Com receio das greves que algumas categorias de servidores
poderão deflagrar no próximo ano, quando o País sediará a Copa do Mundo e a
presidente Dilma Rousseff disputará a reeleição, o governo converteu em
prioridade a aprovação, pelo Congresso, da regulamentação do direito de greve do
funcionalismo público. Esse direito foi reconhecido pela Constituição de 1988,
que é clara e taxativa ao condicionar seu exercício aos "termos e limites de lei
específica".
A Constituição está em vigor há quase 25 anos, mas essa lei
não foi editada por causa da resistência do funcionalismo público. Os Três
Poderes têm mais de 1 milhão de servidores. O presidente Fernando Henrique
Cardoso tentou, sem sucesso, aprovar essa regulamentação. O governo do
presidente Lula preparou um projeto de regulamentação que, entre outras medidas,
exigia que a deflagração de uma greve no setor público fosse decidida em
assembleias em que estivessem presentes mais de dois terços das categorias
mobilizadas. Apesar de Lula dispor de maioria no Congresso, o projeto foi
engavetado por pressão de centrais sindicais aliadas ao PT.
Há dois anos, em meio a uma onda de greves de servidores
federais, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) apresentou um projeto com o mesmo
objetivo. A proposta prevê o uso de métodos alternativos de solução de
conflitos, como mediação, conciliação e arbitragem. Coíbe o abuso do direito de
greve dos servidores municipais, estaduais e federais. E exige, durante as
greves, a manutenção dos serviços públicos essenciais. No caso dos servidores
que trabalham na área da segurança pública, o projeto prevê a manutenção mínima
de 80% dos serviços.
No caso dos serviços públicos não essenciais, os grevistas
devem manter 50% dos serviços em atividade. Em 2012, porém, senadores do PT,
pressionados pela Central Única dos Trabalhadores, conseguiram que o projeto
fosse submetido à Comissão de Direitos Humanos, cujo presidente - Paulo Paim
(PT-RS) - o engavetou, alegando que a regulamentação de greves de servidores é
incompatível com a democracia.
No final de 2012, depois que algumas categorias de
servidores bem remunerados tentaram parar toda a administração federal, para
pressionar o Executivo por maiores reajustes salariais, a presidente Dilma
Rousseff mobilizou as lideranças do governo para tentar aprovar em 2013 a
regulamentação do direito de greve do funcionalismo. Assim que a iniciativa foi
divulgada, os líderes de várias categorias convocaram o Fórum Nacional
Permanente de Carreiras Típicas do Estado. A entidade, que reúne associações de
servidores das áreas de fiscalização agropecuária e tributária, controladoria,
segurança pública, diplomacia, advocacia e defensoria pública, comércio
exterior, planejamento e Previdência Social, está montando uma estratégia para
deter Dilma.
"Preocupa que, sob o argumento de regulamentar o exercício
da greve, o governo esteja negando um direito constitucional", diz o
vice-presidente do Fórum, Marcos Leôncio Ribeiro. Ele também acusa o Executivo
de "judicializar a questão", ao ameaçar acionar judicialmente os servidores que
paralisarem serviços essenciais. E afirma que a participação do funcionalismo em
greves não pode prejudicar a avaliação de sua produtividade. Há algumas semanas,
centrais sindicais e a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público
anunciaram que sugerirão ao governo que, em vez de regulamentar o exercício da
greve dos servidores, adote a Convenção 151 da Organização Internacional do
Trabalho, que propõe a negociação coletiva no serviço público.
Ao defender o "direito constitucional de fazer greves" de
todas as categorias, inclusive as Forças Armadas, essas entidades estão
exorbitando. No Estado de Direito, o direito de greve não é absoluto. Ao se opor
a toda e qualquer regulamentação do exercício desse direito, o que essas
entidades querem é a continuidade de uma situação em que elas podem cometer
abusos e impor constrangimentos à sociedade, convertendo-a em refém de
interesses corporativos. Essa, sim, é uma pretensão é incompatível com a
democracia
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