Correio Braziliense - 09/11/2012
A Geap, que atende a funcionários públicos federais, está
com rombo de quase R$ 100 milhões e busca ajuda do governo. No Plano Piloto, só
a emergência de um hospital ainda aceita os conveniados. Pelo menos 300 mil
segurados já teriam cancelado contrato.
Fundação que administra planos de saúde de servidores quer
reajuste das mensalidades e ajuda financeira do Ministério do Planejamento
O governo federal acelerou o passo para tentar salvar a
Geap, fundação que administra planos de saúde da maioria dos servidores
públicos. Com rombo próximo de R$ 100 milhões por ano, a entidade pediu
autorização à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para reajustar as
mensalidades cobradas dos associados e requisitou, ao Ministério do
Planejamento, que amplie, de 25% para 30%, a sua parcela nas contribuições, de
forma que os trabalhadores não sintam tanto o peso do aumento. Sem o reforço do
caixa, a Geap corre o risco de sucumbir à crise.
Segundo João Torquato, diretor do Sindicato dos
Trabalhadores Federais em Saúde, Trabalho e Assistência Social no Distrito
Federal, pelo menos 300 mil servidores se desligaram da Geap desde 2009 por
causa do mau atendimento, agravando a situação financeira da entidade. Com a
falta de pagamento à rede de hospitais credenciados, houve cancelamento em massa
dos contratos. Atualmente, no Plano Piloto, região central de Brasília, somente
o Hospital Planalto, da Unimed, aceita os planos de Geap para emergências
gerais. O último estabelecimento do DF a se desligar da empresa foi o
ProntoNorte, que cobra dívidas de R$ 13 milhões.
Na tentativa de minimizar os danos aos beneficiários, a
operadora afirmou que iniciará negociação com o ProntoNorte a partir de
segunda-feira. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Geap informou que
considera as cobranças “pertinentes” e assinalou que a retomada dos pagamento
deve começar em, no máximo, 60 dias. A fundação ressaltou ainda que mantém
contratos com oito hospitais que realizam atendimentos gerais de urgência nas
demais regiões administrativas do DF, e assegurou que conseguiu repor boa parte
dos clientes perdidos nos últimos anos. Estima-se que a fundação tenha hoje 610
mil associados ativos.
Má gestão
A grande preocupação do governo em relação à Geap é o fato
de quase 60% das pessoas atendidas pela empresa terem mais de 60 anos. Ou seja,
dificilmente esse público teria condições de arcar com um plano de saúde privado
se a empresa quebrasse. “Teríamos um grande problema social. Certamente, esse
pessoal passaria a recorrer ao SUS (Sistema Único de Saúde), onerando os cofres
públicos”, disse Denise Elói, presidente da União Nacional das Instituições de
Autogestão em Saúde (Unidas), que vem dando assistência técnica à operadora.
“Felizmente, temos expectativas de recuperação da Geap a médio prazo, desde que
o seu modelo de gestão seja equacionado e as contribuições, revistas”,
frisou.
Ontem, em audiência na Comissão de Seguridade Social da
Câmara dos Deputados, Cida Diogo, diretora da Geap, foi tachativa: sem uma
injeção de recursos, a empresa dificilmente conseguirá se manter de pé. “Se não
for assim, vamos acumular mais dívidas”, afirmou ela. Mas, mesmo que o reforço
de capital ocorra por meio do aumento das mensalidades, uma possível recuperação
só começará a se evidenciar em 2014, na melhor das hipóteses. Diante desse
quadro, o secretário adjunto de gestão do Planejamento, Sérgio Carneiro,
admitiu: “Não podemos fechar os olhos para a realidade. Vamos procurar resolver
da melhor maneira possível (a situação da operadora)”.
Enquanto a ajuda não vem, a ordem, segundo Cida Diogo, é
administrar a penúria. “Estamos com uma auditoria forte na Geap. Daqui para
frente, vamos trabalhar para não perdermos mais dinheiro”, prometeu. O
coordenador do Setor Público da Central Única dos Trabalhadores, Pedro Armengol,
se mostrou cético quanto à capacidade de recuperação da operadora de planos de
saúde dos servidores. “O que temos visto é uma mudança constante de diretoria da
Geap, má administração e constante crise. Portanto, o governo não pode lavar as
mãos e dizer: se virem. É preciso uma intervenção urgente na fundação”,
recomendou.
Para a deputada federal Érika Kokay (PT-DF), todo o
reajuste imposto aos planos de saúde deve ser absorvido pelos órgãos
patrocinadores da Geap — quase 80. Ela assegurou que, neste ano, algumas
mensalidades já subiram 300% e outras correções devem se materializar no próximo
mês.
R$ 36 milhões podem virar pó
Em meio à grave situação financeira na qual está
mergulhada, a Geap pode perder R$ 36 milhões que tem aplicado no Banco BVA. A
instituição financeira está sob intervenção do Banco Central por enfrentar
sérias dificuldades. O dinheiro, que seria suficiente para acertar dívidas com
vários hospitais e, com isso, ampliar rede de atendimento a seus conveniados,
está aplicado em Cédulas de Crédito Bancário (CCB) emitidas pela Bolero
Participações, empresa controlada pelo BVA. Caso o banco não consiga se
recuperar, os recursos virarão pó.
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