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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Estímulo, desânimo e motivação nas carreiras jurídicas

 




Vladimir Passos de FreitasConsultor Jurídico     -     17/02/2013




O ingresso nas carreiras jurídicas torna-se, a cada dia, mais difícil. Poucas
vagas, milhares de candidatos, a lista de pontos vai de Tratados Internacionais
sobre Direitos Humanos até normas administrativas que regulam o uso das células
tronco.


Assim são, atualmente, os concursos públicos. Uma verdadeira corrida de obstáculos.
Quatro, cinco ou mais anos da juventude são dedicados aos estudos, enquanto os
amigos divertem-se nas baladas.


Mas, supondo-se que o final é feliz, que o candidato conseguiu sucesso nesse triatlo
jurídico e que, com justo orgulho, tomou posse no cargo público almejado, resta
saber se terá a tão sonhada felicidade.


No dia da posse todos estão na mesma linha, unidos, solidários, felizes. Porém,
como estarão cinco anos depois? Bom seria que todos pensassem nisto e se
programassem. Disto dependerá seu estado de espírito, sua motivação ou
desalento. E, em síntese da síntese, a felicidade.


Seja qual for a carreira pública, o estímulo é alavanca forte no crescimento das
pessoas, na sua felicidade pessoal, tudo com reflexos positivos no serviço
prestado.


Mas será isto comum?

A resposta é não. Por falta de sensibilidade ou mesmo desinteresse, é raro que a
chefia estimule os subordinados. E isto é fácil e não custa nada. Exemplos. O
Corregedor do Ministério Público elogiar os bons serviços de um Promotor na sua
comarca, um delegado de Polícia Seccional facilitar que jovem delegado faça
mestrado ou o presidente do Tribunal cumprimentar pessoalmente os servidores que
alcançaram uma meta relevante.


Porém, se o estímulo não vem — e esta é a regra — nem por isso o servidor público ou
agente político (juízes e membros do MP) devem ficar a se lamentar. Ao
contrário, além de dedicar-se da mesma forma, não deve repetir o erro. No
pequeno círculo de suas relações pode estimular aqueles com quem convive. Um
cartorário que aprecia as petições de um jovem advogado não deve hesitar em
dizer isto ao profissional. Ele redobrará seus esforços para dar o melhor de
si.


As carreiras públicas, dois ou três anos depois, tendem a cair na rotina. O volume
de serviço é enorme, a produção é massificada e nem sempre existe lugar para a
criatividade. Há uma acomodação natural, por vezes
desapontamento.


Nesta fase, servidores do Judiciário podem entrar em disputa por cargos de chefia ou
funções gratificadas. E daí as considerações sobre o mérito são subjetivas.
Mesclam-se coisas diferentes, como conhecimento jurídico, boa produtividade, com
relações de amizade, vínculos familiares, habilidade no trato ou marketing
pessoal.


Não raramente alguém se sente injustiçado. Às vezes com razão, mas em outras, sem
razão alguma. Nestas situações, o maior erro é exteriorizar revolta e alardear
suas virtudes, pois simplesmente quem escolhe pode pensar de forma diversa. O
fato é que a verdade sempre aparece. Portanto, quem se dedica e tem talento,
cedo ou tarde será reconhecido.


No âmbito das carreiras de Estado as coisas não são diferentes. Suponha-se que um
defensor público sente-se credenciado para participar da banca de concurso de
ingresso na carreira e manifesta sua intenção. Todavia, não é colocado na
comissão. Alguém lhe diz, reservadamente, que foi omitido porque, oriundo de
outro estado, era pouco conhecido.


Como reagir?

Com discrição, obviamente. Primeiro, porque a informação pode não ser verdadeira.
Segundo, porque outros concursos e oportunidades virão. Revoltar-se e ofender os
que julga culpados só servirá para que seja rotulado como um criador de casos e
colocado de lado, esquecido.


Os magistrados passam por uma má fase. A cada dia veem outras carreiras jurídicas
conquistarem direitos que lhes são negados (v.g., o anunciado fim dos 60 dias de
férias alcançarão os membros do MP?). Mas aí não está o pior. O desânimo se
alastra pela perda de prestígio, fruto de condutas reprováveis de uma minoria. A
divulgação dada pela mídia fez com que a sociedade os visse com maus
olhos.


Que fazer?

O primeiro passo é afastar o pessimismo. É um erro incomodar terceiros (v.g.,
advogados ou servidores da secretaria) com lamúrias. Eles simularão uma falsa
solidariedade e sairão cansados daquele rosário de reclamações. O segundo passo
é cumprir as atribuições regularmente, dando de si o melhor. Isto vai gerar, no
mínimo, o respeito no âmbito de suas relações profissionais (p. ex., Vara),
porque a toda ação corresponde uma reação (terceira lei de Newton). O terceiro
passo é aguardar que essa fase negativa passe, pois as carreiras e profissões
têm altos e baixos.


Para evitar a estagnação, o imobilismo ou aquele ranço pessimista que vemos em alguns
profissionais do Direito, o caminho é renovar-se
periodicamente.


Como?

Uma via é a vontade de aprender, de estudar. Se um procurador de Justiça está
cansado de dar pareceres, pode encontrar em um curso de mestrado a renovação que
lhe dará outro ânimo. E não será apenas com o que se aprende, mas também com o
convívio com pessoas interessadas, animadas, cheias de planos e, por vezes, com
rica experiência de outra atividade profissional ou de outra região do
país.


Outra maneira de estimular-se é mudar de atividade. Se um Procurador do Estado há anos
atua nas defesas perante a Justiça do Trabalho, quiçá terá um novo ânimo se
passar a atuar em um Procuradoria de defesa do meio ambiente. Toda mudança de
área significa um desafio e, ainda que seja incômodo sair da zona de conforto em
que se acha, o desafio poderá ser instigante.


Ocupar espaços vazios também pode ser fonte de estímulo. No serviço público sempre
surgem situações novas a exigir voluntários. Por exemplo, no STF há alguns anos
iniciou-se o processo de convocação de juízes para auxiliar, por dois anos, os
ministros. Ocupar uma atividade dessas traz um conhecimento do Judiciário e do
Brasil riquíssimos, com proveito para toda a vida.


Em suma, após tanto sacrifício para assumir uma função pública de destaque, não tem
sentido passar, depois, 30 anos da vida agindo como um burocrata, nem feliz nem
infeliz, apenas cumprindo um papel que o Estado lhe assegura até a velhice. É
preciso mais, muito mais. É preciso que esse papel seja cumprido com alegria,
elevada autoestima e sentimento de utilidade.


O fato de a carreira estar parada, distante a possibilidade de promoção,
inflacionados os vencimentos, ineficiente a cúpula, não deve servir de base a um
amargo cinismo. Olhar as possibilidades existentes, evitar as frases
pessimistas, avançar ainda que enfrentando ventos contrários, é a melhor solução
para a felicidade pessoal e dos que estão mais próximos.


Vladimir Passos de Freitas é desembargador federal aposentado do TRF 4ª Região, onde foi presidente, e professor doutor de Direito Ambiental da PUC-PR

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