“Supersalários
são uma distorçã o”, diz juiz federal
Eduardo
Militão
Congresso
em Foco - 21/10/2012
Em entrevista ao Congresso em Foco, presidente da Associação dos Juízes Federais
critica a estrutura salarial do funcionalismo, que permite que alguns servidores
do Judiciário recebam mais que os magistrados
Por incrível que pareça, no distorcido mundo do funcionalismo público brasileira,
nem sempre são as principais autoridades cada poder, como deputados, senadores,
ministros e juízes, os que recebem os maiores salários. Muitas vezes, os donos
das maiores remunerações são barnabés desconhecidos. Para o presidente da
Associação dos Juízes Federais (Ajufe), Nino Toldo, trata-se de uma distorção
absurda, que atrapalha a administração pública.
Os juízes federais, por exemplo, reivindicam um reajusta salarial de 28,7%, mas
hesitam em aprofunda a as reivindicação porque sabem que isso provocaria um
efeito dominó na renda de tantos outros servidores, inclusive de outros poderes.
Um rastilho com efeitos explosivos sobre o orçamento da
União.
“O teto salarial hoje é o alvo de todos os servidores. E isso não tem o menor
cabimento”, reclama Nino Toldo, em entrevista exclusiva ao Congresso em Foco.
Segundo o presidente da Ajufe, essa é algo que provoca duas situações distintas.
Alguns servidores têm salários altíssimos sem nenhuma
justificativa.
E outros estacionam em patamares menores indefinidamente. Tudo porque não há um
plano de carreira estruturado para o funcionalismo público no país. Ele próprio
deverá se tornar desembargador em breve depois de 21 anos como magistrado de
primeira instância, uma das poucas progressões previstas na carreira dos homens
de toga. Isso significa que Nino Toldo, ao final de sua carreira, até agora
ganhou praticamente o mesmo que um juiz recém-aprovado em
concurso.
“Isso precisa ser revisto e pensado, sair desse impasse”, inicia Toldo, ainda sem a
solução precisa. “A gente tem consciência das restrições orçamentárias do
Estado. Juiz não é irresponsável. Ninguém quer supersalário, não. A gente só
quer uma remuneração condigna”, critica.
Para o presidente da Ajufe, por mais eficiente que seja o funcionário, nunca terá as
responsabilidades de um magistrado e nem as restrições dele, como a proibição de
ter atividades comerciais ou atuar como advogado.
Enquanto se queixam de sua situação, os juízes veem servidores ganharem mais que eles
próprios. Isso acontece primeiro porque, como muitas autoridades, eles têm
poucas opções de melhoria na carreira – ou juiz ou desembargador ou, por
indicação de Dilma Rousseff, ministro de algum tribunal superior. Além disso,
autoridades são pagas por subsídios, que geralmente aceitam poucos tipos de
acréscimos, como auxílio-moradia e diárias. Já os funcionários costumam receber
por “penduricalhos”, um batalhão de parcelas que faz o contracheque muitas vezes
ter quatro páginas. Várias delas acabam ficando de fora do cálculo do
teto.
Com esse funil, os juízes falam em “distorções” e “quebra de hierarquia”, típico
jargão das Forças Armadas. A visibilidade de todos os salários na internet
confirmou a suspeita dos magistrados. “A Lei de Acesso à Informação teve o
importante papel de escancarar isso”, contou Nino Toldo. “Sobre a hierarquia, é
ruim quando o magistrado passa a ser o segundo, terceiro, quarto salário dentro
da sua vara”, afirma ele.
O reajuste de 28,7% serviria para recuperar perdas inflacionárias desde 2005. Os
15,8% oferecidos por Dilma são paliativo, diz Nino Toldo. Mas, para fazer isso,
seria preciso também aumentar o subsídio dos ministros do Supremo, considerado
“ridículo”. E o valor do teto subiria junto.
Governo
é culpado por supersalários
Para o secretário da Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal
(Condsef), que representa os funcionários do Poder Executivo, os governos de
Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff são os responsáveis pelos
abusos que existem, como os supersalários. “Se tivesse moralização, isso não
estaria acontecendo”, acusa Josemilton Costa. “Não tem gestão na administração.
Somos contra essa bagunça.”
Para ele, seria preciso definir relações entre os pisos e tetos salariais de cada
carreira. Acertar ainda uma lógica entre a renda de quem tem nível médio e quem
tem curso superior. Mas Josemilton reclama que essa proposta costuma sair das
mesas dos sindicalistas e parar eternamente em gavetas do
governo.
Apesar de ganharem quatro vezes menos que os servidores do Congresso, donos de parte importante dos supersalários, os funcionários do Executivo evitam tocar em
algumas distorções. Josemilton não acha ruim que os funcionários do Senado e da
Câmara recebam mais um reajuste, mesmo sem terem feito um único dia de
greve.
“Não julgamos outras classes de trabalhadores”, afirma ele, dizendo ser correto o
pleito dos servidores do Legislativo. “Se há salários enormes, é porque os
governantes deixaram. Agora a reposição inflacionária tem que ocorrer para todos
os trabalhadores.”
Eduardo
Militão
Congresso
em Foco - 21/10/2012
Em entrevista ao Congresso em Foco, presidente da Associação dos Juízes Federais
critica a estrutura salarial do funcionalismo, que permite que alguns servidores
do Judiciário recebam mais que os magistrados
Por incrível que pareça, no distorcido mundo do funcionalismo público brasileira,
nem sempre são as principais autoridades cada poder, como deputados, senadores,
ministros e juízes, os que recebem os maiores salários. Muitas vezes, os donos
das maiores remunerações são barnabés desconhecidos. Para o presidente da
Associação dos Juízes Federais (Ajufe), Nino Toldo, trata-se de uma distorção
absurda, que atrapalha a administração pública.
Os juízes federais, por exemplo, reivindicam um reajusta salarial de 28,7%, mas
hesitam em aprofunda a as reivindicação porque sabem que isso provocaria um
efeito dominó na renda de tantos outros servidores, inclusive de outros poderes.
Um rastilho com efeitos explosivos sobre o orçamento da
União.
“O teto salarial hoje é o alvo de todos os servidores. E isso não tem o menor
cabimento”, reclama Nino Toldo, em entrevista exclusiva ao Congresso em Foco.
Segundo o presidente da Ajufe, essa é algo que provoca duas situações distintas.
Alguns servidores têm salários altíssimos sem nenhuma
justificativa.
E outros estacionam em patamares menores indefinidamente. Tudo porque não há um
plano de carreira estruturado para o funcionalismo público no país. Ele próprio
deverá se tornar desembargador em breve depois de 21 anos como magistrado de
primeira instância, uma das poucas progressões previstas na carreira dos homens
de toga. Isso significa que Nino Toldo, ao final de sua carreira, até agora
ganhou praticamente o mesmo que um juiz recém-aprovado em
concurso.
“Isso precisa ser revisto e pensado, sair desse impasse”, inicia Toldo, ainda sem a
solução precisa. “A gente tem consciência das restrições orçamentárias do
Estado. Juiz não é irresponsável. Ninguém quer supersalário, não. A gente só
quer uma remuneração condigna”, critica.
Para o presidente da Ajufe, por mais eficiente que seja o funcionário, nunca terá as
responsabilidades de um magistrado e nem as restrições dele, como a proibição de
ter atividades comerciais ou atuar como advogado.
Enquanto se queixam de sua situação, os juízes veem servidores ganharem mais que eles
próprios. Isso acontece primeiro porque, como muitas autoridades, eles têm
poucas opções de melhoria na carreira – ou juiz ou desembargador ou, por
indicação de Dilma Rousseff, ministro de algum tribunal superior. Além disso,
autoridades são pagas por subsídios, que geralmente aceitam poucos tipos de
acréscimos, como auxílio-moradia e diárias. Já os funcionários costumam receber
por “penduricalhos”, um batalhão de parcelas que faz o contracheque muitas vezes
ter quatro páginas. Várias delas acabam ficando de fora do cálculo do
teto.
Com esse funil, os juízes falam em “distorções” e “quebra de hierarquia”, típico
jargão das Forças Armadas. A visibilidade de todos os salários na internet
confirmou a suspeita dos magistrados. “A Lei de Acesso à Informação teve o
importante papel de escancarar isso”, contou Nino Toldo. “Sobre a hierarquia, é
ruim quando o magistrado passa a ser o segundo, terceiro, quarto salário dentro
da sua vara”, afirma ele.
O reajuste de 28,7% serviria para recuperar perdas inflacionárias desde 2005. Os
15,8% oferecidos por Dilma são paliativo, diz Nino Toldo. Mas, para fazer isso,
seria preciso também aumentar o subsídio dos ministros do Supremo, considerado
“ridículo”. E o valor do teto subiria junto.
Governo
é culpado por supersalários
Para o secretário da Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal
(Condsef), que representa os funcionários do Poder Executivo, os governos de
Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff são os responsáveis pelos
abusos que existem, como os supersalários. “Se tivesse moralização, isso não
estaria acontecendo”, acusa Josemilton Costa. “Não tem gestão na administração.
Somos contra essa bagunça.”
Para ele, seria preciso definir relações entre os pisos e tetos salariais de cada
carreira. Acertar ainda uma lógica entre a renda de quem tem nível médio e quem
tem curso superior. Mas Josemilton reclama que essa proposta costuma sair das
mesas dos sindicalistas e parar eternamente em gavetas do
governo.
Apesar de ganharem quatro vezes menos que os servidores do Congresso, donos de parte importante dos supersalários, os funcionários do Executivo evitam tocar em
algumas distorções. Josemilton não acha ruim que os funcionários do Senado e da
Câmara recebam mais um reajuste, mesmo sem terem feito um único dia de
greve.
“Não julgamos outras classes de trabalhadores”, afirma ele, dizendo ser correto o
pleito dos servidores do Legislativo. “Se há salários enormes, é porque os
governantes deixaram. Agora a reposição inflacionária tem que ocorrer para todos
os trabalhadores.”
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