custo e hospitalizados. Uma câmara técnica foi criada para discutir com médicos quais órteses, próteses e materiais especiais devem ser comprados.
Mesmo com todos os esforços, reduzir as despesas da operadora é uma tarefa difícil, já que, dos 400 mil beneficiários, 91 mil têm mais de 60 anos e demandam atendimentos médicos periodicamente. A carteira envelhecida é fruto de um acordo coletivo firmado entre os Correios e os trabalhadores. Em troca de não aumentar o salário dos empregados, a estatal garantiu que pais e mães dos beneficiários pudessem ser dependentes no plano de saúde se tivessem renda de até 1,2 salário mínimo. Atualmente, 55.540 pessoas estão nessas condições.
Outra benesse que onera a operadora é o fato de que os empregados não pagam mensalidades, somente uma coparticipação, que se limita a 20% da remuneração em caso de uso do plano de saúde. Com isso, 93% das despesas da Postal Saúde são pagas pelos Correios e apenas 7% são custeadas pelos beneficiários. Operadoras com o mesmo perfil, explicou Câmara, têm um financiamento distinto. Segundo ele, a Geap, dos servidores públicos federais, tem 21% das despesas custeadas pelo governo e 79% por mensalidades e coparticipações. A Cassi, dos empregados do Banco do Brasil, tem 44% dos gastos cobertos pela instituição financeira e 56%, pelos beneficiários.
A generosidade da Postal Saúde não para por aí. Os empregados dos Correios têm direito a plano odontológico e a 200 procedimentos além dos determinados pela Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS). Nos últimos 12 meses, 1% dos beneficiários, o equivalente a 4 mil pessoas, foi responsável por 38% do gasto total da operadora, que chegou a R$ 637,2 milhões. Câmara disse que, em outros planos, a proporção chega a 33% das despesas.
Paliativo
Os Correios enviaram aos empregados a proposta de manter o pagamento integral da assistência médica dos empregados. Entretanto, exigem que os demais beneficiários paguem uma mensalidade e coparticipações. E, havendo lucro líquido, 20% seria revertido para custear parte das mensalidades. A proposta foi recusada pelos trabalhadores, que entraram em greve. A paralisação foi encerrada após ficar acertado que o Tribunal Superior do Trabalho (TST) fará a mediação do debate sobre o custeio do plano de saúde.
Enquanto nada é decidido, o presidente da Postal Saúde tem adotado medidas para tentar reduzir custos. O número de empregados foi reduzido em quase 10% e passou de 566 para 512. Seis gerências foram extintas, funções gratificadas, reduzidas, e os salários dos gerentes diminuíram para valores semelhantes aos de empregados dos Correios. Das 28 unidades regionais, 16 foram transferidas para prédios dos Correios, pagando um aluguel que corresponde a 10% do valor de mercado. Outras seis devem ser transferidas até outubro.
Unidades que permanecem alugadas tiveram contratos reajustados. A sede da operadora, em Brasília, teve o aluguel reduzido à metade, de R$ 160 mil, para R$ 80 mil. Um novo estatuto, um código de ética e uma política de consequências foram criados e estão em análise. Além disso, foram implementados sistemas de licitação com pregão eletrônico para contratação de prestadores de serviços, de auditoria interna e de sindicâncias.
A operadora ainda implementou um serviço de vídeochamadas para os beneficiários fazerem aconselhamento remoto. Esse tipo de atendimento tem potencial para reduzir em 30% a ida aos hospitais. Centros foram instalados em unidades dos Correios para fazer trabalho preventivo com empregados que fazem esforço repetitivo. “Vamos continuar melhorando nossos controles”, acrescentou Câmara.
Fonte: Correio Braziliense (Antonio Elias)
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