Ana D’ Angelo
Correio Braziliense - 14/12/2012
O novo plano de carreira da Casa prevê reajustes salariais
que podem chegar a 56,3% até 2015. A proposta ainda garante a incorporação de
gratificações à aposentadoria dos funcionários.
Além de proporcionar aumentos de 33% a 56,3% entre 2013 e
2015, novo plano de carreira dos servidores da Câmara dos Deputados incorpora à
aposentadoria gratificação temporária
Não bastassem os reajustes generosos, que vão de 33% a
56,3% a serem concedidos entre 2013 e 2015, o novo plano de carreira dos
servidores da Câmara, aprovado na noite de quarta-feira, embute mais duas
benesses em meio a diversos artigos redigidos de forma técnica. Além de
aumentar o valor da Gratificação de Atividade Legislativa (GAL), o artigo 7º
incorpora aos salários, como vantagem pessoal de cada servidor, a diferença
entre o valor da GAL nova e a antiga. É um acréscimo que vai de R$ 960 a R$ 1,5
mil, conforme o cargo.
O mesmo dispositivo assegura a incorporação aos salários da
parcela adicional relativa à GAL que integra o valor da gratificação pelo
exercício de função comissionada dos chefes que estão nesses cargos há pelo
menos cinco anos. Na prática, essas duas medidas resultam em mais aumento
salarial, além daqueles de 33% a 56,3%.
A incorporação desses valores engordará ainda mais as
aposentadorias da categoria, principalmente dos técnicos legislativos, de nível
médio, que dominam a maior parte dos cargos de direção da Câmara e as chefias de
gabinete das lideranças dos partidos. O secretário-geral da Casa, Sérgio
Sampaio, por exemplo, ingressou no órgão como técnico em 1989. Ele tem salário
atual de R$ 32,8 mil brutos. O abate-teto aplicado a seu salário é de apenas R$
1.340, pois a gratificação por exercício de chefia continua fora do cálculo do
teto constitucional, por força de liminar do Tribunal Regional Federal da 1ª
Região.
Nos corredores da Câmara, o comentário é de que o artigo
que cria essas duas benesses deverá ser vetado pela presidente Dilma Rousseff,
caso seja aprovado pelo Senado, por ser inconstitucional. O dispositivo
ressuscita a incorporação de gratificação por chefia e outras vantagens pessoais
que haviam sido extintas na reforma administrativa do governo Fernando Henrique
Cardoso.
Conforme informações obtidas pelo Correio, as benesses
foram incluídas no artigo que reajusta a Gratificação de Atividade Legislativa
de forma a dificultar o veto, pois a presidente não pode abolir apenas parte
dele. Vetando todo o dispositivo, a presidente inviabilizaria parte
significativa do reajuste geral que está sendo feito por meio da elevação da
GAL.
Procurada, a direção da Câmara não se manifestou sobre os
percentuais altos e a criação de novas vantagens pessoais. Informou apenas que
as novas remunerações decorrentes do projeto aprovado incorporam os 15,8%
autorizados pelo Ministério do Planejamento, índice igual ao que foi concedido a
outras carreiras do funcionalismo. O Sindicato dos Servidores do Poder
Legislativo Federal e do Tribunal de Contas da União (Sindilegis) também não
quis comentar os ganhos maiores.
Outras verbas
De acordo com o novo plano, aprovado às pressas e sem
alarde na noite de quarta-feira, o salário inicial bruto dos técnicos, de nível
médio, passará de R$ 10 mil para R$ 13,8 mil e o final, de R$ 14,3 mil para R$
20 mil em três anos. Os vencimentos iniciais dos analistas passam a ser de R$ 20
mil, e o final chega a R$ 26 mil em janeiro de 2015. Foram usados no cálculo dos
reajustes, conforme o plano aprovado, os valores atuais informados pelo portal
da Câmara. No caso dos técnicos, considerou-se a remuneração com que eles
ingressam na carreira na prática, de R$ 10 mil, correspondente a alguns padrões
acima do piso da tabela.
Esses salários não incluem ainda as gratificações para quem
tem cargo de chefia, os adicionais por especialização, como graduação (caso dos
técnicos), pós-graduação, mestrado e doutorado e as vantagens pessoais daqueles
que ingressaram no órgão até meados dos anos 1990. O portal da Câmara informa,
por exemplo, que a remuneração fixa do secretário-geral, técnico de carreira, é
de R$ 20,78 mil, mais R$ 7,3 mil de vantagens pessoais e R$ 4,7 mil de
gratificação pelo exercício da chefia. Além disso, recebe tíquete-alimentação de
R$ 740. Os consultores legislativos, que recebem atualmente entre R$ 26,7 mil
e
R$ 30,2 mil, passarão a embolsar de R$ 30 mil a R$ 34 mil,
além de outros adicionais.
Chiadeira
Apesar dos reajustes generosos, o novo plano de carreira
gerou insatisfação na Câmara porque os maiores percentuais foram destinados aos
técnicos legislativos. E não só para aqueles no início da carreira, que recebem
menos: os que estão no topo também foram contemplados com aumentos generosos,
entre 41% e 53,6%, caso dos padrões 9 e 10, os dois mais elevados.
Os analistas que também estão nesses últimos padrões terão ganho menor, de 33,2% a 40,3%. Além disso, muitos deles, em especial os que estão no meio da carreira e têm função comissionada, estão contabilizando quase nenhum reajuste em 2013, por conta da adequação de padrões e redução do valor de algumas funções comissionadas.
Os analistas que também estão nesses últimos padrões terão ganho menor, de 33,2% a 40,3%. Além disso, muitos deles, em especial os que estão no meio da carreira e têm função comissionada, estão contabilizando quase nenhum reajuste em 2013, por conta da adequação de padrões e redução do valor de algumas funções comissionadas.
O plano de carreira da Câmara foi aprovado na forma de
substitutivo apresentado pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço
Público. A expectativa dos servidores é que seja votado pelo Senado até o fim da
semana que vem para entrar em vigor em janeiro de 2013. Também estão na fila os
projetos de reajuste do pessoal do Senado e do Tribunal de Contas da União (TCU)
— este último também já foi aprovado pela Câmara.
Correndo atrás
Com o novo plano de carreira aprovado na última
quarta-feira, as remunerações dos servidores da Câmara se aproximam daquelas
pagas pelo Senado, órgão que tem os salários mais altos da administração
pública, com valor inicial de R$ 13,8 mil para técnicos e de R$ 18,5 mil para
analistas. Isso também ocorre com o pessoal do Tribunal de Contas da União.
Porém, os funcionários do Senado ainda terão o reajuste médio de 15,8%,
percentual liberado pelo governo federal para quase todas as categorias do
funcionalismo federal a ser aplicado entre 2013 e 2015, na proporção de 5% por
ano.
Bolso cheio
Veja os novos supersalários conforme o plano de carreira
aprovado na quarta-feira.
Valores não incluem as gratificações por função
comissionada, vantagens pessoais e adicionais por especialização
etc.
Analistas (nível superior)
Padrão Hoje Jan/2015 Variação
10 19.522 26.005 33,2%
9 18.109 e 18.566 25.415 36,7% e
40,3%
8 17.257 e 17.677 24.495 38,6% e
41,2%
7 16.848 23.965 42,2%
6 16.084 e 16.848 23.457 39,2% e
45,8%
5 15.370 e 15.715 22.969 46,2% e
49,4%
4 14.706 e 15.030 21.681 44,2% e
47,4%
3 14.387 21.264 47,8%
2 14.084 20.864 48,1%
1 14.084 20.384 44,7%
Técnicos (nível médio)
Padrão Hoje Jan/2015 Variação
10 13.627 a 14.312 20.185 41% a
48,1%
9 12.496 a 13.303 19.191 44,3% a
53,6%
8 12.211 18.121 48,4%
7 11.942 17.303 44,9%
6 11.677 16.554 41,8%
5 11.416 15.869 39%
4 11.170 15.131 35,5%
3 10.756 14.567 35,4%
2 10.364 14.050 35,6%
1 10.007 13.578 35,6%
Fonte: Câmara dos Deputados
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